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Há um significativo número de escritores açorianos, cuja maturidade literária só veio a ser adquirida com o advento do 25 de Abril de 1974. Exceptuando (por questões de índole etária) Vitorino Nemésio, Natália Correia, Diniz da Luz, Maduro Dias, Eduíno Borges Garcia, Amílcar Goulart, Pe. Coelho de Sousa, Manuel Barbosa, Tomás da Rosa, Pedro da Silveira, Dias de Melo, José de Almeida Pavão, João Afonso, Otília Fraião, Luísa de Mesquita, Cunha de Oliveira (Silva Grelo) e Eduíno de Jesus, todos os restantes
escritores e poetas açorianos (cujas escritas têm a sua génese à volta do suplementarismo cultural de jornais de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta) só produziram (ou estão em vias de produzir) as suas obras maiores após a referida data.
Exemplos disso mesmo são:
I Na poesia e ficção narrativa
Adelaide Baptista, Álamo Oliveira, Almeida Firmino, Ângela Almeida, António Bulcão, Artur Goulart, Artur Veríssimo, Avelina da Silveira, Borges Martins, Carlos Faria, Carlos Tomé, Carlos Tomé, Carlos Wallenstein, Carolina Matos, Cisaltina Martins, Conceição Maciel, Cristóvão de Aguiar, Daniel de Sá, Eduardo Bettencourt Pinto, Eduardo Ferraz da Rosa, Eduardo Jorge Brum, Emanuel Félix, Emanuel Jorge Botelho, Fernando Aires, Fernando Melo, Gabriela Silva, Heitor Aghá Silva, Humberto Moura, Ivo Machado, Jayme Velho (pseudónimo de Rui de Mendonça), João Carlos Fraga, João-Luís de Medeiros, João de Melo, João Teixeira de Medeiros, Joel Neto, José Carlos Tavares de Melo, José Daniel Macide, José Francisco Costa, José Martins Garcia, Judite Jorge, Luís Fagundes Duarte, Madalena Férin, Madalena San-Bento, Manuel Ferreira, Manuel Jorge Lobão, Manuel Machado, Marcolino Candeias, Maria do Céu Brito, Maria da Conceição Maciel Amaral, Maria das Dores Beirão, Maria Eduarda Rosa, Maria de Fátima Borges, Marinho Matos, Maria Luísa Soares, Mário Cabral, Mário Machado Fraião, Natália Almeida, Norberto Ávila, Nuno Álvares Mendonça, Nuno Costa Santos, Octávio Medeiros, Onésimo Teotónio Almeida, Paulo Freitas, Ramiro Dutra, Rui Duarte Rodrigues, Rui Machado, Ruy-Guilherme de Morais, Santos Barros, Sérgio Luís Paixão, Sidónio Bettencourt, Sónia Bettencourt, Urbano Bettencourt, Vasco Pereira da Costa, Victor Rui Dores, entre muitos outros.
E que dizer daqueles escritores luso-descendentes que, sendo de nacionalidade americana e canadiana, escreveram e escrevem sobre as suas raízes açorianas: Alfred Lewis, Art Coelho, Charles Reis Félix, David Oliveira, Don Silva, Erika Vasconcelos, Francis M. Rogers, Frank Gaspar, Frank Sousa, Julian Silva, Katherine Vaz, Rose Peters Emery, Rose Silva King, Thomas Braga, entre outros?
Desenganem-se os que julgam que uma literatura açoriana se faz apenas com os nomes de Antero de Quental, Teófilo Braga, Ernesto Rebelo, Alice Moderno, Florêncio Terra, Rodrigo Guerra, Nunes da Rosa, Manuel Garcia Monteiro, Armando Côrtes- Rodrigues, Roberto de Mesquita e dos já mencionados Vitorino Nemésio e Natália Correia...
II Na investigação
Convirá também não perder de vista aqueles nomes que marcaram e marcam presença na investigação literária, histórica, social, política, científica e religiosa dos Açores e que, de alguma forma, contribuem para dar um “corpo” à literatura açoriana: Álvaro Monjardino, António Machado Pires, António Manuel Frias Martins, Pe. António Rego, António Valdemar, Artur Teodoro de Matos, Avelino de Freitas Meneses, cón. Caetano Tomás, Caetano Valadão Serpa, Carlos Cordeiro, Carlos Enes, Carlos Lobão, Carlos Ramos Silveira, Carlos Reis, Diniz Borges, Eduardo Mayone Dias, Ermelindo Ávila, Fátima Sequeira Dias, Fernando Faria Ribeiro, Ferreira Moreno, cón. Francisco Carmo, Francisco Cota Fagundes, Francisco Ernesto de Oliveira Martins, Francisco Gomes, ten. Francisco José Dias, Frederico Lopes (João Ilhéu), George Monteiro, Gilberta Rocha, Gregory McNab, Heraldo Gregório da Silva, João António Gomes Vieira, João Brum, Jorge Costa Pereira, tenente coronel José Agostinho, José Andrade, José Arlindo Armas
Trigueiros, José Enes, Pe. José Carlos Simplício, José Carlos Teixeira, José do Carmo Francisco, Pe. José Idalmiro Ferreira, José Guilherme Reis Leite, J. M. Bettencourt da Câmara, José Medeiros Ferreira, José Orlando Bretão, Pe. Júlio da Rosa, Liduíno Borba, Luís Arruda, Luís Meneses, Luís da Silva Ribeiro, Manuel Tomás Gaspar da Costa, Manuel Vieira Gaspar, Maria Alice Borba Lopes Dias, Maria da Conceição Vilhena, Maria Margarida Maia Gouveia, Mário de Lemos, Nestor de Sousa, Paulo Meneses, Pedro de Merelim, Ricardo Madruga da Costa, Rosa Goulart, Ruy Galvão de Carvalho, Teixeira Dias, Tomás Duarte, Tony Goulart, Valdemar Mota, Vamberto Freitas, Victor Hugo Forjaz, Yolanda Corsepius, entre outros.
III Veios temáticos
Falar de escritores açorianos é falar dos retroactivos da memória. A memória da ilha é, ainda e sempre, a temática primeira e privilegiada. A memória da infância insular, a emigração, o devir do tempo, o amor, o mar, a terra, a vida, o sonho e a morte são, por isso, os veios temáticos mais constantes na escrita de autores açorianos. Encontra-se, nos seus livros, uma permanente relação dialéctica entre a ilha e o mundo, funcionando a ilha como uma alegoria ou um símbolo do mundo. À boa maneira nemesiana, a ilha é materializada não apenas na sua vertente realista, mas, sobretudo, na sua vertente mítica. E isto porque a ilha é a mãe uterina, simbolizando a constante necessidade de um retorno. Daí que, em maior ou menor grau, todos os escritores açorianos dêem conta da ilha (real e/ou transfigurada) enquanto espaço do vivido, do sentido e do evocado. Por outro lado, há, nas obras de alguns autores açorianos, uma certa concepção anti-clerical (explícita
nalguns autores, implícita noutros). A isso não será indiferente o facto de uma grande parte desses escritores terem passado pelos bancos do Seminário... Há uma geração estigmatizada pelos Dogmas da religião e da instituição militar. E também pelos dogmas da política, já que o Verão (quente) de 1975 fez escorraçar das ilhas alguns desses autores. Por isso mesmo, escrever funcionará como uma forma de catarse e de exorcismo da memória. Por exemplo, a memória dolorosa da Guerra Colonial, de cuja experiência alguns escritores (Álamo Oliveira, Cristóvão de Aguiar, João de Melo, José Martins Garcia, Santos Barros e Urbano Bettencourt) souberam retirar o testemunho literário. Se evolução houve na ficção narrativa açoriana ao longo das últimas três décadas, tal não se verificou apenas a nível de temática, mas sobretudo em termos de processos de escrita. Assim, de um certo neo-realismo ilhado (tardiamente herdado nos anos 50 e 60 por um Dias de Melo), evoluiu-se para um realismo insulado (sobretudo com a geração da “Glacial”), que mais tarde desembocaria nalgumas interessantes experiências do realismo fantástico. Actualmente verifica-se que, a pouco e pouco, os escritores açorianos vão-se deixando de nebulosidades narrativas e optam decisivamente por uma escrita que parte do eu para os outros. Não prescindindo da sua condição insulada, estes autores têm vindo a abrir-se ao enigma do mundo, numa escrita que busca espaços do universal. Este é seguramente um caminho a ser trilhado. Para que a açorianidade literária não se deixe ficar ensimesmada nas ilhas.
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