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Por Adiaspora.com
As Festas do Espírito Santo, iniciadas em Alenquer no
início do sec. XIV pela Rainha Santa Isabel, reverberaram
na alma do povo e proliferaram em Portugal continental até
meados do Sec. 17, altura em que a sua popularidade entrou em
declínio. Contudo, a descoberta dos arquipélagos
da Madeira e Açores rasgaram novos horizontes para Portugal,
abrindo caminho a toda a epopeia dos Descobrimentos. Com os primeiros
povoadores dos Açores veio as então popularíssimas
Festas do Divino Espírito e aqui permaneceriam como afincado
marco religioso-cultural dos ilhéus.
Referindo-se à implantação das Festas do
Espírito Santo nos Açores, escreveu o historiador
faialense, Marcelino Lima:
" ... Na Ilha de Santa Maria já
se realizavam, à data em que governava um dos seus donatários,
Pedro Soares de Sousa; em Angra, por volta de 1492, fazia-se um
império chamado dos Nobres, que tinha uma ermidinha, à
porta da qual se distribuía o bodo."
O arquipélago dos Açores foi sempre palco de grandes
catástrofes naturais e em 1523 uma epidemia vitimou grande
parte da população micaelense. Numa época
em que os cataclismos naturais e doenças eram consideradas
punição Divina pelo comportamento pecaminoso e falta
de devoção do homens, os demais habitantes das ilhas,
amedrontados e sequiosos de alívio para os seus males,
buscaram os favores do Alto junto do Divino Espírito Santo,
com promessas de devoção e partilha dos frutos de
suas colheitas com os mais pobres.. O isolamento e as aflições
a que estas gentes se encontravam expostas - pois além
das doenças e pestes várias, era frequente as erupções
vulcânicas e sismos abalarem as ilhas - fortaleceram e incentivaram
a sua fé e o culto de esperança rapidamente espalhou-se
pelas ilhas.
Nos primeiros tempos os impérios realizavam-se ao ar livre,
sem edifício próprio. Os altares, onde eram colocadas
as insígnias, eram, na maioria, improvisados e os convidados
acomodados sob tendas ou toldes desmontáveis. A Igreja
da Freguesia da Maia e a Igreja da Santa Casa da Misericórdia
em Ponta Delgada são as mais antigas edificações
em cal e pedra consagradas ao Divino Espírito Santo em
S. Miguel.
Com o decorrer dos anos proliferaram as capelas e ermidas do
Divino Espírito Santo e as Irmandades do povo por todo
o arquipélago.
O culto fundamenta-se na Terceira Pessoa da Trindade, o arauto
da Era do Espírito entre os Homens. Findas as eras do Pai
(Antigo Testamento), e a do Filho (Novo Testamento), que, ao ser
baptizado, no Rio Jordão viu descer sobre Ele a Pomba do
Espírito Santo, aguarda a humanidade a luz e paz do Consolador
prometido por Jesus Cristo antes da sua Crucificação.
Toda a simbologia do culto e das Festas revolve à volta
da "Pombinha", símbolo bem visível no
Ceptro, Coroa e Estandarte.
As Festas iniciam no Domingo de Pascoela e prolongam-se ao longo
de sete Domingos, terminando no Domingo de Pentecostes, altura
em que se celebra a iluminação dos apóstolos
de Cristo pelo Divino Espírito Santo para a tarefa evangelizadora
que lhes aguardava. Neste intervalo, sucedem-se as coroações
dos meninos ou imperadores do Espírito Santo e junta-se
o povo no bodo, com os seus saborosos manjares ou pensões,
compostos essencialmente por carne, pão e vinho.
Ao longo dos tempos o povo açoriano enriqueceu as manifestações
exteriores da fé pela introdução nas Festas
de rituais e costumes característicos da cada região,
sendo, as mais ornamentadas as festas da Ilha Terceira. Por todo
lado, desfilam os bezerros enfeitados, carros de bois, flores,
as rainhas em ricas e coloridas vestes, o compasso das bandas,
e abundam as rosquilhas, a alcatra, o pão doce de massa
sovada, e a alegria de todo um povo reunido na fé!
O Espírito Santo povoa todo o arquipélago do Açores,
estas ilhas que deslizam, formosas, como pombas graciosas sobre
o Atlântico. É recordado, a cada instante, na toponímia
dos seus lugares, de suas ruas, nos nomes das suas frágeis
embarcações que desafiam os mares bravios, nos seus
edifícios e templos!
Ao longo dos anos, a diáspora açoriana
tem levado consigo o estandarte da Pomba da Paz para outras terras
além-mar, fazendo chegar o seu milenar apelo de concórdia
e fraternidade entre os homens da terra.
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