Contos de Abelhas


Por: Ferreira Moreno

Conrad Berube (War & Bees, Military Applications of Apiculture) menciona um incidente, deveras intrigante, ocorrido na Irlanda do século VI e relacionado com Santa Gobnat, que teria posto em fuga uma quadrilha de ladrões de gado, atirando contra eles as abelhas das suas colmeias.
Deparei com informação similar no “Funk & Wagnalls Standard Dictionary of Folklore, Mythology & Legend”, donde transcrevo a seguinte passagem: “Santa Gobnait, irlandesa do século sexto, saiu em defesa do seu distrito levando na mão uma pequena colmeia de abelhas, que atacaram os invasores e cegaram-lhes os olhos.”
David Farmer, porém afirma que a santa chamava-se Gobnet e viveu no século quinto.
Era simplesmente uma laboriosa abelheira (apicultora) e como tal é representada em imagens e desenhos de artistas. Consta que Santa Gobnet impediu que uma larápio construísse um castelo na vizinhança. P’ra tal bastou atirar uma bola de pedra pelo desfiladeiro. (Oxford Dictionary of Saints, 1997).
Essa bola de pedra, associada com Santa Gobnet (cuja festa litúrgica ocorre aos 11 de Fevereiro), ainda hoje existe. No entanto, goraram-se todas as minhas expectativas em encontrar qualquer filamento comprovativo, acerca da santa e respectivas versões, nos quatro volumes da mais recente e mais actualizada série “Butler’s Lives of the Saints.”
Um outro incidente, narrado por Berude, afirma que Santa Olga, de origem eslava (Rússia), teria distribuído grandes quantidades de “mead”, (bebida alcoólica feita a base de mel fermentado e água), por ocasião do funeral do filho em 946. P’ró velório foram convidados apenas os inimigos, que Olga imaginava terem sido os cúmplices na morte do filho. Aparentemente, cinco mil anojados ficaram embriagados e foram mortos pelos aliados da santa.
Perante tão incrível conto, recorri novamente à série “Butler’s Live of the Saints”, que oferece versão diferente nos seguintes termos: “Olga, antes da sua conversão ao cristianismo, quando o marido Príncipe Igor Kiev foi assassinado, ela tomou feroz vingança escaldando os assassinos mortalmente e matando centenas doutros partidários.”
É opinião geral, ainda hoje, que Santa Olga foi baptizada em Constantinopla no ano de 957, ou seja, doze anos após a morte do marido Igor, grão-duque de Kiefe. Santa Olga viria a falecer em 969, contando novena anos d’idade. A sua festa litúrgica ocorre ao 11 de Julho, sendo observada com muita devoção entre os russos e os ucranianos.
O supracitado David Farmer afirma que Olga nasceu no ano de 879 e converteu-se no ano de 957, tendo enviado os maiores esforços em introduzir o cristianismo entre seu povo, “que governou após o assassinato do marido, mas primeiramente castigou cruelmente todos os assassinos e cúmplices.”
Berube relata outro incidente que, francamente, considero totalmente absurdo. Diz ele que em 1513, durante o reinado do nosso “venturoso”D. Manuel I (1495 – 1521), “O General Baruiga foi repelido de Tauris em Xantiane pelos Mouros, que das muralhas da cidadela lançaram colmeias de abelhas sobre as suas tropas.”
Se por acaso tal aconteceu, confesso ser novidade (impérvia e impertérrita) adentro dos meus conhecimentos da História de Portugal “d’alguém e d’além mar.” Porém, não é assim tão absurdo acrescentar que existem diversas narrativas de colmeias de abelhas terem sido catapultadas em combates militares, especialmente no passado, embora se diga que as abelhas usadas em tempos modernos, tais como a Guerra Civil Americana e a Primeira Guerra Mundial.
Mais a meu gosto, e com maior curiosidade, apraz-me relatar que ao Norte da Alemanha existe uma cidade chamada Beyenburg, ou seja, a cidade das abelhas. O nome, ou topónimo, advém do facto dum bando de salteadores ter atentado roubar o convento local, mas as valorosas freiras desafiaram os “canalhas”atirando-lhes à cara as abelhas conventuais.
As abelhas são originárias da Europa, Ásia e África, e foram introduzidas nas Américas pelos colonizadores da Espanha e da Inglaterra. Embora o estado norte-americano de Utah tenha a primazia de ser conhecido o “Estado Colmeia”, os estados da Califorlândia, Flórida e Dakota do Sul, são os que fornecem a maior produção de mel de abelhas.

Toquei co’as mãos nas abelhas,
Fiquei com elas picadas.
Hoje em dia as raparigas
São abelhas disfarçadas.

Abelha que vais alta
Porque não me vens trazer
Qualquer coisa que me falta
E que te não sei dizer?

Fui à fonte ver Maria,
Estava lá Isabel;
Isso mesmo é qu’eu queria,
Caiu-me a sopa no mel.

Ontem, palavras de mel
Hoje, um beijo e um abraço.
Tanto fizeste, menina,
Que o melro caiu no laço.