Em Louvor da Abelha


Por: Ferreira Moreno

No seu “Dictionary of the Bible”, edição 1976, John McKenzie escreveu que “a abelha é mencionada na Bíblia apenas quatro vezes, embora o mel seja mencionado mais frequentemente, “Assim, no Livro de Isaías (7: 18) onde se lê: “Naquele dia, Javé assobiará às abelhas”, temos possivelmente uma referência à apicultura. As restantes referências são evidentes referências às abelhas silvestres: “O povo persegui-vos como abelhas” (Deuteronómio 1:44), “Encontrou um enxame de abelhas” (Juízes 14:8), e “Cercaram-me como abelhas” (Salmo 118:12).
Antigamente, as abelhas foram consideradas partenogénicas (do grego parthenos, significando “virgem”, mais afixo génesis), assinalando virgindade e castidade. Igualmente, quando esculpidas nos túmulos, as abelhas assinalavam imortalidade. Mais ainda, elas simbolizavam a vigilância e o zelo das almas cristãs. Uma abelha a voar, representava a alma dando entrada no reino celestial.
A abelha foi adoptada como emblema de Santo Ambrósio e S. Bernardo de Clairavaux, ou Claraval em português. Santo Ambrósio (339 – 397), em obras de arte, é frequentemente representado com uma colmeia. Reza a tradição que, ao tempo do seu nascimento, foi visitado por um enxame de abelhas, preconizando a eloquência que demonstraria mais tarde. É ele o patrono dos apicultores e comerciantes de cera.
S. Bernardo (1090 – 1153) é igualmente considerado padroeiro das abelhas, dos apicultores de cera. Devido à sua eloquência, é universalmente cognonimado “Doctor Mellifluus.”Merece referência, aqui, o episódio conhecido por Lactação da Virgem Maria. Consta que, uma vez, quando S. Bernardo estava ajoelhado a rezar diante duma imagem de Nossa Senhora a amamentar o Menino Jesus, a estátua adquiriu vida e deixou cair umas gotas de leite nos lábios do santo. (Malcolm Day, A Treasury Of Saints, 2002).
Uma moeda do século quinto antes de Cristo, da antiga cidade grega de Éfeso, revela uma abelha-mestra como emblema da cidade e da “Great Mother”, cujas sacerdotisas eram chamadas melissae (abelhas). Uma foto-cópia dessa moeda está patente na página 19 do precioso volume “An Illustrated Encyclopedia of Traditional Symbols”, originariamente publicado em 1978 e reeditado em 1988.
Os gregos da antiguidade tinham em conta que as abelhas forneciam os dotes da eloquência e da canção. O deus Zeus teria nascido numa gruta de abelhas e foram elas que o alimentaram. Os romanos tinham em conta de mau agouro qualquer enxame de abelhas, ao contrário do famoso poeta latino Virgílio (70-19 antes de Cristo), autor da “Eneida”, p’ra quem a abelha representava o “sopro da vida”
A abelha serviu de símbolo de Indra, Krishna e Vishnu, deuses hindus também chamados Madhava (nascidos do néctar). Kama, o deus do amor, na Índia, dispunha duma corda d’arco feita de abelhas. Amitologia egípcia aponta as abelhas terem derivado das lágrimas de Ra, o Deus-sol.
No folclore germânico diz-se que as abelhas foram criadas p’ra fornecer a cera destinada p’rás velas da igreja, e no folclore bretão lê-se que as abelhas provêm das lágrimas de Cristo derramadas na Cruz. Em muitas localidades da Europa. Bem como em várias secções rurais dos Estados Unidos, há quem acredite que se deve informar as abelhas quando alguém morre em casa. No caso de não se cumprir esta incumbência, as abelhas ou não sairão da residência, ou não produzirão mel, ou acabarão por morrer.
Sonhar com um enxame de abelhas pousando num edifício é sinal de desgraça, mas sonhar com abelhas a fazer mel é sinal de dinheiro. Sonhar com uma ferroada d’abelha é sinal que gente amiga vai nos atraiçoar. É sinal que vamos ter visitas quando uma abelha boa adentro das nossas casas. Se a abelha entra e sai, é sinal de felicidade. Se a abelha morre dentro de casa, temos desgraça (mais cedo ou mais tarde). Tempo houve em que as “picadas”das abelhas foram consideradas boa medicina, sobretudo no tratamento do reumatismo, artrite e nevrite.
Passando agora ao nosso adagiário, eis umas ligeiras amostras:
Da mesma flor a abelha tira o mel e a vespa o fel. Boca de mel, coração de fel. Abelhas e ovelhas têm as suas defesas. Ano de ovelhas, ano de abelhas. De Deus vem o bem e das abelhas o mel. Deus não queira nas minhas colmeias abelhas que não comam mel. Diz a abelha senão a quem trata com ela. Quando chupa a abelha, mel torna. O rei das abelhas não tem aguilhão. Passar o mel pelos beiços, dez-réis de mel coado.
Finalmente – O mel é doce, mas a abelha pica!