Açoriano Martirizado no Japão


Por: Ferreira Moreno


P. Joannes Baptista Macciadus

Em 1622 o Papa Gregório XV o primeiro pontífice educado pelos Jesuítas, teve a oportunidade em canonizar, simultaneamente, quatro cidadãos espanhóis: Inácio de Loyola (1491-1556), Francisco Xavier (1506-52), Teresa de Ávila (1515-82), e Isidro Lavrador (1080-1130).
Deve-se a Francisco Xavier (padre jesuíta) a introdução do Cristianismo em terras do Japão, onde evangelizou desde Agosto de 1549. Elevava-se a três mil o número de católicos japoneses, quando Xavier se despediu do Japão e embarcou numa nau portuguesa, que, ao tempo, estava ancorada em Funai. A bordo da nau encontrava-se Fernão Mendes Pinto (1510-83), cujas crónicas das suas fantásticas viagens foram, postumamente, publicadas em Livro (1614) ao título “Peregrinação”.
Revestem-se de grande curiosidade os capítulos dedicados ao “bem-aventurado padre mestre Francisco”, mas mais curioso ainda o facto de Fernão Mendes Pinto ter ingressado, um dia, na Companhia de Jesus donde sairia, mais tarde, por razões desconhecidas.
Prosperam, no entretanto, as pequenas comunidades cristãs estabelecidas por S. Francisco Xavier. Nos anos 1580 era de duzentos mil o número de convertidos. Nos anos 1590 os franciscanos, agostinianos e dominicanos entraram a missionar de parceria com os jesuítas. Foi então, que, da parte do governo nipónico, surgiu a suspeita que os missionários estavam a preparar a conquista do Japão a favor dos países europeus. Ficou proibida a expansão do Cristianismo, seguindo-se uma série intermitente de perseguições iniciada em 1597 com a crucificação de 26 mártires. Em 1614 foi decretada a expulsão dos missionários e a abjuração dos convertidos.
A violência das perseguições continuou entre 1617 a 1632, com um total de mártires que ultrapassou duas centenas, incluindo padres e religiosos, leigos de ambos os sexos, jovens e crianças, quer estrangeiro quer japoneses. Entre os portugueses martirizados, tenciono destacar o açoriano João Baptista Machado.
Natural de Angra, Ilha Terceira, onde nasceu em 1582, entrou como noviço na Companhia de Jesus em Coimbra aos 16 anos de idade, partindo para Índia em 1601. Em Goa perfez o Curso de Filosofia e concluindo o Curso de Teologia em Macau, onde recebeu a ordenação sacerdotal. Em 1609 seguiu para o Japão, estudando primeiramente a língua japonesa num Colégio Jesuíta local, após o que se entregou totalmente a pregação do Evangelho e intensa vida missionária.
Apesar da perseguição que, anos depois começou a alastrar, João Baptista Machado (embora disfarçado) continuou no seu ministério sacerdotal até ser descoberto e preso em Abril de 1617. No mês seguinte, aos 22 de Maio, Domingo de Santíssima Trindade, recebeu a palma do martírio, sendo-lhe decepada a cabeça. Ao tempo, contava 35 anos de idade.
António Cordeiro (1641-1722), padre jesuíta natural da ilha Terceira e autor da “História Insulana” publicada em 1717, dedicou ao seu compatrício e colega o capítulo 44 do Livro VI, adicionando igualmente a genealogia do “Invicto Mártir”
Considero admirável o entusiasmo demonstrado por António Cordeiro no seu apelo em não retardar toda as diligências a fim de obter a canonização de João Baptista Machado.
A tal respeito, Cordeiro escreveu: “E ainda que necessária e santamente se costuma gastar muito na canonização dum Santo para se executar com a devida decência e culto, não deve isto obstar a uma ilha Terceira que, sem pedir a outrem coisa alguma, pode por si só fazer por tal causa os tais gastos.”
Convém notar que, aos 7 de Maio de 1867, juntamente com outros 204 mártires, o Padre João Baptista Machado foi beatificado pelo Papa Pio IX. Porém, não se concretizou ainda a causa da sua canonização, embora tenha havido uma campanha nesse sentido nos últimos decénios do século passado. Ao redigir esta crónica, chegou-me ao conhecimento que tal campanha vai ser reencetada p’ra maior glória do Beato João Baptista Machado, que o saudoso Dr. Luís da Silva Ribeiro (1822-1955) apelidou como patrono dos emigrantes, “aquele que foi, pelo espírito, o maior dos açorianos.”
Quero aqui recordar ter sido o Papa João XXIII quem, aos 27 de Janeiro de 1962, declarou o Beato Machado como Padroeiro Principal da Dioceses dos Açores.
Pros leitores interessados na recolha de informações mais valiosas e extensivas, recomendo a leitura do livro “Beato João Baptista Machado de Távora”da autoria do meu amigo professor Monsenhor José Machado Lourenço, bem como o livro “João Baptista Machado, Mártir & Glória dos Açores”que o meu bom amigo Valdemar Mota publicou em 1985.