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Por: Ferreira Moreno
O ilustre Dr. Urbano de Mendonça Dias
(1878 – 1951), no primeiro volume (1944) da sua valiosíssima
série “A vida de Nossos Avós”, recordou
que assim quando os nossos Avós escolhiam sítio
p’ra se estabelecerem, “indagavam-se logo das possibilidades
da água, e era em geral nas proximidades dum ribeiro ou
duma nascente, que eles faziam o seu povoado.”
Por sua vez, o saudoso Dr. Carreiro da Costa (1913 – 1981),
na longa e preciosíssima série radiofónica
“Tradições, Costumes & Turismo”,
apontou que os primeiros povoadores das ilhas teriam utilizado
as águas, que corriam pelas ribeiras ou jorravam das nascentes
mais próximas do litoral.
Depois, à medida que a penetração se foi
fazendo, ter-se-ia recorrido às águas, que corriam
pelas ribeiras ou jorravam das nascentes mais próximas
dos litoral.
Depois, à medida que a penetração se foi
fazendo, ter-se-ia recorrido às águas, ao longo
de cujos cursos seguiriam os primeiros exploradores.
Seguidamente, com o estabelecimento de novos povoados, verificou-se
uma determinada carência de água nessas localidades,
visto ser impraticável o abastecimento directo das nascentes,
bem como serem muito dispendiosas a condução e a
distribuição das respectivas águas. Por isso,
deu-se início à abertura de poços e cisternas.
Mais tarde, conforme a riqueza do lugar e em contrapartida com
as facilidades e exigências locais, procedeu-se à
canalização das águas da ribeira ou da nascente,
mais próximas do povoado, onde então se levantava
um fontanário, um chafariz ou uma bica de pedra.
Incumbia aos municípios velar pela condução
das águas, transitando a mesma obrigação
p’ra um empregado próprio chamado “agueiro”,
antigamente, o agueiro era um empreiteiro que, em hasta pública,
arrematava por um ano, e por determinada quantia que oferecia,
a manutenção e conserto do encanamento da água.
Posteriormente, e ainda no meu tempo de criança, o agueiro
passou a ser um funcionário camarário com salário
certo.
Lembro-me, por exemplo, dum vizinho alcunhado o “Agueiro”
precisamente por exercer tal profissão. Ainda que vagamente,
também me lembro de ouvir falar dos “aguadeiros”,
ou seja, aqueles indivíduos que se ocupavam de levar às
casas dos particulares a água p’ra uso doméstico.
De manhã até a noite, os aguadeiros percorriam as
ruas apregoando a água, recolhida nas fontes públicas
e vazada em potes e barris, que acarretavam ás costas,
ou em carrocinhas ou ainda na albarda de jumentos. Claro que os
fregueses pagavam por “conta e medida”, ou seja, o
preço variava consoante a carestia da vida, até
o dia em que o ofício de aguadeiro desapareceu, “quando
a senhora Câmara trouxe em canos a fartura de água.”
A água “aparece”nos mais diversos e curiosos
adágios populares, e bem assim em expressões coloquiais,
tais como, “Carga d’água; Claro como a água;
Dar água pela barba; Ficar em águas de bacalhau;
Ir por água abaixo; Levar a água ao seu moinho;
Pescar em águas turvas e Trazer água no bico.”
De facto, temos água p’ra tudo, desde a água-benta
à agua-ardente, da água-pé à água-rosada,
da água-mel à água-doce à água-salgada,
da água-mineral à água-férrea, não
esquecendo as águas-furtadas e a água-de-colónia.
Ó águas que vais correndo
Por esses campos em fora;
Vai dizer ao meu amor:
Quem ama, suspira e chora.
Ó água que vais correndo,
Verdes prados vais regando:
Compadeça-se, menina,
Do seu amor qu’ está chorando!
Ó água que regas os vales,
Não sejas tão corredia;
Já não há amores agora
Com’os os havia algum dia!
Fui-me deitar a dormir
Á beira da água que corre,
E a água me respondeu:
Quem tem amores não dorme.
Eu comparo o meu penar
Com a água do cachão;
A água não tem sossego,
Assim está meu coração.
Ó serra deita cá água
Por ser um canal de marfim;
Quero regar uma rosa
Que tenho no meu jardim.
A água corre p’ró rio,
O fumo sobe p’ró céu;
Eu corro p’ró meu amor,
Que nenhum é c’mo meu!
Ribeira grande, nas águas levas
O meu bem, que tanto adoro;
Se levas águas de mais
São lágrimas qu’eu choro!
Ribeira que vais p’ró mar
E passas p’lo bem que adoro,
Lava nas águas correntes
Estas lágrimas qu’eu choro!
A água quanto mais fresca,
Mais depressa tira a sede;
O amor, quanto mais firme,
Mais depressa cai na rede.
Água clara, cristalina,
Vai correndo pelo chão;
Quem me dera dessa água
Beber p’la tua mão.
Toda moça que é bonita
Mais lhe valia morrer;
É como a água da fonte,
Do centro da terra nasce,
Água clara sem ter lodo;
Por mais martírios que passe,
Ninguém sabe por quem morro.
A laranja foi à fonte,
O limão foi atrás dela;
A laranja colheu água,
O limão ficou sem ela.
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