Alergias e Adágios


Por Ferreira Moreno

Há quem favoreça a noção de que a Primavera constitui a estação mais benéfica e ideal p'rós poetas. Mas uma análise mais realista dos factos indica que o advento da primavera marca a quaresma das alergias. Aparentemente, é esta a quadra do ano em que mais se faz sentir a influência daquela miserável maladia chamada HAY FEVER.

O cenário repete-se por toda a parte, com tanta gente de olhos escabechados e de nariz arrebitado c'má malagueta, sofrendo sniffles e wheezes numa contínua explosão de espirros e ataques asmáticos, que é mesmo uma autêntica dor d'alma.

Tudo isto - e não só - resulta da presença do polén produzido por árvores e ervas, com suas filamentosas florzinhas, espalhando alergias a torto e a direito!

Não há cura fácil e instantânea p'ra esta doença, tão antiga como impertinente, mais conhecida por hay fever, que nada tem a ver com febre (fever) e muito menos com feno (hay). Consta-me que este "malzinho" recebeu tal nome no princípio do século XIX, visto ter surgido com extraordinária frequência durante a colheita do feno na Inglaterra.

É, pois, agora a temporada do ano em que se registam mais consultas médicas e as farmácias dispensam mais receitas (prescriptions). Claro que "remédio caro faz sempre bem, se não ao doente, ao boticário." Aliás, "vale mais uma onça de cautela do que uma arroba de botica." Igualmente, "cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a doentes."

E se "com malvas e água fria faz-se um dia", devemos lembrar-nos sempre que "o vinagre e o limão são meio cirurgião!"

Certamente que as alegrias não advêm com o nosso nascimento; no entanto, há pessoas que parecem possuir uma predisposição p'ra apanhar alergias…

A fim de combater estes malzinhos existem muitos remédios. Podem eles não resultar numa cura total, mas ao menos servem p'ra dar uns alívios aos doentes. Deve, porém, haver muito cuidado COMO e QUANDO tomar tais remédios, pois que alguns deles causam tonturas e secam a garganta. Há casos bastante sérios em que os doutores se vêem forçados a dar injecções de cortisona.

Como medida de prevenção, p'ra manter a saúde, não há nada melhor do que seguir a sabedoria popular, que aconselha: "Uma cama de frade e mesa de pobre; terás saúde que farte e alegria que sobre." Ou então, "come caldo, vive em alto, anda quente, viverás longamente."

Em termos científicos recomenda-se, igualmente, a immunotherapy através do uso de injecções (allergy shots), a que o doente se deve submeter, uma ou duas vezes por semana e durante vários meses, o que nem sempre produz resultados eficazes, acarretando em troca despesa e perca de tempo.

E aqui temos o adágio: "Deita-te a enfermar; saberás quem te quer bem e quem te quer mal." Lembro ainda aqueloutro adágio, que diz: "De longos sonos e grandes ceias, estão as sepulturas cheias." E bom será evitar "comidas apimentadas, porque fazem borbulhas ás carradas."

Consequentemente, seja-me permitido recomendar, aqui e agora, um remédio caseiro e popular nas nossas ilhas. Trata-se de o RAPÉ…e já me explico.

Embora soe algo ridículo, o certo é que o uso do tabaco de cheirar tem as suas virtudes terapêuticas, como ficou provado no caso concreto dum militar inglês, o brigadeiro Robert Priest. Tinha ele por costume requerer férias durante a primavera p'ra gozar três semanas a navegar num barco de vela, a fim de desfrutar uns alívios dos ataques anuais de asma, de que sofria. Eventualmente, ele descobriu que "cheirando rapé" era e foi a solução ideal.

Portanto, mais vale andar por aí com um lenço escuro-amarelo, do que andar choramingando numa lástima interminável de sniffles e wheezes!

Diz o nosso povo, e com razão, que "a doença vem a cavalo e vai a pé", acrescentando ainda que "enquanto há saúde, quedos estão do nosso povo - e que me perdoem os leitores mais timoratos - a seguinte expressão caseira: "Pés quente, cabeça fria e boa urina, merda p'rá medicina. " O que equivale a dizer: "Quem bem urina, escusa medicina", dando assim razão ao adágio popular, que avisa e previna: " Fora de horas urinar, é sinal de enfermar."

E termino relembrando que "mais vale um pé que duas muletas; mais vale estragar sapatos que lençóis; mais vale suar que enfermar, e mais vale suar que enfermar, e mais vale prevenir que remediar."

E quem quizer comer arroz sem sal, vá p'ró hospital!