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Por: Ferreira Moreno
Já aqui me entreti a falar da presença
de Sant’Ana em Santa Maria e S. Miguel. Tenciono percorrer
agora as restantes ilhas açorianas. Antes, porém,
seja-me permitido reavivar uma lembrança entrelaçada
com a minha vivência juvenil na Ribeira Grande. Evidentemente,
refiro-me à ermida e campo de Santana.
A ermida de Sant’Ana, encravada a propriedade de Manuel
António de Frias Coutinho, de há muito que pertence
à paróquia do Bom Jesus de Rabo do Peixe. Desconhece-se
a época da sua fundação ou reedificação,
sabendo-se apenas que a manutenção e reparação
foram da inteira responsabilidade dos habitantes e veraneantes
do lugar de Santana.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a ermida serviu
de capela militar à unidade da Força Aérea
Portuguesa, ao tempo aquartelada no célebre Aérovacas.
Este campo de aviação, o primeiro que existiu em
S. Miguel, dispunha de duas modestas pistas arrelvadas (uma 1150
metros e a outra de 1000 metros). Em 1946 passou p’rá
Aeronáutica civil, recebendo o nome de Aeroporto de Santana.
A exploração comercial das ligações
aéreas inter-ilhas (S. Miguel, Santa Maria e Terceira)
ficou à conta da SATA (Sociedade Açoriana de Transportes
Aéreos).
Foi em Agosto do já distante ano de 1955 que, em Santana,
a bordo duma avioneta “Dove” da SATA, acenei adeus
a S. Miguel ruma a Santa Maria, a fim de embarcar num quadrimotor
da PAN-AM com destino aos Estados Unidos. O Campo de Santana ficou
encerrado após a inauguração do Aeroporto
da Nordela, em Ponta Delgada, em 1969.
Minha Senhora Sant’Ana
As costas te vou voltando;
Se a minha boca vai rindo,
Meu coração vai chorando.
Minha Senhora Sant’Ana,
Inda cá hei-de regressar;
Há-de ser p’ra semana,
Na Dove da Sata a avoar.
Na Ilha Terceira, a primeira ermida que ali se
construiu foi dedicada a Sant’Ana no lugar chamado Portalegre
(S. Sebastião). A ela se refere Gaspar Frutuoso no Livro
VI das “Saudades da Terra”, página 10, edição
1998. De igual modo, temos o testemunho de Francisco Ferreira
Drumond (1796-1858), nas páginas 34-35 do primeiro volume
dos “Anais da Ilha Terceira”, o Padre Alfredo Lucas
(1911-1980) atesta que remonta ao ano de 1454 a data da edificação
dessa ermida, que teria sido reedificada posteriormente. Embora
de feição modesta, salienta-se a sua vistosa fachada,
e enquadra-se numa localidade deveras panorâmica.
NA Ilha Graciosa, nas faldas da Serra das Fontes, sita no lugar
da Lagoa (Vila da Praia), avista-se a ermida de Sant’Ana,
fundada pelo Capitão-mor Sebastião Correia da Silva
conforme o testemunho de António Borges do Canto Moniz
(A Ilha Graciosa, Descrição Histórica &
Topográfica, Edição 1883). O Padre Vital
Cordeiro Dias Pereira escreveu ter sido a ermida construída
em meados da primeira metade do século 18. Ao centro da
capela preside a imagem de Sant’Ana, com a Virgem Maria
ao colo, ladeada pelas imagens de S. Joaquim e de S. José.
(Igrejas & Ermidas da Graciosa, Edição 1986).
Em S. Jorge, ao norte da Vila das Velas, um pouco no interior
da ilha, em terreno elevado, topamos com a freguesia da Beira
cuja igreja paroquial é da invocação de Sant’Ana.
A primitiva construção remonta ao século
17, tendo sido reconstruído no século passado após
o sismo de 1964.
Na Ilha do Pico, Sant’Ana é venerada na freguesia
de Santo António, onde se levantou uma mimosa ermida no
século 17, que viria a ser reconstruída em 1899.
Atravessando o Canal chega-se à Ilha do Faial, e caminhando
p’ra freguesia do Capelo ali temos, a nossa espera, a Senhora
Sant’ Ana na sua igrejinha reconstruída anos após
ter sido danificada pela erupção vulcânica
ocorrida em 1672. (Arquivo dos Açores. Volume IX, Página
425) Aparentemente seria substituída mais tarde por outro
edifício edificado por António da Cunha e Silveira,
nomeado capitão-mor do Faial em 1701. (Marcelino Lima,
Anais do Município da Horta, Edição 1943).
Destruída por um incêndio em meados do século
19, ressurgiria no mesmo local com nova aparência.
No que diz respeito à Ilha das Flores, achei curiosa a
alusão feita por Frutuoso;
“A freguesia de São de Ponta Delgada tem anexa uma
ermida de Sant’Ana (Saudades, Livro VI. Pág 130 Ed.
1998). No entanto, através das informações
de Frei Diogo das Chagas (1575-1667) e do Padre José António
Camões (1777-1827) ambos naturais das Flores, cheguei à
conclusão que as honras de titular da citada ermida são
um “exclusivo”do popular Santo Amaro.
Ó Ana da minh’alma,
Meu torrãozinho de prata,
Tua presença faz bem,
A tua ausência me mata.
Ana meu lindo anjo,
Ramalhete do altar;
Nunca pus nem hei-de pôr,
Outro amor no teu lugar.
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