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Por: Ferreira Moreno
No vigésimo capítulo do seu Evangelho,
o evangelista S. João escreveu que “no primeiro dia
da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus bem de
madrugada, quando ainda estava escuro. Ela viu que a pedra tinha
sido retirada do túmulo”.
Em conformidade com a narrativa evangélica, Maria Madalena
não se preocupou em inspeccionar o interior do túmulo,
mas simplesmente resignou-se a ideia de que o túmulo estava
vazio. Tanto assim que, apressadamente, ela dirigiu-se p’rá
residência onde se encontravam seus discípulos, a
fim de contar-lhes o que tinha testemunhado. Imediatamente, Pedro
e João correram p’ró túmulo. Quando
chegaram ao sítio, entraram no túmulo e depararam
com os panos de linho estendidos no chão “mas o sudário,
que tinha sido usado para cobrir a cabeça de Jesus, estava
enrolado num lugar à parte”.
Consequentemente, Pedro e João apenas viram os linhos e
o sudário. A narrativa evangélica não especifica
se isto constituiu motivo suficiente p’ra reanimar a fé
de Pedro, mas aponta claramente que João reagiu de forma
extraordinária. No momento preciso em que ele notou que
o sudário (usado p’ra cobrir a cabeça de Jesus)
estava enrolado num lugar à parte, João acreditou
de imediato que Jesus tinha ressuscitado.
E já me explico, com base numa síntese apresentada
pelo Padre Richard Veras na revista “Magnificat” (Semana
Santa 2006).
Aparentemente, Jesus e João, além de companheiros
eram bons amigos. Nas suas jornadas, de localidade em localidade,
os apóstolos não tinham à sua disposição
quartos particulares. Descansavam e dormiam no mesmo quarto, ou
juntamente fora de portas. Presumivelmente, João dormia
perto de Jesus e apercebeu-se certamente da maneira como Jesus
ao levantar-se enrolava a sua roupa, bem como é provável
que Jesus tivesse aprendido da sua mãe a cuidar da roupa,
bem como é provável que João procurasse imitá-lo.
Esta teoria é deveras curiosa, mas inteiramente aceitável.
No que se refere ao discípulo joão, o caso do “sudário
enrolado num lugar à parte” constitui um pormenor
de particular importância, ele é o único evangelista
que menciona tal coincidência.
Portanto, não há entrave em admitir que João
jamais havia olvidado esse detalhe. Ali e agora, à vista
de Joào, encontrava-se o sudário enrolado exactamente
no mesmo jeito que Jesus usava ao enrolar a sua roupa. Não
havia, pois, motivo p’ra dúvidas. E João acreditou,
com firmeza, na intervenção de Jesus ressuscitado.
Talvez o próprio Jesus elaborou o episódio do sudário
p’ra benefício do mesmo João.
Afirmam os Evangelhos que Judas atraiçoou Jesus e que Pedro
negou conhecer Jesus. João no entanto, permaneceu leal
até o derradeiro momento, seguindo Jesus pr’ó
Calvário. Foi ele a quem Jesus confiou cuidar da sua mãe
Maria.
Podemos presumir que Maria teria muita afeição por
João, mantendo com ele um convívio bastante familiar.
Igualmente podemos crer que João partilhou com Maria a
cena do sudário no túmulo, e segredou-lhe: “A
roupa estava enrolada da maneira que lhe ensinastes”.
No entretanto, prosseguindo a leitura da narrativa evangélica
de João, somos informados que Maria Madalena havia regressado
ao túmulo. Foi então que lhe apareceu Jesus ressuscitado.
Ao descrever o primeiro domingo pascal, só nos resta concluir
que Maria (a Mãe de Jesus) João, (o discípulo
amado), e Maria Madalena (a pecadora arrependida), os três
que permaneceram junto à cruz de Jesus, foram os primeiros
que receberam e acreditaram a proclamação da Ressurreição.
Cinco letras tem Maria,
Cinco letras tem Jesus.
Tantas luzes p’rá Vida
Quantos cravos p’rá Cruz.
Está bem certo, Maria
Seu filho chamar Jesus
Pois mais dia, menos dia,
Terá também sua cruz.
Numa coisa, pelo menos,
Me pareço com Jesus:
A dor traz-me nos seus braços
E Ele esteve nos da Cruz.
Hoje em dia de Aleluia,
Festa da Ressureição,
Dentro d’alma ainda sinto:
Sexta-feira da Paixão.
Mesmo se a Ventura enche
De festas meu coração
Sinto nele como sempre:
Sexta-feira da Paixão.
A Saudade p’ra viver
Requer uma condição:
Ser plantada p’la ausência,
Na terra do coração.
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