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Por: Ferreira Moreno
O saudoso investigador e escritor terceirense
Augusto Gomes, falecido em Novembro do ano passado, deixou dito
no seu livro “Cozinha Tradicional da Ilha de São
Miguel” que o período compreendido entre os séculos
17 e 19 “ficou conhecido na história de S. Miguel
como o ciclo dos citrinos, alcançando o seu apogeu em 1872.”
A larga exportação que se fazia de citrinos, principalmente
laranja, pr’á Inglaterra, “representou um factor
de franco progresso social e material, influenciando sobremaneira
a cultura micaelense a criar na sociedade daquele tempo requintados
hábitos de gosto e conforto.”
Neste momento, ao falar da laranja, relampejou-me na memória
a visão daquele quadro “Emigrantes”, do pintor
micaelense Domingos Rebelo, onde é visível uma cestinha
de laranjas fazendo companhia à tradicional guitarra de
dois corações. E não resisto à tentação
em revelar que o Morgado Manuel de Medeiros da Costa Canto e Albuquerque,
como prémio dos seus serviços à causa liberal,
foi investido com o sugestivo título de Barão das
Laranjeiras.
Estou, porém, a desviar-me do rumo proposto p’ra
crónica. Como acima ficou dito, o ciclo da laranja atingiu
o seu apogeu em 1872. Ora aconteceu que pouco depois, precisamente
em 1873, emigrava p’rá Califorlândia uma baiana
aventureira.”
Trata-se do caso dum missionário protestante, a trabalhar
no estado brasileiro da Bahia, que estacas duma laranjeira p’ró
Departamento de Agricultura em Washington Por sua vez, um funcionário
do citado departamento remeteu um par de estacas a casal de amigo,
Luther e Eliza Tibbets, que se havia estabelecido com outros pioneiros
na recém-fundada (1870) e cidade de Riverside, ao sul da
Califorlândia uma “baiana aventureira.”
Trata-se do caso dum missionário protestante, a trabalhar
no estado brasileiro da Bahia, que enviou estacas duma laranjeira
p’ró Departamento de Agricultura em Washington, D.
C. , ou seja, District of Columbia p’ra distinguir do Estado
de Washington. Por sua vez, um funcionário do citado departamento
remeteu um par de estacas a um casal amigo, Luther e Eliza Tibbets,
que se havia estabelecido com outros pioneiros na recém-fundada
(1870) cidade de Riverside, ao sul da Califorlândia.
Era um tipo de laranja nunca visto nos Estados Unidos e que, de
imediato, alcançou uma popularidade extraordinária.
Além de saborosíssima, apresentava-se toda redondinha,
muito doirada e totalmente sem pevides. Mais ainda, trazia o fascínio
de exibir um autêntico “umbigo” no lado oposto
à respectiva haste.
O seu cultivo na Califorlândia transformou-se num dos maiores
romances do espírito empreendedor norte-americano, pois
que o parzinho de baianas aventureiras, que aqui chegou em 1873,
marcou o início duma indústria que agora dispensa
à Califorlândia milhões de dólares
anualmente.
Não sei se Adão e Eva estavam devidamente “equipados”
com umbigos. Apenas posso testemunhar que, aqui à volta,
temos laranjas com umbigos bem vistosos. E a Califorlândia
continua na dianteira da sua produção em todos os
estados dos Estados Unidos, embora haja quem ainda teime em chama-las
“Washington Navel.” Melhor seria cognominá-la
simplesmente “baiana!”
Estas “navel oranges” (laranjas de umbigo) amadurecem
de Novembro a Maio, enquanto as outras chamas “Valencia
oranges” amadurecem de Abril a Novembro. Temos, portanto,
laranjas todo o ano. Viva a fartura e haja saúde!
A laranja quando nasce,
Logo nasce redondinha;
Também tu quando nasceste,
Foi logo p’ra seres minha.
Atirei a laranja
Á torrinha de Lalém;
Deu no cravo, deu na rosa,
Deu no peito do meu bem.
Tu não queiras ombrear
Cá comigo, tio João;
Pois eu sou fruta do ar,
E tu laranja do chão.
Que cantiga atrapalhada,
Vai deitando cantadeira!
Toma água destilada
Das flores da laranjeira.
Apesar da esperteza
Tu comigo nada arranjas;
Pois não caio com certeza
Nessas cascas de laranja.
Deste-me duas laranjas
Em sinal do teu amor;
Guardei-as numa gaveta,
Cobriram-se de bolor.
A laranja, que tu me deste,
Apodreceu a metade;
Ensinaste-me a mentir,
Não sei falar com verdade.
Altos muros, baixas sombras,
Laranjais com suas ramas;
Não deixes d’amar quem amas
As folhas da laranjeira
São levadas p’lo vento;
Só a mim ninguém me leva
Onde vai o meu pensamento.
Dentro do meu peito tenho
Uma laranja partida,
P’ra dar ao meu amor
Que vem de beiça caída.
Botei a laranja no vinho,
A banana na aguardente;
Não te faças mais qu’eu,
Que não vens de melhor gente.
Atirei c’uma laranja
Á mocinha da janela;
Ela me chamou doidinho,
Mais doidinha anda ela.
Botei a laranja ao ar,
Caiu no chão junto a ti;
Ande eu lá por onde andar,
Nunca me esqueço de ti.
Laranjeira pequenina,
Carregadinha de flores;
Também eu sou pequenina,
Carregadinha d’amores.
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