Em Louvor da Banana


Por: Ferreira Moreno

O capítulo 13 do Livro dos Números transcreve, em pormenor, os episódios relacionados com a expedição, constituída por doze homens e organizada por Moisés, a fim de explorar a região de Canaã. Somos informados que os exploradores atingiram o Hebron e avançaram até um vale, a que deram o nome de Wadi Eshcol (Vale do Cacho), “visto que ali cortaram um ramo de videira com um cacho de uvas, e penduraram-no numa vara transportada por dois homens.”
Embora a evidência demonstre tratar-se dum invulgar cacho de uvas (esh kol), Maguaelonne Toussaint-Samat favorece a possibilidade de tratar-se dum cacho de bananas, “uma vez que está provado que a bananas, “uma vez que está provado que a bananeira cresce e dá fruta em qualquer clima onde haja água.” (History of food, tradução de Anthea Bell, Edição 2003),
Afrânio Peixoto, (Breviário da Baíha, Brasil 1945), aventa ainda a teoria de que as bananas já existiam no Jardim do Paraíso, e responsabiliza Eva de ter tentado Adão com uma banana. O nosso saudoso Augusto Gomes (1921 – 2003) recordou, igualmente, que os cristãos orientais “afirmavam ter sido a banana o fruto da tentação da primeira mulher, e com folhas de bananeira ter-se-ão coberto Adão e Eva.” (Cozinha Tradicional da Ilha de São Miguel, edição 1988).
No que diz respeito à origem e história da bananeira, Alphonse de Candolle (1806 – 1893) escreveu que todos os documentos consultados indicam a Ásia como localidade da primitiva existência e antiga cultura da bananeira, o latinista Plínio Senior (23 – 79), autor duma enciclopédia de 37 volumes, afirmou que Alexandre o Grande (356 – 323 antes de Cristo), durante a sua campanha na conquista da Índia, lá saboreou a banana pela primeira vez, e muito provavelmente foi quem introduziu a bananeira no mundo ocidental.
No entanto, uma pesquisa mais cuidada apresenta os Árabes (envolvidos no comércio da escravatura) como propagadores das bananas no século sete, seguindo-se os navegadores portugueses nas suas explorações pelo continente africano séculos mais tarde. Conforme o testemunho do Padre Eduardo Pereira, já havia bananas na Madeira em 1552. (Ilhas de Zargo, edição 1939). Consta que foi Tomás de Berlanga, um frade franciscano português quem introduziu a bananeira nas Caraíbas em 1516.
Como já tive ocasião de dizer, a banana é originária da Ásia, mas o respectivo nome é de origem africana “banan” que, em Árabe, significa “dedos.” Aparentemente, as bananas (asiáticas e africanas) eram dum tamanho reduzido e pequeno, e não apresentavam a larga variedade que, presentemente, deparamos nos hiper mercados.
É novamente Augusto Gomes quem deixou que o nome banana “parece derivar do porto situado no actual Zaire, nas foz do Congo, chamado porto Banano, e pelo qual embarcaram as primeiras bananeiras p’rá Europa.”
A título de curiosidade, julgo conveniente lembrar que, nas nossas ilhas, é comum chamar banana a qualquer indivíduo com aparência de desleixado ou atoleimado, não descurando igualmente a típica expressão: A brincar, a brincar, vi o macaco à banana.”
Regressando agora à ilha da Madeira, e na companhia do Padre Eduardo Pereira, apraz-me transcrever algumas valiosas informações extraídas do seu livro “Ilhas de Zargo”, publicado em 1939.
Assegura-nos o ilustre membro do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, que a introdução local da bananeira data de meados do século 16, e modernamente é uma das culturas mais cientificamente cuidadas e com óptimos resultados económicos, não só a nível regional, mas também ao abastecimento dos navios que demandam o porto do Funchal e à exportação p’ró continente português.
Das frutas da Madeira é a banana a mais rica em açúcares. A bananeira exige muita água, pelo que não pode cultivar-se senão em terrenos irrigáveis. Embora a maior parte da exportação deste fruto se destina ao mercado do continente português, a banana é também exportada p’ró estrangeiro, mormente a Inglaterra e a Alemanha.
Diz-no ainda o autor que “não se faz outra aplicação da banana na Madeira senão como fruta de mesa. É relativamente tão barato este fruto, e há em tanta abundância, todo o ano, que não é preciso nem compensador transformá-lo em doce ou farinha.”
Confesso ter ficado bastante desiludido ao ler recentemente na imprensa micaelense a arrogância de certas “entidades”, que preferiram atirar p’ró lixo e p’ró gado milhares de quilos de bananas, em vez de distribuir tamanha fartura de bananas pelas escolas e instituições de caridade locais.