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Por: Ferreira Moreno
No seu “Breviário da Bahia”,
publicado em 1945, o brasileiro Afranio Peixoto diz-nos que a
bananeira é uma planta asiática e o nome “banana”
é africano. Mais ainda, com base nos escritos dum frade
franciscano, a bananeira foi a lendária árvore da
ciência do paraíso terreal celebrado na Bíblia,
e a banana o fruto que a mãe Eva usou p’ra tentar
o pai Adão.
P’ra benefício do leitor incrédulo, aqui vai
o testemunho do naturalista e explorador Rumphius (George Eberhard
Rumpf, 1628 – 1702), que deixou a respeito da banana: Cujus
adspectu Eva in effrenam cupiditatem instigata fuit.
Quanto à narrativa dos Génesis apontando que Adão
e Eva “coseram folhas de figueira e fizeram para si cinturas”,
sinto-me mais inclinado em apontar que, por serem mais longas
e lisas, e muito mais confortáveis, as tangas de Adão
e Eva foram feitas com folhas da bananeira... ao contrário
das folhas da figueira, que provocam comichão e cócegas.
Os portugueses chamavam outrora às bananas “figos”
(figos da Índia), e os espanhóis ainda hoje dão
as bananas o nome de “plátanos.” Foram os portugueses,
igualmente, que trouxeram a banana p’rá África,
“e a introdução na ilha de S. Tomé
deu, ecologicamente, a banana de S. Tomé, variedade depois
trazida p’ró Brasil, onde conserva seus caracteres
de mutação.”
A Encyclopedia Britannica (volume III) confirma que a bananeira
é de origem asiática, enquanto o nome banana é
de origem africana. A antiguidade da bananeira remonta às
expedições de Alexandre através da Índia,
e logo após a descoberta da América a banana, vinda
das Ilhas Canárias, chegou ao Novo Mundo e foi inicialmente
plantada em Hispaniola, donde se estendeu às outras ilhas
e continente.
Encostei-me à bananeira,
Das folhas fiz um encosto;
Tenho visto caras lindas,
Só tu foste a do meu gosto.
Plantei no meu quintal
Bananeira já crescida;
Se por mim perdes a alma,
Eu por ti perco a vida.
Dos teus braços um abraço,
Da tua boca um beijinho,
Da banana qu’estás comendo,
Dá-me dela um pedacinho.
Toma lá esta banana,
Tira-lhe o miolo que é tua,
Da casca faz uma barca,
Embarca p’rá minha rua.
E aqui fica o conselho: “Quem quiser comer bananas / Vá
ao pé da bananeira / Vá comendo, vá gostando
/ Vá metendo na cevadeira.”
Com respeito às laranjas, é novamente Afranio Peixoto
quem nos informa que “a laranja vem do sânscrito nagrungo,
que deu no hindustani narungee, de onde o espanhol naranja e o
português laranja. Por sua vez, orange (quer em inglês,
quer em francês) avizinha-se da assimilação
do latim aurum (ouro).”
Peixoto prossegue: “A laranja seria o pomo de ouro cultivado,
segundo a mitologia mediterrânea, no Jardim das Hespérides,
além do Atlas, da Coluna de Hércules, guardadas
por um feroz dragão, por serem tão preciosas, como
seriam nos Açores, as ilhas afortunadas, perto do território
da Atlântida.”
A pátria da laranjeira parece ter sido a fronteira norte
da Índia, e fora os antigos árabes que a trouxeram
p’ró Mediterrâneo. Porém, foram os portugueses
que, nas suas viagens depois do Renascimento, vulgarizaram a laranja
pelo Ocidente. E a prova, confirma Peixoto, “é que
hindus maometanos e árabes modernos, no Oriente, chamam
à laranja portughan, e na Itália as laranjas são,
ainda hoje, chamadas portogalli.”
As laranjas foram trazidas p’rá guiné e Cabo
Verde, onde as naus, a caminho da Índia, se proviam delas,
podendo-se assim dizer, sem exagero, que os portugueses descobriram
as vitaminas. De facto, os portugueses foram disseminadores das
árvores prestadas pelo mundo, universalizando a natureza
regional pela ecologia ou afeiçoamento ao meio, e tornada
universal. Portanto, “não será espirituosa
senão etimológica esta frase: os portugueses tornaram
católica (universal) a natureza.”
Peixoto acentua, ainda, esta curiosidade: “Se a Índia
deu ao mundo a laranja silvestre, a Bahia deu laranja civilizada,
ou seja, a laranja de umbigo, mais tarde transplantada p’rós
Estados Unidos, com o nome corrente de “navel”, que
significa precisamente umbigo.”
É historicamente certo que foram os missionários
franciscanos espanhóis os primeiros a plantar laranjeiras
na Califorlândia, mas na opinião de Afranio Peixoto,
o respectivo incremento comercial dos laranjais californianos
deve-se à laranjeira baiana. Em 1889 foi criado, na Califorlândia,
o condado ou concelho ORANGE, que nada tem a ver com laranjais.
O termo toponímico resultou apenas duma promoção
p’ra estimular e atrair a migração de novos
povoadores e futuros residentes.
Deixo-vos com esta quadra:
Eu parti uma laranja / Metade deitei-a fora / Da outra fiz um
navio / Embarca, vamos embora.”
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