|
Por: Ferreira Moreno
A história da pirataria nas Índias
Ocidentais ( Caraíbas e Antilhas) encontra-se repleta de
narrativas descrevendo os ataques perpetrados por ingleses franceses
e holandeses contra os espanhóis. Por mais estranho que
se nos afigure, houve igualmente piratas portugueses naquela área
das West Indies. Um indivíduo, em particular, tem sido
objecto das minhas pesquisas há já muitos anos.
Embora tenha escrito acerca dele no passado, ainda hoje não
consegui descobrir a terra da sua naturalidade, o seu verdadeiro
sobrenome e as circunstâncias à volta da sua ida
p’rás Índias Ocidentais.
Era ele conhecido simplesmente por Bartolomeo Português.
Aparentemente não era um típico “pobre desgraçado”quando
deu início à sua carreira de pirata. Possuía
certamente capital adequado p’ra investir em tamanha aventura,
após ter participado em diversos assaltos ao longo da costa
do México antes da sua chegada ao Mar das Caraíbas
em 1665. De facto, Bartolomeo principiou a sua independente empresa
navegando entre Jamaica e Cuba a bordo duma pequena embarcação
com trinta homens e quatro canhões.
No Cabo Corrientes, na costa oeste de Cuba, avistou um grande
barco espanhol equipado com vinte canhões e setenta tripulantes.
Apesar da desigualdade, quer ofensiva quer defensiva, Bartolomeo
atacou o barco espanhol, mas falhou na tentativa de abrodagem.
Retrocedendo um pouco, voltou de novo à carga com tamanha
fúria que, finalmente, saiu vitorioso e capturou a embarcação
espanhola.
Nesta refrega o pirata português perdeu dez homens e teve
quatro feridos, enquanto os espanhóis sofreram o dobro
de mortos e feridos. Num gesto de rara generosidade, Bartolomeo
poupou a vida dos prisioneiros transferindo-os para um barco a
remos com destino a Havana, enquanto a bordo ficaram quinze espanhóis
como tripulantes.
Bartolomeo tencionava prosseguir viagem p’ra Jamaica; porém,
devido a ventos contrários, teve de rumar p’ró
Cabo San Antonio, na costa oeste de Cuba. Sonhava descansar ali
e avaliar o tesouro recolhido. Mas tal não aconteceu, visto
que os piratas foram surpreendidos por três navios espanhóis,
que facilmente subjugaram Bartolomeo e tripulação.
Levantou-se no entretanto, uma tempestade tropical forçando
os quatro barcos a singrar p’ra Capenche no Sudeste da Nova
Espanha (México). Quando os comerciantes e magistrados
locais tiveram conhecimento que Bartolomeo se encontrava agrupado
entre os prisioneiros, ficou determinado enforca-lo no dia seguinte.
Aparentemente, além de forte e destemido, Bartolomeo era
igualmente um indivíduo deveras astucioso. Embora acorrentado,
conseguiu quebrar as algemas e matar a sentinela. Convém
intercalar, agora e aqui, uma particularidade extremamente curiosa:
O navio onde Bartolomeo estava aprisionado, e separado dos seus
companheiros, encontrava-se fundeado fora da barra... e Bartolomeo
não sabia nadar.
Valeu-se então, duma extraordinária artimanha. Agarrando-se
a dois potes de barro, envoltos em peças de oleado, atirou-se
ao mar nesse “salva-vidas”e safou-se p’ra terra,
desviando-se do litoral e embrenhando-se pelo mato, evitando os
pântanos e crocodilos. Mais ainda, conquistou outro obstáculo,
ou seja, uma floresta lodosa e de árvores enormes, baloiçando
dum ramo ao outro. E quando tinha de atravessar algum rio, (visto
que não sabia nadar), usava uma minúscula jangada
p’ra atingir a outra margem.
Ao cabo de duas semanas de miséria e terror, Bartolomeu
finalmente alcançou o outro lado da costa, onde se encontravam
alguns piratas e amigos, que o apetrecharam com um barco e vinte
voluntários. Oito dias depois chegavam a Campeche, em cuja
enseada entraram ao cair da noite, capturando surpreendentemente
o navio que servira de prisão a Bartolomeo.
Imediatamente, evitando perseguição, os piratas
deslizaram as amarras e navegaram rumo a Jamaica. Novamente, a
má sorte acometeu o Bartolomeo Português, quando
uma violenta tempestade arremessou e estilhaçou o navio
da ilha dos Pinos, a sudeste de Cuba. Forçados a abandonar
o navio e carga, os piratas escaparam numa canoa e assim arribaram
a Jamaica.
Presumivelmente, Bartolomeo ali organizou muitos outros ataques
e assaltos de pirataria, mas sempre sem obter grandes sucessos.
A má fortuna perseguia-o continuamente. Bartolomeo Português
teve incontáveis aventuras, mas tornou-se mais conhecido
como o “pirata desventurado”. Foi um indivíduo
cujo sucesso dependia das suas artimanhas.
Nada mais sei acerca da sua vivência em Jamaica, e só
me resta acrescentar que a Fortuna foi sempre adversa ao nosso
Bartolomeo, o Pirata Português das Caraíbas-Antilhas!
|