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Por: Ferreira Moreno
Na ilha do Faial é historicamente multissecular
a invocação Nossa Senhora das Angústias,
remontando ao ano de 1468 quando lá chegaram os primeiros
povoadores flamengos e portugueses liderados por Josse van Huertere,
capitão-donatário, responsável pela ermidinha
de Santa Cruz, onde a esposa D. Brites de Macedo colocou uma imagem
da Senhora das Angústias, como padroeira da terra e do
povo.
Dessa primitiva ermida, de colmo e tijolo, envolveu a igreja paroquial
da freguesia das Angústias na cidade da Horta, onde ainda
agora se encontra (desde 1949) o meu bom amigo Padre Júlio
da Rosa, que tão gentilmente me há presenteado com
os seus livrinhos “Nossa Senhora das Angústias, Senhora
Povoadora & Padroeira da Ilha do Faial” (1976); “Dedicação
da Igreja de Santa Cruz & de Nossa Senhora das Angústias
da cidade da Horta” (1982), e o primeiro volume “Nossa
Senhora das Angústias na Ermidinha de Santa Cruz, Paróquia
na Ilha”(1984).
As invocações de Nossa Senhora da Boa-Hora, do Bom
Despacho e do Bom Sucesso, todas elas relacionadas com situações
de parto, a que podemos adicionar (antecedendo o período
da paridura) essoutras invocações de nossa Senhora
da Esperança, da Expectação ou do Ó,
constituem marcos da devoção popular, visivelmente
reflectidos no número de ermidas dedicadas à Virgem-Mãe,
cuja intercessão abrange e favorece todas estas invocações.
Fui a à Senhora da Boa-Nova,
Mais a minha gente toda:
Fui solteira, vim casada,
Foi milagre da Senhora.
Senhora do Bom Despacho,
Senhora da Expectação,
Eu perdi o meu amor,
Trazei-me ao coração.
Senhora do Bom Sucesso,
Que dais a quem vos chama?
Às casadas, bom marido,
Às solteiras, boa fama.
Senhora da Esperança
Vestidinha de cetim:
Quem me dera já no céu,
Os anjos ao pé de mim.
Nossa Senhora da Consolação é venerada,
com esta invocação, numa ermida fundada em 1546
na ilha Terceira, e a Senhora da Salvação na ermida
erecta em 1651 e sita precisamente na Rua da Salvação
na “minha” Ribeira Grande. No pitoresco sítio
ou vale das Caldeiras da Ribeira Grande, ergue-se a ermida com
a invocação Nossa Senhora da Saúde. Foi construída
por D. Isabel Margarida Botelho, sua família e outras pessoas,
em 1850, com o incentivo do virtuoso Frei José da Purificação.
Urbano de Mendonça Dias (História dos Açores)
e Ventura Rodrigues Pereira (A Ribeira Grande) são unânimes
em apontar que, antes da inauguração desta ermida,
já existia um oratório em casa particular onde missa
era celebrada no verão.
Ó Senhora da Saúde,
Senhora da Saudinha:
Que capela tão pequena
P’ra tamanha rainha.
A Senhora da Saúde
Está no alto outeirinho:
Antes que esteja calor
Sempre lá dá o fresquinho.
No intuito de desfazer quaisquer sombras de bairrismo, cumpre-me
acentuar que em Angra (Terceira) existe uma mais bela e mais elegante
ermida dedicada a Nossa Senhora da Saúde. É muito
antiga (1560) e foi inicialmente conhecida por Ermida dos Santos
Cosme e Damião. Na sua “História Insulana”,
o Padre António Cordeiro (1641-1722) menciona esta ermida
já com a invocação da Senhora da Saúde.
A mudança no nome teria ocorrido devido ao pequeno “hospital
da saúde”, que funcionou nas imediações
da ermida durante a epidemia da peste em 1599. (Padre Alfredo
Lucas, As Ermidas da Ilha Terceira).
Nossa Senhora da Saúde é também venerada
na sua ermida, airosa e de porte gracioso, erecta em 1858 na freguesia
de S. Pedro em Santa Maria. E nos Arrifes (S. Miguel) toda a gente
admira a respectiva e magnificente igreja de N.S. da Saúde.
Temos ainda as ermidas de Nossa Senhora dos Prazeres no Pico da
Pedra (S. Miguel). Ermidas dedicadas a Nossa Senhora do Socorro
e a Nossa Senhora do Pranto, são outros tantos painéis
matizando o bucolismo da Ilha Verde. E assim por diante, desdobrando-se
com larga fartura e expressão por todo o Arquipélago
Açoriano, deparamos com tantas outras invocações
do mesmo género.
Por exemplo, na Ribeira Grande onde se encontra o meu colega Padre
Silvino Amaral, faz bem visitar a igreja e ficar embevecido na
encantadora ternura que irradia da imagem de Nossa Senhora do
Leite. Vale a pena ir ao sítio da Galera, em Água
do Pau, e entrar na ermida de Nossa Senhora de Monserrate, p’rá
saudar a padroeira das mães com dificuldades em amamentar
os filhos.
Finalmente, (já não há espaço p’ra
mais), recomendo a Ermida de Nossa Senhora dos Remédios,
na Vila da Lagoa, que tive a oportunidade de visitar recentemente
na companhia do Dr. José Guerreiro d’Almeida, e que
o meu amigo de longa data, Manuel Ferreira, havia ateado a minha
curiosidade com a leitura do seu livro “Pedras Que Falam”(1988).
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