As Cores nos Açores


Por: Ferreira Moreno

Na sua palestra subordinada ao tema “As Cores na Toponímia Açoriana”, originalmente proferida no antigo Emissor Regional dos Açores e seguidamente publicada no jornal Açoriano Oriental (27/Maio/67), o saudoso Dr. Carreiro da Costa (1913-81) assinalou a relativa frequência de referências, quer directas quer indirectas, às cores nos Açores.
Antes de mencionar as cores mais conhecidas, Carreiro da Costa teve o cuidado em dar justificado crédito ao escritor continental Raul Brandão (1867-1931), que visitou os Açores em 1924 e subsequentemente compilou as suas impressões no livro “As Ilhas Desconhecidas”, onde mais se sente e melhor se define a imensa gama de cores envolvendo o arquipélago açoriano.
E foram tantas as cores e outras tantas tonalidades das mesmas cores, que Raul Brandão encontrou e registrou de uma ponta à outra dos Açores, que Carreiro da Costa declarou ser o livro “uma extraordinária paleta onde se reproduzem, combinam e misturam toda as cores entrevistas por estas paragens.”
De facto, “os verdes e os azuis, os brancos e os violáceos, os cinzentos e os negros, estão ali assinalados com toda a maravilhosa variedade dos seus tons.” Em boa verdade, “as designações de ilha verde e ilha azul, ilha lilás e ilha branca, remontam ao texto de Raul Brandão, definindo e caracterizando algumas das parcelas dos Açores.”
Começando pela cor branca, Carreiro da Costa aponta a Serra Branca e as regiões do Barro Branco e das Pedras Brancas na Graciosa. No Faial, a sudoeste da ilha, topamos com o promontório Castelo Branco e bem assim (na vizinhança) a freguesia de Castelo Branco. S. Miguel tem dois lugares com a designação de Castelo Branco: um entre o Termo da Lagoa e Água de Pau, e o outro entre Vila Franca e Furnas.
Cabo Branco está situado acima da Vila Madalena (Pico), e Ponta do Rosto Branco encontra-se nas imediações da Ribeira Quente (S. Miguel), “por ser a mesma ponta de terra branca, onde estão fajãs que terão cinco moios de terra, que tem vinhas e dão pão e pastel.” (Gaspar Frutoso, Saudades da Terra, Livro IV, Capítulo 39).
Em Santa Maria, revelando a presença de jazigos calcários, e existem a Boca de Cré e o Forno de Cré, enquanto Caldeirão da Vaca Branca é a designação pitoresca duma localidade próxima das Lagoas Empanadas em S. Miguel.
A cor amarela encontra-se no caminho do Pau Amarelo acima do Pico do Salomão e a norte de Ponta Delgada, enquanto a cor azul espelha-se na Lagoa Azul, ou seja, a lagoa maior da Caldeira das Sete Cidades. A cor dourada pertence à ilha Terceira nas Canadas da Cruz Dourada, respectivamente nas freguesias de São Bartolomeu e de São Mateus.
A cor verde espraia-se na Lagoa Verde, a “gémea” da Lagoa Azul das Sete Cidades, e vislumbra-se no Pico Verde da Algarvia, em S. Miguel. No Pico temos o Chão Verde e o Cabeço Verde, mais as Bicas de Cabo Verde na freguesia de S. Pedro na Terceira. Valverde tem presença marcada, quer em Santa Maria quer no Pico.
A cor vermelha está demarcada no Barro Vermelho (Graciosa), Pico Vermelho (S. Miguel), Rocha Vermelha (Faial), Cabeço Vermelho e Areia Vermelha (Pico). Ao longo do litoral açoriano deparamos com várias Pontas Ruivas, (variante da cor vermelha), em Santa Maria, Terceira, S. Miguel. S. Jorge, Graciosa e Flores.
Por razão das tonalidades dos basaltos e das escórias, o preto e o negro surgem na Rocha Negra (Santa Maria), Pico Negro (Graciosa), Ponta Negra (Terceira), Outeiro Negro (Flores), Cabo Negro. Cabeço Negro e Pontas Negras (Pico).
O Canto do Negro em S. Miguel e a Canada do Negro na Terceira, provavelmente derivaram da presença de indivíduos da raça negra por tais paragens. Por seu turno, as Figueiras Pretas e a Ponta do Negrito, na Terceira, resultaram da presença de árvores de madeira.

Os vossos lábios, menina,
Tão vermelhos, tem virtude;
São a fonte dos beijinhos
Que aos doentes dão saúde!

Tens os beiços vermelhinhos,
Sangue na ponta da língua,
Quem, a beijos, t’o tirara
Sem te deixar uma pinga!

Verde cana, verde cana,
Verde cana de encanar;
Se não queres casar comigo,
Nõa me andes a enganar!

Chamais-me amarelinha,
Eu amarelinha quero ser;
Amarelinho é o ouro,
Eu, que mais quero valer!

O meu amor é tão lindo!
A mim, ninguém m’o namora:
É branco c’má fuligem
E corado c’má amora!

Meu amor, ontem à noite,
Chamou-me coradinha;
Os anjos do céu me levem
S’esta cor não é minha.

Branca é a cor mais linda
Que aos olhos pode agradar;
Branca a neve, branca a lua,
Branca a espuma do mar!

Sois branquinha c’má rosa,
Corada c’má cereja;
Sois a cara mais formosa
Qu’entra na nossa igreja.