Emigração e herança Cultural Inglês a Língua que preserva a Cultura lusa?


por Humberta Maria Araújo

A comunidade portuguesa no Canadá está a transformar - se progressivamente e, como tal, a impor novos desafios ao Estado. No caso específico da comunidade açoriana, a língua portuguesa começa a desaparecer ou a metamorfosear-se. Fala-se cá o português do emigrante no qual cada indivíduo se exprime à sua maneira e de acordo com a herança familiar, a escolaridade e a província em que vive. Talvez por isso, o debate hoje conheça novos rumos e surja de uma escuta atenta das segunda e terceira gerações, aquelas que o país quer fazer despertar por razões económicas, históricas ou culturais.

No que diz respeito aos jovens aqui nascidos, criados e educados os mesmos confrontam-se com um espectacular manancial de culturas e línguas. Por esta razão o jovem sente despertar mais do que nunca o interesse pelas suas raízes. Mas nesta situação específica as raízes não são, como até agora se pensava, a aprendizagem da língua portuguesa. É sobretudo a procura de informação que facilite o estímulo para o encontro destas raízes, que se revelam como um sentimento muito particular traduzido numa memória individual, fruto das experiências de cada um na família, na comunidade e junto dos grupos sociais em que se integram.

É fácil constatar, e uma vez mais tal foi visível num encontro realizado em Toronto pelo portal luso www.adiaspora.com sob a tematica “Planeando Estratégias de Sobrevivência Cultural”, que o jovem luso-canadiano orgulha - se do português que sabe falar, mas reprime-se na sequência de atitudes pouco tolerantes por parte de adultos, que na comunidade, através das Associações Recreativas e Culturais, assumiram ao longo destes cinquenta anos de história, o absoluto poder e controlo do que é ser verdadeiramente português. E ser verdadeiramente português passa pela pureza de uma língua, que nem por isso é assim tão pura no seio de muitas destas instituições.

Na maioria dos casos, o processo de tomada de decisão é feito pelos dirigentes sendo os jovens um mero invólucro. A falta de participação da juventude na maioria dos eventos culturais comunitários acontece porque ela não é chamada a participar no processo decisório. Os jovens são naturalmente diferentes na perspectiva de como olham a cultura e a língua portuguesas. Para esta nova geração lusa a língua é um factor importante a ter em conta, mas não é o principal.

Assim sendo importa talvez reavaliar as fórmulas e os conteúdos das políticas utilizados pelo Estado Português relativamente à Emigração, que nos próximos anos vai modificar-se substancialmente e, apresentar novos desafios para os governos.

A Região Autónoma dos Açores tem sido pioneira em importantes políticas de emigração que facilitam o intercâmbio de jovens e o ensino da Língua e Cultura. O apoio a serviços de informação televisivos para as comunidades e a aposta na Internet para a divulgação dos Açores na diáspora tem dado os seus frutos.

A procura das raízes pela juventude é sem dúvida um factor relevante e um potencial riquíssimo a ser explorado e que impõe novos desafios. Um destes desafios deixados no encontro organizado pela Adiaspora.com foi o da criação de um museu da emigração regional que possa mostrar a estes jovens uma das páginas mis relevantes da sua história.

Nesta ordem de ideias o incremento de estruturas bilingues, que ajudem esta geração a compreender melhor o passado na língua em que vivem e foram educados, é premente. Estes serviços vão facilitar aos jovens interessados a sua activa participação nas políticas a criar para a emigração.
Um organismo de consultadoria que envolva Associações e grupos de jovens com larga actividade nas comunidades ajudará, sem dúvida, a enriquecer o nosso conhecimento das comunidades futuras e, permitir a criação de programas de governo, que reforcem os laços de e para a região.

Os modernos meios de comunicação são fundamentais nesta aposta. As novas tecnologias de acesso directo e diário a conteúdos, que fomentem o interesse destas gerações pela terra lusa, são o caminho mais eficaz para a sobrevivência dos laços e uma janela para o muito que se faz nas comunidades de inovativo. Os meios existem cá e lá constituindo já uma força que propaga e salvaguarda a herança cultural lusa. A televisão e, muito especificamente a Internet, constituem veículos de comunicação ideais para os mais novos. Todavia, estes não podem continuar a transmitir uma mensagem que não inclua a língua inglesa, sob pena de todo o esforço ficar pelo caminho. Chegar às novas gerações luso-canadianas só é possível através da língua inglesa. Esta é uma afirmação que poderá chocar alguns puritanos. Todavia, ela é o caminho para que a cultura lusa junto das comunidades sobreviva. O português nunca deixará – acredito – de fazer parte de uma casa portuguesa até porque a sua procura está a aumentar junto das Universidades canadianas, elas também veículos de promoção.

As novas gerações cultas e profissionalizadas, com profundos laços na comunidade canadiana são um potencial interessante a ter em conta nos programas de promoção turística. Neste e noutros âmbitos a procura de portais lusos, nomeadamente a Diáspora.Com é grande por parte de jovens de várias partes do mundo, que anseiam por informações diversas sobre a região, nomeadamente como destino turístico.

A emigração é e continuará a ser parte da nossa história e da nossa sobrevivência cultural. Solidificados no tempo muitos dos nossos usos e costumes são na diáspora mais genuínos que nos Açores. Permaneceram intactos os segredos da culinária, os rituais religiosos e culturais. Mas muito não pode ser simplesmente importado. Resta mantermo-nos também na região fieis às nossas raízes e história.

Humberta Maria Araújo
humbertaa@hotmail.com