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Esta semana eu estava para escrever sobre as curtas férias
que tirei em Julho. Trata-se-ia duma conversa sobre uns oito dias
agradáveis que eu passei, embora com algumas referências
a assuntos sérios como a destruição do ambiente
em que vivemos. No entanto, na véspera do dia em que escrevo
este artigo, passei por uma churrasqueira portuguesa afim de comprar
um dos excelentes frangos de churrasco que lá se vendem,
infelizmente há lojas portuguesas congéneres em
que o que lá se vende é detestável, quando
ouvi alguns compatriotas nossos comentando o noticiário
numa das estações de televisão portuguesa
dizendo que o que era preciso era outro Hitler, para exterminar
os judeus por causa do que se estava a passar no Líbano.
Ouvir semelhante manifestação de anti semitismo
(ódio aos Judeus) deixou-me bastante abalado um tanto mais
que como um amigo meu de longa data me diz, eu tenho certa simpatia
pelos ingleses e judeus. Deixando de parte a admiração
pelas coisas britânicas, como a tolerância e o sistema
parlamentar, não há dúvida que por uma razão
ou outra sempre estive ligado a coisas judaicas. O meu pai tinha
um grande amigo, Alexander Katz que era refugiado judeu alemão
fugido às perseguições desse tal Hitler,
que o nosso compatriota admirava. O meu pai também me explicou
a razão porque o simpático Sr. Katz, que tinha por
sinal aprendido a falar português em poucos meses, tinha
fugido da sua terra natal era porque na sua pátria, existia
um grupo de tarados e criminosos que odiavam todos os judeus.
Claro que o meu pai me ensinou, que porque havia nazis na Alemanha,
não queria dizer que todos os alemães eram assassinos
e crueis. Ele também me disse uma coisa que não
estava na História oficial da escola escrita pelo Sr. António
Matoso, que o nosso querido Portugal e os nossos antepassados,
também tinham contribuído para um dos maiores crimes
da história da humanidade, a escravatura em que milhões
de seres humanos tinham sido removidos da sua terra, transportados
em condições horríveis em barcos nos quais
muitas vezes um terço dos escravos morriam durante a viagem,
para depois serem vendidos nas Américas e forçados
a trabalhar como animais nas plantações do que são
hoje os Estados Unidos, Jamaica, Argentina e Brasil e outras nações
das Américas incluindo o Canadá. Mais tarde, eu
viria a aprender que todas as barbaridades cometidas não
só pelos meus antepassados mas até contemporâneos
nas perseguições políticas e nas guerras
coloniais, não eram culpa minha ou do povo português,
mas de dirigentes que nos tinham levado ao mau caminho.
Eu próprio, que saí de Portugal
por ser contra o governo, fui uma vez maltratado em Inglaterra
numa reunião da Universidade de Londres em 1966, por causa
do governo Salazar estar em guerra contra os movimentos que queriam
independência dos territórios portugueses do ultramar.
Claro que também aprendi que ingleses, franceses, belgas,
holandeses, alemães e italianos tinham cometido as mesmas
barbaridades nas suas conquistas e guerras coloniais. A propósito,
os próprios colonizados, assim que tomaram contado poder
fizeram o mesmo, como é o caso das perseguições
aos Indianos no Quénia, Uganda, Tanzania e outros países
africanos ou aos massacres dos Hutus e Tutsis no Rwanda e Burundi.
Quando aos judeus, perseguidos ao longo dos séculos, queimados
pela inquisição e exterminados por Hitler, quando
tiveram um país Israel, começaram a discriminar
os árabes e como se tem visto nos últimos anos e
invadir terras que não lhes pertencem. Moral da história,
brancos ou negros, judeus ou cristãos, ingleses, franceses,
persas, holandeses, suecos, japoneses ou chineses, quando se trata
de maldade, violência e opressão dos outros seres
humanos, somos todos iguais. Como dizia a minha avó, duns
aos outros venha o diabo e escolha.
A propósito da minha relação com as coisas
judaicas o meu bisavô tinha um apelido de “cristão
novo” (os judeus convertidos à força nos tempos
de D. Manuel I) e ao longo dos anos tenho tido vários amigos
judeus, alguns do sexo feminino, e até fui eleito presidente
do corpo clínico dum hospital em que a maioria dos médicos
eram judeus, o Doctors Hospital.
Uma guerra Antiga
O chamado Médio Oriente, e muito especialmente
a área a que se chama Palestina, tem sido ao longo dos
séculos o berço de várias civilizações,
algumas das religiões mais importantes da humanidade e
claro constantes guerras.
Lendo a bíblia, especialmente o antigo testamento, pode-se
constatar que há mais de 4 mil anos que a região
era teatro de intermináveis guerras.
Com o aparecimento da religião cristã e o nascimento
de Cristo na Palestina, começaram mais guerras na região,
com as cruzadas exércitos formados pelos Papas e os senhores
feudais da Europa, destinados a libertar o santo sepulcro que
estava nas mãos dos que eles chamavam, pejorativamente,
os infiéis. De notar, que a palavra “cruzado”
é ofensiva entre os mulçumanos.
Entre o século XII e o princípio do XIX a Palestina
fez parte do Império Otomano (turco). Os pobres dos turcos
na primeira guerra mundial, suportaram o lado que perdeu, os alemães,
do que resultou que o império foi parar aos vencedores,
com a França a tomar conta do Líbano e Síria
e os Ingleses do Iraque e Egipto. Quanto à Palestina ficou
depois da guerra de 1914-18 sobre o mandato da Liga das Nações,
que em 1922 a entregou à Inglaterra a qual não podendo
manter a paz, devolveu às Nações Unidas em
1947. Esta organização tentou resolver o problema
das lutas entre os palestinianos e os judeus, que desde a fundação
do movimento Zionista por Theodoro Herzl em 1897, estavam a imigrar
para a Palestina em duas partes quase iguais entregando uma aos
Árabes e a outra aos Judeus que eram uns 20 a 30% da população.
Desta maneira em 1948 foi criado o estado de Israel.
As guerras que se seguiram, davam para encher algumas dezenas
de artigos.
Entretanto ao longo dos anos, Israel tem aos poucos, não
só alargado as suas fronteiras, mas criando centenas de
colonatos em pleno território Palestiniano. Calcule-se
como nós iríamos reagir se a Espanha construísse
colonatos no Alentejo, Douro, Madeira ou Açores, ou os
Estados Unidos um em Brampton e outro em Barrie.
Mais uma guerra
Sem entrar em pormenores que iriam tornar este
artigo muito extenso, desde que o Primeiro Ministro de Israel,
Yizhak Rabin, uma pessoa tolerante e amiga da paz, foi assassinado
em 1995 por uma fanático judeu, que sucessivos governos
de Israel têm continuidade a criar colonatos em território
Palestiniano, ao ponto de construírem uma muralha para
dividir a Palestina e proteger a fronteira de Israel, mas que
vai entrando em território árabe e adquirindo mais
terreno.
Infelizmente, a intransigência dos diversos governos de
Israel, tem fomentado a criação e o desenvolvimento
de partidos fanáticos entre os Palestinianos. Actualmente,
o pouco que resta da Palestina para governar é administrado
por um partido religioso, muçulmano fanático chamado
Hamas, que com grande surpresa dos entendidos no assunto, ganhou
as últimas eleições.
Entretanto, no Líbano, um país sem exército
moderno, pobre dividido por lutas entre cristãos e muçulmanos,
existe outro partido de fanáticos fundamentalistas o Hezbollah.
Ambos os partidos têm continuado num guerra de guerrilhas
com Israel, que nunca reconheceram e com quem nunca assinaram
um tratado de paz. Basta ler os jornais para se saber que nos
últimos anos Palestinianos e Israelitas se têm continuado
a matar continuamente, cada um deles declarando que o seu ataque
é uma represália, por um ataque do outro. Desta
vez uma ataque mais habilidoso dos Palestinianos, que causou vários
mortos e a captura dum soldado entre as tropas israelitas, aumentou
a intensidade da luta que tem estado a aumentar continuamente
e serviu de pretexto para Israel bombardear o território
palestiniano.
Entretanto, como já é de costume, as tropas de Israel
têm usado força excessiva, estando nesse momento
a bombardear o Líbano aonde guerrilheiros do Hezbollah
vivem. Embora os combatentes e apoiantes deste partido, sejam
uma pequena minoria, uma boa parte da população
libanesa até é cristã. As forças israelitas
têm destruído povoações bombardeando
cidades, arrasando pontes, fábricas eléctricas,
escolas, estradas, faróis, matando centenas de pessoas
incluindo civis velhos, mulheres e crianças.
A resposta é tão despropositada, que um comentador
político inglês, disse que era o mesmo que Inglaterra
a ter bombardeado a cidade de Dublin, capital da Irlanda, durante
o período em que os revolucionários irlandeses do
IRA rebentavam bombas em Londres e Manchester.
Nem nações unidas escapam
O fogo do exército israelita parece não
poupar nada. Um posto de observação das Nações
Unidas junto à cidade libanesa de Khiyam foi arrasado pelos
israelitas, com 33 granadas e foguetões matando quatro
observadores desarmados entre eles o Major do exército
canadiano Peta Hess-von Kruedner. Como era de esperar os governos
das nações a que pertenciam os três outros
observadores protestaram violentamente.
Quando ao Primeiro Ministro do Canadá Sr. Harper, seguindo
fielmente o Sr. George Bush, pouco disse e só ao fim de
três dias pressionado pela oposição lá
se decidiu a telefonar ao seu colega israelita Primeiro Ministro
Ehud Olmert. Calcule-se que em vez de se indignar o Primeiro Ministro
do Canadá teve a coragem de de criticar os observadores
das Nações pondo em dúvida as razões
para a sua presença, quando este posto já se lá
encontrava há dezenas de anos.
De notar que as Nações Unidas nas duas últimas
semanas avisaram o exército israelita da existência
dum posto das Nações Unidas pelo menos 10 (dez)
vezes!
Como resultado da reacção débil do Sr. Harper
e da sua obediência à linha política do Estados
Unidos, o Toronto Star, o jornal de maior tiragem do Canadá,
publicou um editorial lamentando que o Canadá tivesse perdido
a sua voz política internacional e imparcial. Segundo este
jornal, a opinião do Canadá que costuma ser original
e distinta estacada vez mais a ser igual à dos Estados
Unidos.
Voltando aos Judeus
Assim como nem todos os portugueses estavam de
acordo coma guerra em África, também muitos judeus
dentro e fora de Israel, opôem-se à presente política
militarista intransigente do Primeiro Ministro Edhu Olmert.
Vozes como a de Ze´ev Maoz, antigo director da Academia
Militar de Israel e actual professor da Universidade da Califórnia,
que num artigo da revista “Now” criticou o governo
do seu país por usar força em excesso no Líbano,
têm-se manifestado de forma clara contra a presença
política do governo do Sr. Olmert. Também vários
partidos e forças políticas de Israel se têm
manifestado contra o uso excessivo de força pelo exército
israelita no Líbano, nomeadamente o bombardeamento indiscriminado
de civis e da infra estruturas essenciais para a a vida como centrais
eléctricas, escolas, pontes e estradas. È de notar
que também vários grupos de judeus, têm se
manifestado a ponto de alguns deles,como um feminino muito conhecido
em Toronto, ter participado na marcha contra a guerra do Líbano
realizado nesta cidade.
Concluindo
A guerra no Líbano está, na opinião
de muitas pessoas e instituições, incluindo alguma
delas judiciais, a ser conduzida duma forma cruel e excessivamente
violenta.
Isto porém, não é nem pode ser um desculpa
para uma campanha de racismo contra os judeus, especialmente os
que vivem no Canadá. A o nosso compatriota que queria que
Hitler voltasse, direi que esse foi um do maiores monstros e criminosos
da história da humanidade. Não queremos nenhum Hitler,
apenas devemos desejar paz, tolerância e um diálogo
que conduza ao entendimento entre o povo Israelita e Palestiniano
e poupe o do Líbano de ser arrastado para esta guerra cruel
e destrutiva, que tem morto e ferido milhares de pessoas, a maioria
civis ou velhos, mulheres e crianças. É necessário
que seja estabelecido um armistício que acabe com a guerra,
o mais depressa possível. Entretanto, o governo de Israel,
como sempre apoiado por George Bush, quer continuar a guerra e
assim não parar com a destruição do Líbano.
Como era de esperar a maioria dos governos europeus apoiam o armistício
enquanto o Sr. Stephen Harper segue fielmente a linha dos Estados
Unidos.
Quanto aos judeus, são como os chineses, franceses, etíopes,
espanhóis, finlandeses e portugueses, há bons e
maus, esclarecidos e anganados por políticos pouco escrupulosos,
tolerantes e intolerantes. O pior que podemos fazer, é
trazer para esta terra, que também é a nossa o fantasma
do Hitler e o monstro do racismo ou anti-semitismo.
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