Enganando as Crianças



Como uma promoção habilidosa está a promover
uma epidemia entre a gente jovem

Estes artigos, não são em princípio dedicados a assuntos médicos, embora em breve com a passagem à reforma e mudança para Portugal do meu colega e amigo Dr. César Cordeiro, desapareça a única coluna regular escrita por um profissional de saúde, nos media luso-canadianos. No entanto, iremos hoje abordar um dos tais assuntos políticos e sociais, que estão ligados à saúde. Ná há dúvida, que infelizmente nem tudo se trata com um comprimido ou uma operação e que mesmo nas cosiedades ricas e desenvolvidas como o Canadá existem muitos problemas médicos que poderiam ser evitados, com a educação da população e medidas políticas tomadas pelos governos, especialmente no que se refere aquilo que se chama hoje, mesmo em português o “marketing”, isto é a forma de colocar um produto no mercado, promovê-lo e finalmente fazer com que o consumidor o venha a comprar.
Antes de mais, o artigo de hoje é baseado num estudo do IOM (institut of Medecin) uma nova organização americana baseada numa semelhante existente na Universidade de Toronto, uma daquelas iniciativas louváveis dos nossos vizinhos do Sul, que se por um lado continuam a ter costumes sociais e políticos bárbaros como a invasão do Iraque ou a imposição de pena de morte, estão muitas vezes nos primeiros lugares quando se trata de combater certos flagelos como o fumo, discriminação, violência doméstica, e até a poluição causada pelos carros. Devo esclarecer que embora o estudo a que me refiro seja feito nos Estados Unidos, sabe-se que nestes assuntos médicos como em muitas outras as populações dos dois países Canadá e Estados Unidos são semelhantes, tanto mais que com execpção do Quebeque, protegido pela existência duma língua diferente, o francês, ambas as populações estão expostas a programas de televisão, e outras formas de promoção de produtos comerciais semelhantes.

Uma Epidemia

Desde o fim da década de 1970 a obesidade das crianças nos Estados Unidos, e os números no Canadá são semelhantes, duplicou entra as crianças dos 6 aos 11 anos e triplicou entre os 12 e os 19 presentemente no Canadá 30% das crianças tem peso a mais, das quais 15% são obesas. Embora não existam, que eu saiba, números referentes aos jovens luso-canadianos é óbvio, que o problema é tanto ou mais grave na comunidade luso-canadiana. Basta ir a um casamento, baptizado, ou qualquer sítio aonde se vejam muitas crianças luso-canadianas, para verificar que um bom número têm peso a mais. Um destes dias, até vi que numa procissão, uma grande parte dos anjinhos eram gordos. Calro que muitos pais especialmente avós, desconhecendo que a gordura, que talvez seja para eles formosura, não é boa para a saúde, não reconhecem a gravidade do prolema e dizem com muita alegria que os seus meninos de dois anos usam roupas dum tamanho para uma criança de 4 ou 6 anos de idade.
Aina há pouco tempo uma senhora me contava que o seu filho estava magrinho, porque fora a uma festa de Primeira Comunhão e todos os meninos que lá estavam eram mais gordos do que ele. Depois de pesar o menino, disse à senhora, que ele estava perfeitamente normal, os outros é que eram gordos. Lembrei à senhora em questão que o filho era como o homem duma história que me contava a minha avó quando era pequenino, que foi a uma terra em que todos eram coxos, e as pessoas começaram adizer que ele tinha um defeito. Afinal não era o visitante que estava defeituoso, eram os que o rodeavam que estavam aleijados. Ele era o único são e escorreito.
No entanto, segundo o estudo do instituto americano a que me estou a referir, o qual devo dizer prova um facto conhecido há muitos anos pelos estudiosos de asunto, uma grande parte da culpa da obesidade deve-se às formas habilidosas, direi mesmo diabólicas do “marketing” de alimentos para crianças com grande quantidade de açúcar, gordura e sal, os chamados “junk foods” (alimentos de baixa qualidade nutritiva). Desta maneira, mesmo os pais que sabem que a obesidade é má para a saúde das crianças, têm que lutar contra um inimigo poderoso, as companhias produtoras do tal “ junk food”, que usando a televisão e outras formas de propaganda e promoção como o rádio, brinquedos e revistas, canções, filmes materiais de educação, INTERNET e até mensagens nos telemóveis, procuram fazer uma lavagem ao cérebro das crianças para que elas comprem ou “forcem” os pais a comprar alimentos que as fazem engordar e portanto são prejudiciais à sua saúde.
Não devemos esquecer que as crianças e às vezes até os adultos, não são capazes de distinguir aquilo que é propaganda comercial da verdade. Assim se a televisão diz que a Cocacola ou um doce são bons, eles acreditam. Enfim não conseguem distinguir entre o que é um anúncio e uma notícia verdadeira.

Uma doença verdadeira

Talvez ainda existam pessoas que pensem que a gordura é boa para a saúde das crianças, não iremos de forma alguma debater se ser gordo é bonito ou feio, no entanto está provado que uma boa parte das crianças que têm peso a mais, quando chegam a adultos irão ser gordos.
Também é sabido, que as pessoas gordas têm mais probabilidade de ter diabetes, tensão alta, trobomses, ataques do coração, e certas formas de cancro e reumatismo nos joelhos e articulações das ancas. Claro que ninguém afirma que todos os fordos têm diabetes ou tensão alta e que todos os magros estão livres dessas doenças. No entanto, não é preciso ser um cientista para chegar à conclusão que os gordos têm por exemplo, mais diabetes. Essa é a razão, porque a medida que aumetna a obesidade, cresce o número de diabetes. No momento presente no Canadá 5% da população ou seja 1.300,00 pessoas têm diabetes.
Quando eu andava na Faculdade de Medicina aprendi que aquilo o que hoje chamamos diabetes tipo 2, era uma doença dos adultos. Hoje há tantos meninos gordos, que essa doença começa a aparecer entre as crianças. Eu por exemplo, tenho dois casos entre os meus doentes e o mesmo pode se dizer dos meus colegas.
Também o colesterol alto, hipertensão e até atques cardíacos, começam a aparecer em pessoas jovens.
O estudo do instituto americano que me referi, o qual é objecto dum artigo na mais prestigiosa revista médica do mundo o News England Journal of Medicine, escrito pelo professor da Universidade de nova York Dr. Marion Nestle, diz-nos que cerca de 30% das calorias consumidas por alimentos e bebidas de má qualidade o chamado “junk food” produzido na sua maioria por grandes empresas alimentares. O artigo em questão, baseado em 133 artigos recentemente publicados, mostra que um dos factores mais importantes na obesidade das crianças é a propaganda comercial e a forma como são vendidos os petiscos de má qualidade. O “marketing” (promoção e venda) desses alimentos é na opinião dos estudiosos do assunto, a principal razão porque as crianças estão cada vez mais gordas.
As companhias que vendem estes “junk foods” Têm levantado grandes dificuldades aos pesquisadores que procuram estudar os métodos que elas usam para promover os seus produtos alimentares de má qualidade. Elas usam métodos psicológicos para estudar as formas como irão influenciar os pais e as crianças e levá-las a consumir os seus produtos. Nos Estados Unidos, as crianças gastam por ano 30 biliões de dólares do seu próprio dinheiro,calcula-se que no Canadá com 10% da população seja 3 biliões para comprar estes alimentos prejudiciais para a saúde, tais como doces,chocolates, pastilhas elásticas, batatas fritas, bebidas como Coca-cola e Pepsi-Cola cheias de açúcar, gordura ou sal.
A empresa Kellog, gastou num ano nos Estados Unidos 22,2 milhões de dólares americanos apenas para promover um “junk food” chamado Cheez-It” que eu não sei o que é, mas que os leitores com filhos jovens ou netos devem ter em casa. Quanto à MC Donald, dispendeu no mesmo ano 258,8 milhões de dólares americanos, para promover os seus produtos.
Interessante notar, que parte da promoção e propaganda é feita directamente às crianças, que depois vão chatear os pais de tal forma com os seus pedidos, de produtos alimentares de má qualidade, que acabam por lhes fazer a vontade.
Segundo o artigo do Dr. Nestle a que me estou a referir, estudos mostram que as crianças de dois anos, são capazes de nos supermercados reconhecerem certas marcas de doces, bebidas e outras “junk foods” e pedirem aos pais que as comprem.
Ainda me lembro dum dos “meus meninos”, criança precoce e hoje com um curso universitário de engenharia, que como todos os bebés detestavam as “picas”, interrompia o choro, quando os pais lhe perguntavam o que é que tu gostas e ele respondia Mc Donald´s.
Recentemente, vi num supermercado uma criança de pouco mais de 2 ou 3 anos ter uma birra monstruosa, para que a mãe lhe comprasse um doce qualquer. A pobre da mãe, envergonhada e cansada acabou por fazer a vontade da criança que por sinal parecia bastante gorda.
Os especialistas na propaganda comercial destes produtos, estão a criar formas de convencer as crianças à semelhança da que teve a birra no supermercado, a convencer os pais, destruir a sua autoridade e seren ekes qeum escolhem o que vão comer. Neste mundo dominado pelo consumismo, as empresas produtoras do “junk food” procuram, usando métodos científicosm criar uma situação em que crianças de pouca idade controlam os pais e escolhem o que querem comer, mesmo que isso seja um alimento prejudicial. Ainda há pouco tempo, perguntei a uma mãe por sinal com um filho bastante gordo, porque é que a criança já de si com peso a mais, estava a comer uma caixa enorme de um doce qualquer muito anunciadp na televisão. A resposta deixou-me espantado. “Eu relamente não gosto que ele coma essas coisas, mas ele é que quer!”
Estudos referidos no artigo a que me estou a referir mostram que nos tempos presentes os meninos é que escolhem o que eles comem e não os pais.
Infelizmente, a sua escola é baseada nos anúncios da televisão ou outras formas de promoção como brinquedos, músicas, etc.
Nos Estados Unidos, e nisso estão sem dúvida à frente do Canadá, começam a aparecer associações de consumidores e instituições dedicadas à saúde pública, que usando um método muito americano, os tribunais,começaram a instaurar processos judiciais contra as companhias produtoras do “junk food” por promoverem os seus produtos, directamente às crianças.
Em Janeiro deste ano, vários grupos de pais e associações de promoção de saúde, no Estado de Massachusetts, levaram ao tribunal a compahia de alimentos Kellogs e a rede de estações de televisão Nickelodeon, por estarem a promover alimentos de má qualidade (Junk Food) às crianças.
No Canadá, nomeadamente em Toronto, várias esolas e Boards fo Education (comissões escolares) estão a proibir a venda de “Junk Food” nas escolas, o que é um grande passo em frente da luta contra a obesidade dos jovens.
No entanto, outros países como a Austrália, Holanda e Suécia têm hoje leis que proibem a promoção de alimentos a jovens e crianças.

Concluindo

A obesidade nas crianças não é uma questão de estética, mas um problema de saúde extremamente sério. Estamos a criar uma geraçao de pessoas com excesso de peso, que dentro de poucos anos irão sofrer de diabetes, doenças do coração, tensão e outras doenças associadas com a gordura.
É preciso que os governos provinciais e federal do Canadá, siga os exemplos de países como a Autrália, Suécia e Holanda ou das Comissões Escolares de Toronto e instituam leis que proibam a lavagem cerebral as nossas crianças, pelas empresas que produzem alimentos de má qualidade os chamados junk food.
Sugerimos que na próxima vez que um político bata à porta do leitor ou fale consigo numa função pública, lhe diga que o governo ou legislatura a que pertence, deverão fazer qualquer coisa para parar esta epidemia de obesidade nos jovens, particularmente proibir a promoção de “junk food” às crianças que ainda não tem idade para discernir entre o que é a realidade e p que é a promoção comercial.
Este é um dos problems, para o qual os políticos podem e devem dar uma contribuição, ainda maior do que a dos médicos e o pessoal da saúde.