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Por: Ferreira Moreno
Nos Açores temos muitas localidades e
povoações com o nome de Fajã, entre as quais
se destacam as freguesias micaelenses de Fajã de Cima e
Fajã de baixo, bem como as freguesias de Fajã Grande
e Fajãzinhas na ilha das Flores.
No entanto, é em S. Jorge que vamos encontrar as mais características
fajãs açorianas, condizentes com o respectivo topónimo.
O seu número eleva-se de cinco dezenas, conforme o testemunho
que nos legou o saudoso amigo José Rodrigues Ribeiro (1919
– 2001), no seu “Dicionário Coreográfico
dos Açores” publicado em 1979.
Carlos Faria, um continental da Golegã que se enamorou
pela Ilha Esmeralda de S. Jorge, descreveu as fajãs nesta
toada romântica: “São as mãos leves
da ilha sobre o basalto e o mar.”
Norberto Ávila, amigo de longa data (1952), informa-nos
serem as fajãs “faixas costeiras, de extensão
e inclinação muito variáveis, mas quase sempre
em forma de pronunciado anfiteatro, que certamente resultam de
muitos antigos abatimentos, de derrocadas de serras altaneiras,
ou, paralelamente, de acumulação de materiais de
aluvião, trazidos pelas inúmeras ribeiras, algumas
de águas perenes.” (As Fajãs de São
Jorge, 1992).
Consequentemente, no dizer de Guido de Monterey, “o maior
feitiço e a maior rutilância da ilha apresentam-se
nessas mesmas fajãs, pedaços de doçura espalhados
por entre a agressividade das alterosas falésias.”
(Deus Ilhas no Centro do Arquipélago, 1981).
Acasaladas entre terra e mar, numa ilha alongada e de costas abruptas,
as fajãs jorgenses enquadram-se numa mimosa cena de noivados
na vasta diversidade paisagística açoriana, Além
dos habitantes permanentes em várias fajãs, há
muitas famílias com residências p’ra veraneio
ou de apoio p’ró cultivo das suas vinhas e arranjos
das suas quintas.
O ambiente destas fajãs é duma tranquilidade inalterável,
mas em séculos passados estes lugares viveram momentos
de aflição e tragédia provocados pelos assaltos
de piratas norte-africanos e europeus. E ainda no século
19, recorda-nos Norberto Ávila, “eram os veleiros
dos Estados Unidos que por ali passavam, recrutando baleeiros
ou recolhendo emigrantes mais ou menos clandestinos.”
Na impossibilidade em enumerar todas as fajãs jorgenses,
optei em assinalar apenas as fajãs pontuadas com o encanto
de ermidas históricas...
A Fajã da Caldeira, considerada a mais pitoresca e bela,
possui a ermida do Senhor Santo Cristo, aberta ao culto aos 10
de Novembro de 1835. Na orla interior da lagoa (caldeira) encontram-se,
procurando-as a bico de aluvião, amêijoas, marisco
apreciável que, em todo o arquipélago dos Açores,
“só aparece naquela localidade jorgense.” (Padre
Manuel de Azevedo da Cunha, Notas Históricas, Volume I,
1924).
A Fajã dos Cubres tem a ermida consagrada a Nossa Senhora
de Lourdes, inaugurada aos 18 d’Outubro de 1908, por iniciativa
dum certo Faustino Nunes, emigrante da Califorlândia. Nossa
Senhora da Boa repousa na sua ermida (fundada em 1711 e reconstruída
em 1883) na Fajã de Santo Amaro, enquanto Nossa Senhora
das Dores está instalada na sua ermida na Fajã do
Ouvidor (1903). Por sua vez, Nossa Senhora de Fátima reside
na sua ermida (1946) na Fajã da Ribeira de Areia.
A Fajã dos vimes, famosa pelo seus inhames e vinho de cheiro,
ufana-se da sua elegante ermida do orago de S. Sebastião.
Na Fajã das Almas existe a ermida da evocação
de Nossa Senhora das Almas, que deu o actual nome da Fajã,
igualmente conhecida por Fajã do Calhau, visto estar situada
numa área rodeada por calhaus.
Santa Filomena, desde 1980, tem a sua ermida e festa na Fajã
de Penedia, enquanto Nossa Senhora da Luz tem a sua ermida e festa
na Fajã da Queimada. A Fajã Grande presta homenagem
ao Bom Jesus Milagroso na sua ermida, sita no Outeiro das Mentiras
e benzida aos 18 d’Outubro de 1896. O popular S. João
é festejado na Fajã com o nome do santo e ermida
fundada em 1550.
Finalmente, a Fajã da Fragueira, lugar do nascimento de
Francisco de Larceda (1869 – 1934), o grande maestro português
cujo mérito atravessou fronteiras e conquistou Paris!
Acenando adeus, aqui seguem algumas quadras extraídas do
livro “O canto de um Lavrador”, publicado em 1996,
da autoria do jorgense José Soares, nascido em 1927...
Ó S. Jorge, minha ilha,
A mãe de tantas fajãs;
O reino da maravilha
Que o sol beija nas manhãs.
Neste bonito altar
Algumas foram poupadas:
As fajãs, à beira mar
De beleza recheadas.
As fajãs são a beleza
Dos vestir deste torrão:
Desenhos da Natureza
Que o homem pôs na mão.
Tive a sorte de ter nascido
Nesta ilha portuguesa.
E de sempre ter vivido
Abraçado à Natureza.
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