|
Mais importnate do que parecem, os médicos na sua
maioria desteam-na e os doentes popuco sabem a seu respeito
Estas colunas têm dois objetivos, um o
de informar os leitores e o outro de exprimir opiniões
do autor com o fim de estabelecer um debate sobre assuntos que
interesseam à nossa comunidade.
Claro que para se ter opiniões é preciso estar informado.
Uma pessoa não pode ter opiniões sobre a cultura
e o preço das melancias se não tiver um conhecimento
elementar aonde elas existem e como são plantadas. Infelizmente,
muitas vezes ouvem-se pessoas exprimir opiniões com grande
entusiasmo baseadas em factos absolutamente errados. Um deles
é acrença que nasceu ninguém sabe como, de
que a Rainha da Inglaterra recebe dinheiro do Canadá. Claro
que a senhora de quem não nos conseguimos livrar, por razões
já mencionadas noutros artigos, mas que se podem resumir
ao facto de que para corrermos com ela era preciso o acordo das
províncias que pelo visto é quase impossível
, não recebe um céntimo do Canadá. Claro
que quando visita este país, à semelhança
de qualquer chefe de Estado, seja ele o Dr. Jorge Sampaio ou o
Sr. George Bush, tem como se diz em português, casa, comida
e roupa lavada e mais nada.
Dr. Tomás Ferreira
Um assunto que nos deve interesar a todos, é
o donoso sistama de saúde, conhecido ao nível do
Canadá com o nome de Medicare e na província do
Ontário há mais de 35 anos pelas iniciais de OHIP,
a quem a maioria dos luso-canadianos insistem em chamar Ontario
Hospital quando o “H” quer dizer Health (saúde).
Desta maneira o quadradinho de plástico que temos todos,
é o cartão da saúde (health) e nao do hospital.
Mais um erro causado pela falta de informação.
Noutros assuntos relacionados com a Saúde, alguns deles
mais sérios do que o usar o nome “Hospital”
em vez de Health (saúde) a falta de conhecimentos é
igual, como é aquele que me vou referi hoje. A propósito
devo afirmar que a coluna de hoje não constitui a minha
opinião pessoal, mas trata-se apenas de factos, que qualquer
pessoa pode verificar no Website do College of Physicians and
Surgeons of Ontario www.cpso.ca
Fui levado a escrever este artigo, pelas perguntas que frequentemente
me fazem sobre o assunto das fichas médicas, que revelam
que muita gente não está informada sobre este importante
aspecto do nosso serviço de saúde.
“Medical Records”
Estas palavras que se poderão traduzir
por fichas clínicas, consistem na informação
escrita que o nosso médico ou o hospital têm, referente
a nós. Essa informação, tem hoje grande importancia
tanto médica como legal. Nesses documentos está
a “história da nossa vida” desde os remédios
a que somos alérgicos ou estamos a tomar, até as
operações e tratamentos que nos fizeram, doenças
que tivemos e até os nossos v´ciios como beber em
excesso, fumar, o nosso comportamento, enfermidades familiares
problemas psicológicos ou sociais, etc.
Além da parte médica, a nossa ficha clínica
tem importancia legal, como no caso duma pessoa que teve um acidente
ou está a processar um médico ou um hospital por
ba sua opinião ter sido mal tratada, assédio sexual,
violência, etc.
Em casos como estes, que mutias vezes vão parar nos tribunais,
a informação que o médico ou o hospital possuem
podem ser muito importantes, envolver milhões de dólares
de compensação ou punições como a
perda de licensa para prtaicar medicina ou até a prisão.
Nesta medida, a organização que regista os médicos,
é responsável pela manutenção dum
nível de cuidado médico aceitável e até
se for necessário capaz de punir os clínicos, é
o College of Physicians and Surgeons of Ontario (não confundir
com o Royal College od Physicians, o Royal College of Surgeons
e o Canadian College of Family Physiscians), tem grande interesse
em que os médicos mantenahs as suas fichas clínicas
em ordem.
Elas devem seguir uma lista bastante detalhada de regras, nomeadamente
serem claras, legíveis e conterem a história clínica
do doente, alergias, tratamentos, observações médicas,
admissões hospitalares, cartas de outros médicos,
relatórios, resultados de radiografias e outros testes
etc.
Toda esta informação é considerada um documentos
legal dessa maneira nenhuma parte pode ser retirada, adicionada
ou emendada. Alguns médicos foram punidos, porque meses
ou anos mais tarde, emendaram as fichas dos seus doentes, coisa
que hoje é possível de identificar usando técnidas
modernas como aquelas que são mostradas nas séries
televisivas americanas CSI.
O dono das fichas
Os médicos antigos falavam uns com os
outros e escreviam em latim para que os doentes não soubessem
aquilo que estavam a tratar.
Quando cheguei ao Canadá, há mais de trinta anos,
ainda as embalagens dos medicamentos, não traziam o nome
do remédio, mas apenas um número de código.
Hoje vai-se à farmácia comprar comprimido para uma
dor num joelho e o farmacêutico às vezes dá
um sermão de 5 minutos sobre o remédio e entrga
várias págias com os perigos do medicamento o que
é o equivalente de antes de atravessar a rua, recebermos
um papel com os perigos envolvidos, que vá desde escorregar
numa casca de bananas, ou ser atropelado por um autocarro, automóvel,
bicicleta, cavalo ou ser mordido por um cão, não
contando com o ser atingido por uma parte do telhado ou vaso que
caia de uma janela.
No momento presente, a lei que nos rege diz-nos que o doente tem
direito a tomar conhecimento de tudo o que está na sua
ficha. Alguns médicos antgos, ainda hoje dão caras
fechadas aos doentes, mas isso é aboslutamente contra as
regras e o doente pode e deve abria-las. Na realidade toda informação
contida na ficha pertence ao doente, que tem o direito de fazer
com ela o que quiser, desde de lê-la duma ponta a outra,
a publicá-la no jornal.
Essa regra porém, como muitas outras tem algumas excepções
e em casos muitos especiais, quando a informação
poderá prejudicar uma outra pessoa ou o próprio
paciente, o médico pode impedir o paciente de ter acesso
a algumas partes da informação.
Por exemplo, na fcha duma criança está escrito que
ele não é filha da pessoa que toda a gente julga
que ela é o pai. Essa era uma informação
importante porque na família do verdade pai, existe uma
doença perigosa que se transmite aos filhos. Por outro
lado, a informação fpo obtida pela mãe, que
poderá omitir quando lhe pedirem a ficha da criança,
embora deva informar o College ou no caso dum tribunal o juiz.
Eu já uma vez fui chamado a ser testemunha num julgamento
e quando o juiz me pediu para ler uma certa página das
minhas notas clínicas e em pleno tribunal, pedi autorização
para me aproximar do magistrado e dizer-lhe que tinha razões
para não revelar em público umas linhas do documento,
pois eria prejudicial para uma das pessoas envolvidas. O juiz,
que por sinal era uma senhora, disse-me que não me preocupasse,
uma vez que o assunto já tinha sido revelado por várias
testemunhas.
Dirá o leitor, se a minha ficha me pertene, poderei ir
ao consultório do meu médico e perdir-lhe para que
me dê tudo o que ele tem sobre mim. A resposta no entanto
é negativa. Os tribunais decidiram depois dum caso que
ficou famoso, que a informação pertence ao doente,
mas o papel em que está escrita ao médico. Desta
maneira o doente pode ir ao consultório, ler tudo o que
lá está ou melhor tirar cópias mas as fichas
ficam na posse do clínico, mesmo que o doente mude de médico.
Por outro lado, o seu pessoal que vão gastar e ter trabalho
a organizar os papéis das fichas têm o direito a
ser pagos pelo seu trabalho.
Essa quantia, que segundo os novos regulamentos publicados em
Abril deste ano, poderá ser exigida antes do trabalho ser
feito, deverá ser na opinião do College razoável.
Isto exclui levar 5 céntimos ou 5.000 dólares, mas
é na realidade muito vago. Pessoalmente sou da opinião
que deveria existir uma tabela com um certo número de céntimos
por página.
Privacidade
Há tempos, num clube português estava-se
a falar duma certa pessoa e das doenças que ela tinha.
Eu como os outros dei a minha opinião e até fiz
algumas sugestões, sobre os possíveis tratamentos.
Alguém perguntou-me se a pessoa em questão era meu
doente, eu disse-lhe que isso era impossível, pois se fosse,
não diria uma palavra sobre o assunto.
Esse respeito pela privacidade é muito importante para
o “College” que impõe regulamentos rigorosos
para manter a privacidade dos doentes, que váo ao ponto
de esposos, pais e mães não terem acesso à
informação sobre um doente, sem a sua autorização
quer formal quer tácita como é o caso do casal em
que um dos cônjuges me telefona a saber duma análise
simples como o colesterol no sangue que ele ou ela fizeram. No
entanto, isso já não se aplica se análise
fosse para a infecção do vírus VIH (HIV),
que causa a SIDA (AIDS) ou outra coisa muito séria. Também,
se um dos membros dum casal revela ao médico que tem um
vício como o da bebida, o médico não pode
informar ao outro.
Neste país ninguém, mesmo a polícia ou o
governo. Está autorizada a examinar a ficha dum doente.
Apenas a ordem dum tribunal poderá permitir que a privacidade
seja quebrada.
Claro que se o doente der autorização, a sua ficha
fica aberta e exposta ao exame dos outros. Infelizmente, muitas
vezes as pessoas desconhecem que ao fazerem um seguro, pedirem
uma indenização ou envolverem-se em certo casos
litigiosos, assinam um papel que dá aos outros o direito
a lerem a sua ficha clínica. Isto faz-me lembrar o caso,
já vão lá uns vinte anos, em que tinha uma
daquelas doenças que ninguém sabe ao certo o que
são, mas que dão dores sem explicação.
O bom homem, ficava doente em casa, pelo menos uma vez por mês
do que resultava que me vinha visitar frequentemente, para levar
uma nota para o trabalho, que claro que tinha de ficar registada
na sua ficha. Um dia ele quis fazer um seguro de vida, assinou
o tal papel e a Companhia de Seguros, ficou a saber que ele tinha
estado doente, mais duma dúzia de vezes num ano, do que
resultou que o rejeitaram. Ele ficou muito zangado, porque eu
tinha dado essa informação e quebrado a sua privacidade.
Aliás se eu me tivesse arriscado a perder a minha licença
e fosse deshonesto e mentisse, e o bom homem obtivesse o seguro,
mas morrido algum tempo depois, a família não receberia
umcéntimo qualquer quando a companhia de seguros, que tinha
acesso à ficha clínica, verificasse que eu e o doente
tinhamos mentido.
Mortos ou Reformados
Os médicos abam todos por ser reformarem
mudarem de local de trabalho, e alguns até morrem.
Segundo à opinião do College of Physicians and Surgeons
publicada no seu Boletim de Março e Abril, o médico
que cessa o seu trabalho os seus herdeiros têm duas opções.
Uma delas é de outro médico tomar conta dos doentes
daqueles que deixou de praticar. Para isso, o novo médico
deverá usar o mesmo consultório, mantendo a mesma
morada e número de telefone.
Outra opção é o médico que terminou
o seu trabalho, os seus herdeiros ou representantes guardarem
as fichas num local acessível, que poderá ser uma
companhia especializada nesta tarefa.
Segundo College, o médico ou os seus representantes, deverã
ofazer um esforço razoável para informar todos os
doentes do que se está a passar incluindo usando jornais
comunitários.
Também, segundo os regulamentos do College, as fichas clínicas
deverá ficar armazenadas pelo período de dois anos,
ao fim do qual deverão ser destruídas.
O College, nos seus regulamentos chamados os PHIPA (Personal Health
Information Act), sugere que durantes esse prazo de dois anos
os doentes obtenham as suas fichasclínicas ou requeiram
que elas sejam transferidas para outro médico.
Quando cheguei ao Canadá, conheci médicos que tinham
toda a informação sobre um doente em cartões
do tamanho dum bilhete postal. Com os tempos as coisas se tornaram
mais complicadas e hoje o “College” encia inspectores
aos consultórios médicos para verificar se as fichas
e registos dos doentes estão em ordem. O não cumprimento
das instruções do nosso “patrão”
pode levar o médico a ser obrigado a tirar um curso de
reciclagem, ser suspenso ou até a perder a licença.
Quanto às companhias de seguro, tribunais, fundo do desemprego,
pensões WSIB (Compensação para desastres
de trabalho) e outras instituições, andam sempre
a pedir fichas aos médicos.
Também, com a medicina cada vez mais complexa é
importante que se possa guardar duma forma correcta e acessível
toda a informação que existe sobre um doente. Algumas
fichas pesam mais de um quilo e meio. Claro que os médicos
detestam a “papelada” mas não há dúvida
que para fazer uma medicina moderna e eficiente é preciso
dar atenção *as fichas clínicas dos doentes.
Enfim como muitas coisas nesta vida, as fichas médicas
são mais importantes e complexas de que aquilo que parece
à primeira vista. Finalmente espero que o leitor fique
um pouco mais esclarecido sobre este assunto, que afinal é
bastante importante e até essencial para um bom cuidado
médico.
Quando vir o seu médico a ouvi-lo e atarefado a escrever,
já sabe que ele está afazer uma coisa importante
para a sua saúde.
Eu tinha planeado dedicar a coluna desta semana, ao meu grande
amigo e companheiro de actividades comunitárias Valter
Lopes, que faleceu a 30 de Junho. No entanto, outro amigo e também
companheiro das mesmas lutas, José Carlos Cardoso, como
eu estava ausente escreveu uma elegia, que para mais tinha uma
cois que eu não era capaz de oferecer, um excelente e sentido
poema.
Não quero porém deixar de mencionar nesta coluna,
a grande perda que foi para a sua família, amigos e comunidade
luso-canadiana, a morte súbita de Valter Lopes, uma pessoa
boa, dedicada a todos os que a rodeavam. Na realidade, bondade
e dedicação e também bom humor, tolerância
e amizade são palavras que nos ocorrem quando pensamos
no Valter, um amigo que conheci há mais de trinta anos,
do qual nunca ouvi uma má palavra, ou me apercebi dum mau
pensamento.
Apesar de ter sido atingido por muitas tragédias que teriam
feito a maioria das pessoas cheias de amarguras, irascíveis
e anti-sociais, Valter Lopes nunca perdeu o seu bom humor e alegria
de viver, sendo um exemplo para todos nós como é
possível vencer as contrariedades da vida e manter uma
atitude firme, digna e de amor pelo próximo.
Adeus bom amigo, descansa em paz, que bem o mereces.
Quanto a nós os amigos que ficaram cá, não
te esqueceremos e tentaresmo seguir o teu exemplo de amor, coragem
e tolerância.
|