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- O Pioneirismo Empresarial Português
na Costa Ocidental do Canadá -
Por José Ferreira - Adiaspora.com
Setembro, 2003
Floriano Tomé quando operário
na construção do troço
da linha ferroviária entre Terrace e Kitimat
Floriano Benevides Tomé nasce a 7 de Fevereiro
de 1933 na freguesia dos Arrifes, S. Miguel, Açores. Aos
22 anos de idade parte no navio Ornelas para a ilha de Santa Maria,
para embarcar, a 11 de Maio de 1956, na Air France, para a cidade
de Montreal no Canadá onde, esperava ele, encontrar um
futuro mais risonho e promissor.
Floriano (extrema direita) abordo do navio
Ornelas
a caminho de Santa Maria
À chegada aguardava-lhe, nesta cidade, trabalho numa
fazenda de floricultura. Mas, após poucos dias, resolveu
que lhe seria mais vantajoso estar junto de alguém conhecido
que lhe pudesse facultar alguma companhia e apoio. O seu primo
Álvaro Leite encontrava-se, na altura, ao emprego de uma
fábrica de alumínios, Alcan, em Kitimat, uma pequena
povoação isolada situada no norte da Columbia Britânica,
perto da fronteira do Alasca. Decide Floriano então juntar-se
ao primo, e parte para Kitimat de comboio, numa longa e árdua
travessia que duraria seis dias e cinco noites.
Mas antes de alongarmos na nossa crónica, queríamos
partilhar convosco um episódio engraçado e algo
insólito que Floriano nos contou. Foi, em Portugal, polícia
por um dia com colocação destinada na Ilha do Faial.
Contudo, num só dia, teve de decidir o seu futuro; deslocar-se
para o Faial ou partir para a aventura do desconhecido no Canadá.
Ouviu vários conselhos de amigos que lhe informaram que
o Canadá, apesar do frio e dos Invernos rigorosos, disponha
de uma moeda forte e oferecia oportunidades para quem quisesse
trabalhar. E num arrebate de inspiração de última
hora decide: "Vou p'ro Canadá!"
Em Kitimat foi trabalhar na construção
dos caminhos-de-ferro, no troço entre Terrace e Kitimat.
Naquela altura, o seu salário era de 95 cêntimos
por hora. Durante os primeiros seis meses de trabalho nas linhas
ferroviárias não teve contacto algum com a sua língua
mãe, pois os seus colegas eram todos de outras nacionalidades,
o que o ajudou a aprender mais rapidamente o inglês, pois
a necessidade, de facto, aguça o engenho! Apareceu, certo
dia, um novo colega no local de trabalho e, finalmente, eis um
português de nome Manuel, e do Faial, pois esta ilha parecia
querer seguir-lhe o destino, até nestas longínquas
terras! Mataram as saudades ao falarem da sua terra e dos seus
e foi grande a alegria em puder comunicar novamente na língua
de Camões. Floriano permaneceu cerca de três anos
neste duro labor.
Floriano (extrema esquerda) com os seus colegas
de trabalho
em Kitimat
Nesses tempos passados, núcleo de portugueses em Kitimat
rondava as 500 almas, sendo a maioria do continente e das ilhas
açorianas do Faial, Terceira, Pico e S. Miguel. Trabalhavam
estes, na sua maior parte, na fábrica de alumínios
Alcan, que naquela altura pagava $1.60 por hora, oferecendo aos
empregados várias regalias e benefícios, entre os
quais um subsídio de aluguer para incentivar os seus trabalhadores
a trazerem as suas famílias para junto deles. Outros, ainda,
encontravam-se empregados na construção civil e
na linha ferroviária. Tinham por costume agregarem-se aos
Domingos na Holy Family Church, onde tinham oportunidade de partilhar
as novas que iam chegando, gota a gota, de Portuga,l e gozar da
companhia e solidariedade dos seus conterrâneos, combatendo,
assim, a saudade e o isolamento que são das vertentes menos
aprazíveis do fenómeno da emigração.
Nesses tempos, aquela região era assolada por severos
temporais e Invernos longos e frios que cobriam a terra com uma
espessa manta de neve. Os fortes nevões que ali caíam,
por vezes eram tão densos e intensos, que havia dias em
que a fraca visibilidade não deixava sequer vislumbrar
o caminho de casa.
Decide Floriano, então, que a vida lhe seria menos solitária
naquelas novas, estranhas, e por vezes, inóspitas paragens.
Casa por procuração com a jovem Maria Natália
Borges, sua noiva de longa de data. Mais tarde, a jovem esposa
viria atravessar os mares para se juntar ao seu esposo, deixando
os Açores em 14 de Janeiro de 1961 a caminho de uma nova
vida e forma de estar. A pujança da juventude mesclada
com a saudade de quem ama, apressou-se a presentear o jovem casal
com um belo rapagão a 29 de Novembro desse mesmo ano, a
quem deram o nome de David.
Em Outubro de 1959, decide tentar a sorte na cidade de Vancouver,
onde lhe esperava, desta feita, melhor remuneração
- a bela quantia de $1.00 por hora!
Muito antes da sua insólita aventura na força policial
portuguesa, Floriano trabalhara na floricultura e jardinagem para
a Junta Geral até ingressar no exército. Acabou
por colher dividendos, no Canadá, desta experiência
angariada no Jardim Augusto Ataíde de Ponta Delgada. Logo
após a sua chegada à cidade de Vancouver, o destino
quis que Floriano travasse conhecimento com outros dois jovens
portugueses, um do Nordeste dos Açores, e um outro Aveirense.
Estes, ao descobrirem que Floriano possuía experiência
no sector da jardinagem e floricultura, incentivaram-no a juntar-se
a eles, pois aqueles jovens trabalhavam então numa quinta
de floricultura em Richmond.
Ali exerceu o seu ofício, entre a companhia de conterrâneos,
até certo dia em que reparou que o patrão andava
a plantar certas espécies fora de época. Floriano,
audaz, abordou o seu patrão e, em seu parco e fraco inglês,
o aconselhou qual a estação do ano mais apropriada
para a planta. Este, surpreendido pelos conhecimentos deste jovem
desconhecido, logo o destinou ao cargo de capataz. Mas Floriano,
com o espírito de negociante já a flor da pele,
retorquiu "Aceito. Mas numa condição. Que me
pagues $1.00 por hora!" E assim se selou o contrato.
Mais tarde, resolve mudar de ramo e emprega-se no primeiro restaurante
português de Vancouver e da Columbia Britânica,
O Lanterna, cujo proprietário era o Manuel Resendes,
um outro Açoriano aventureiro, natural da Feteira, no Nordeste.
Em 1962, estabelece-se com restaurante próprio, Cottage
Restaurant, sito na First Avenue, onde permanece durante aproximadamente
19 anos, estabilizando a sua vida doméstica e financeira
e angariando valiosa experiência na indústria hoteleira.
Decide então mudar para novas instalações
sitas no 1441 Commercial Drive, em pleno coração
da comunidade portuguesa em Vancouver. A qualidade das iguarias,
do serviço e da simpatia que Floriano tem oferecido à
sua clientela ao longo dos anos, fizeram dele uma das figuras
mais populares, conhecidas e queridas da sua comunidade.
Além do serviço de restaurante, o Cottage,
foi pioneiro no sector de catering, tendo servido numerosos banquetes,
baptizados e casamentos, não só entre os portugueses,
mas também entre a restante população canadiana
da região. Os pequenos-almoços do Cottage
são bem conhecidos e, ao travarmos conversa na rua com
um anglófono da zona, foi-nos informado que é considerado
um dos restaurantes clássicos da movimentada Commercial
Drive.
Diz-nos Floriano que hoje poderia subsistir da
reforma, mas a sedução do contacto humano, e da
amizade manifesta da sua clientela não permite que se aposente.
Floriano Tomé e sua esposa, Maria
Natália,
no Restaurante Cottage em Vancouver
Adiaspora.com agradece a recepção carinhosa,
hospitaleira e calorosa de que foi alvo aquando da nossa deslocação
a Vancouver neste verão. Jamais será olvidado por
nós, este generoso e empreendedor homem das ilhas e cidadão
do mundo.
Reportagem exclusiva de Adiaspora.com
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