MORREU O GENERAL VASCO GONÇALVES
(1922-2005)

Por: Carlos Morgadinho
Adiaspora.com

 

 

Tinha chegado a Lisboa apenas há três dias quando inesperadamente me chegou a notícia da morte deste militar, no dia 11 de Junho de 2005, que contava 82 anos de idade. Não pude, e com muita pena, por compromissos já previamente assumidos nesta minha deslocação a Portugal, estar presente no funeral desta figura, polémica para muitos, mas que marcou o período conturbado logo após o 25 de Abril de 1974, quando integrado na Comissão coordenadora do MFA e mais tarde como primeiro-ministro dos sucessivos II a V governos provisórios, que se realizou na tarde do dia 13 de Junho, para o cemitério do Alto de S. João. No entanto visitei, dias depois, a campa deste cidadão e militar que desde muito cedo, nos finais de 1973, se envolveu no Movimento dos Capitães, embora já com o posto de Tenente-Coronel, para lhe deixar uns quantos cravos vermelhos.

Fiquei emocionado ao ver a sua campa, simples e rasa, no sector militar daquele cemitério, carregada com mais de um metro de altura de flores, na sua maioria, os cravos vermelhos bem peculiar da caricatura que então, no período conhecido, por muitos, de “Verão Quente”, em que Vasco Gonçalves é retratado com um amplo sorriso cheirando o cravo da Liberdade.

Embora não perfilhasse de algumas cláusulas da sua filosofia partidária, tenho no entanto, de reconhecer, acima de tudo, a transparência, honestidade e a coerência do seu pensamento, virtudes essas que, infelizmente, a maioria dos nossos políticos e governantes não são seguidores. Essa é talvez a razão porque muitos lhe apontaram ser um mau governante aquando primeiro-ministro nos governos que encabeçou. É que a mentira e as promessas vãs, que hoje é corriqueiro nas atitudes dos nossos políticos e até governantes, não tinham, de maneira nenhuma, guarida na alma de Vasco Gonçalves. E a prova dos nove está no respeito que o Povo nutria por esta figura emblemática da Revolução de Abril que, aos milhares, o acompanharam até à sua última morada. Chamavam-lhe de “Camarada Vasco”, e diziam-lhe, quando o viam passar, “Vasco Amigo, o Povo está Contigo” e “Força, Força Companheiro Vasco, nós seremos a muralha d’aço”, sendo, quiçá, o mais querido Revolucionário da Revolução de Abril. Sempre pugnou pelos mais fracos sendo, nos Quartéis onde prestou serviço militar nos anos da Ditadura, tido por proteger os soldados como se de um autêntico “Pai”se tratasse, sem que, todavia, descurasse a disciplina militar. Era justo e por isso era amado. Nunca permitiu que os abusos e prepotências proliferassem contra as camadas mais baixas da hierarquia militar.

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Ainda há poucos dias num clube social da nossa Comunidade, aqui em Toronto, alguém meu amigo de longa data me falou no nome do General Vasco Gonçalves e lamentou a sua morte. Esse elemento de quase setenta anos de idade, acrescentou ter o máximo respeito por aquele militar pela convivência que com ele teve porquanto serviu sob o seu comando – era o seu Comandante de Companhia num Agrupamento da Arma de Engenharia - numa comissão que fez na antiga Índia portuguesa, nos anos cinquentas.

Conheci-o pessoalmente em Novembro de 2004 aquando do Primeiro Congresso da Democracia, em Lisboa, promovido pela Associação 25 de Abril e o entrevistei para o Magazine da Associação Cultural 25 de Abril de Toronto comemorativo do Trigésimo Primeiro Aniversário da Revolução dos Cravos, nas instalações da Caloust Gulbenkian onde decorria então aquele Congresso. Confesso que foi reconfortante e ao mesmo tempo gratificante falar com aquele militar e ex-político e saber que após tantos anos não se tinha desviado um simples milímetro dos ideais que naquela época distante professava – o amor ao seu Povo e às causas da Justiça Social. Um muito obrigado Senhor General pelo seu esforço em prol dos valores Democráticos e dos mais carecidos que hoje estão, na sua grande maioria, literalmente desaparecidos neste grande Tsunami que muitos chamam de Globalização. Certamente que muitos de nós desconhecem, ou já se esqueceram, que durante o seu Governo foi introduzida e aprovada a Lei, por sua iniciativa, que todo o cidadão português tinha direito ao subsídio de férias e de Natal, benefício que hoje ainda se mantém (até quando?) .

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Dia a dia vamos ficando mais pobres quando Homens deste quilate nos deixam eternamente. São vagas que muito dificilmente serão preenchidas.

À família enlutada apresento as mais sinceras condolências.