O Papel da Ginástica

 

Em 2005, o governo do Ontário, apostando na prevenção (neste caso a prevenção da obesidade infantil) anunciou que iria restabelecer a ginástica diária nas escolas. Muitas vezes, tem-se mencionado a autêntica epidemia de obesidade em todas as faixas etárias e em quase todos os países, mesmo naqueles do chamado "terceiro mundo".

Este excesso de gordura, que antigamente era atribuída a alguma falha hormonal ou tendência hereditária, não se deve somente a esses factores nem à prosperidade pecuniária, mas antes a maus hábitos na alimentação e ao sedentarismo.

Se sempre houve uma ou outra criança obesa, os números são agora desproporcionados, transformando uma condição pessoal num problema social e de saúde pública. Todos conhecemos as nefastas consequências que a obesidade pode ter - diabetes, afecções dos ossos e doenças cardiovasculares entre outras.

Os sucessivos cortes no sistema educacional do Ontário (cuja origem não cabe discutir nestas linhas), causaram a supressão de muitas aulas que eram tomadas como normais, entre elas as aulas de ginástica que envolviam todos os alunos e não só aqueles favorecidos com algumas aptidões atléticas. Em anos mais recentes, as atenções têm sido focadas nos desportos de competição, onde aquelas crianças que não formam parte do "team" são deixadas de fora, forçadas a procurar as suas próprias actividades. Muitas vezes, estas crianças não tem outra escolha senão ficar sentadas a ver televisão ou a jogar no computador, aumentando assim o perigo da obesidade ou piorando uma condição já adquirida.

As aulas de ginástica, diárias e obrigatórias, segundo o governo provincial anunciou, seriam dadas por professores de educação física devidamente formados e motivados, para que o exercício diário fosse algo que os alunos esperassem com agrado e não como uma obrigação aborrecida. Seguindo a mesma lógica, acho que estas aulas deveriam estar dirigidas a todas as crianças e adolescentes, desde o jardim infantil até à universidade.

Se as crianças tiverem a sorte de ser treinadas por um bom professor de educação física, que consiga transformar uma obrigação num desafio, uma possível rivalidade numa competição sadia e uns exercícios aborrecidos numa demonstração de como adquirir agilidade, sem pressões e com paciência, com certeza vão continuar a vida inteira fisicamente activas.

A meia hora de ginástica diária, de que o ministro de Educação falou, beneficiaria as crianças, desenvolvendo os ossos e músculos, queimando as gorduras supérfluas e aumentando o seu poder de concentração (pela maior oxigenação do cérebro). É pena que todo o entusiasmo gerado em 2005 não se tenha traduzido numa realidade generalizada, pois são poucas as escolas que têm conseguido este objectivo. As justificações são a falta de dinheiro e a falta de professores, pelo que as crianças continuam inactivas e obesas.

Os adultos também fariam muito bem em dedicar 30 minutos por dia a fazer algum exercício físico sistemático para prevenir muitos males.

Para isso, existem muitos ginásios que mediante uma quota anual (ou mensal) fornecem equipamentos, máquinas e até treinadores pessoais. Quem não gosta de fazer ginástica em conjunto com outras pessoas pode adquirir (comprar ou pedir emprestado na biblioteca) vídeos que mostram grande variedade de exercícios, desde o Yoga até aos aeróbicos de grande impacto. O mercado do condicionamento físico está inundado de possibilidades... é só escolher!

Convém lembrar, porém, que não é preciso esforçar-se em demasia para se manter em condições físicas aceitáveis. Nunca me canso de repetir que caminhar é um dos melhores exercícios e que, para quem gosta de aproveitar cada minuto, até o trabalho de casa pode ser utilizado como uma ocasião para alongar e contrair os músculos, esticar a coluna vertebral, expandir os pulmões, e estimular o coração, oxigenar todo o organismo, utilizar a esfregona, limpar o pó, passar a ferro, etc. Se os fizermos de forma continuada e com um certo ritmo (a antiga música "disco" dos anos 70 era ideal).

O papel da ginástica é de grande importância para a conservação e até a recuperação da saúde física e mental. Por exemplo, muitas pessoas artríticas, que estavam praticamente imobilizadas, têm encontrado um certo alívio e um aumento da mobilidade das articulações com exercícios apropriados. Uma caminhada de meia hora ajuda a regularizar a tensão arterial, a fortalecer a coluna vertebral e a controlar o açúcar no sangue. Uma pessoa que mantém a sua agilidade (com a natural diminuição causada pela idade) sente-se melhor e adoece menos.

Não posso terminar sem enfatizar a importância de consultar o seu médico antes de embarcar em qualquer programa de exercício físico para não correr riscos evitáveis, e lembrar que a ginástica diária vai servir de muito pouco se não estiver acompanhada por uma boa alimentação, tema que já temos focado algumas vezes – e de que, com certeza, voltaremos a falar – já que nunca é demais recordar os bons hábitos.