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Por João G. Silva - Adiaspora.com
A questão é pertinente, especialmente
nos meses de Verão, em que os grelhadores começam
a ser mais utilizados. O facto é que os grelhados são
uma fonte potencial de cancro, especialmente se não forem
seguidos certos cuidados.
O problema com o grelhado tradicional advém da combinação
das carnes com o calor intenso produzido pelo fogo. Quer com carne
vermelha, quer com carne de frango ou marisco, algumas substâncias
que se encontra nas proteínas dos músculos desses
alimentos reagem com o calor intenso e formam compostos cancerígenos
– em inglês “heterocyclic amines”, HCAs.
Esses compostos danificam o ADN dos nossos genes, iniciando um
processo de desenvolvimento de cancro.
O consumo de HCAs está sobretudo ligado aos cancros do
cólon (parte do intestino grosso) e do estômago.
Um estudo demonstrou que pessoas que comem grandes quantidades
de carne vermelha grelhada (vaca e porco) quase duplicam o risco
de pólipos no cólon, quando comparadas com pessoas
que não consumiam esse tipo de alimento. Existem também
provas de que esses compostos cancerígenos podem passar
para outros tecidos através do fluxo sanguíneo –
o que poderá explicar o porquê dos HCAs serem também
factor de risco para outros tipos de cancro.
Um modo simples de reduzir a formação de HCAs cancerígenos
é cozinhar as carnes a temperaturas mais baixas –
como os fornos convencionais. Se a opção pelo grelhador
se mantém, o princípio é o mesmo –
baixar o calor emitido ou aumentar a distância das carnes
à fonte de calor, o que também evitará a
formação de carvão nas carnes: é que
essa carne carbonizada contém também um elevado
teor cancerígeno.
Aliás, não são só os grelhados a originarem
todos esses problemas. Os investigadores também aconselham
a que os fritos sejam feitos com menor grau de calor: embora se
perca cerca de 2 minutos no tempo de cozedura, produz-se menos
3 vezes a quantidade de HCAs nas carnes fritas em temperaturas
médias.
Outras maneiras de resolver a questão é virar a
carne a cada minuto e fazer marinados (bastante molho). É
que marinar reduz a formação de HCAs em 96%, embora
ainda estejam a decorrer estudos para apurar quais os ingredientes
mais favoráveis.
O próprio fumo dos grelhados é altamente cancerígeno,
embora de outro tipo: os “polycyclic aromatic hydrocarbons”
(PAHs), formam-se com o fumo e depositam-se no exterior da carne.
É de evitar usar tipos de carne muito gordos, que estão
constantemente a pingar para o lume e a originar chamas altas.
Quanto mais bem passada é a carne maior o conteúdo
de HCAs – o seu consumo está ligado a um incremento
entre 3 e 5 vezes mais ao cancro do cólon e entre 2 e 5
vezes mais no cancro da mama, ao mesmo tempo que o risco de cancro
no estômago, no pâncreas e na próstata também
aumentam.
Como a recomendação internacional coloca o consumo
de carne em apenas 90 gramas por dia, outra forma de reduzir os
riscos é alterar o que se grelha – embora mesmo no
peixe os HCAs se possam formar.
Mas a melhor solução para os grelhados são
os legumes e frutos, porque neles não se formam compostos
cancerígenos – para além de fornecerem ao
organismo uma série de nutrientes que combatem o cancro.
De facto, alguns químicos existentes nos legumes e frutas
estimulam determinadas enzimas que transformam os HCAs numa forma
inactiva e estável, facilmente eliminada pelo organismo…
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