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Por: Dr. Tomás Ferreira
Conforme era de esperar o Primeiro Ministro vai
tomar medidas para destruir um programa de assistência social
planeado pelo governo anterior
Embora este jornal venha a ser publicado durante
a semana do aniversário daquilo que se chamou em Portugal
a “Revolução dos Cravos”, uma vez que
já escrevi um artigo sobre o assunto na revista comemorativa
da data, publicada pela “Associação 25 de
Abril”, ir-me-ei dedicar a outra questão tanto mais
que já devo ter escrito mais de 30 artigos e feito dezenas
de palestras, sobre a data da libertação de Portugal
do sistema Salazarista. Claro que os ideias de liberdade e justiça
do 25 de Abril não podem ser esquecidos e mesmo aqui no
Canadá, um dos países mais democráticos do
mundo, teremos de estar atentos, para defendermos as liberdades
já conseguidas e obter outras que ainda são necessárias.
A eleição duma forma perfeitamente legal, do Sr.
Stephen Harper, embora não implique policias ou militares
na rua a oprimir o povo, pode ser um passo para a anulação
de vários direitos conseguidos nos últimos anos,
à destruição de parte das nossas instituições
sociais como o presente serviço de saúde, a entrega
do controle das riquezas naturais dos Estados Unidos, a aceleração
da destruição do ambiente, e claro envolvimento
do Canadá, nas aventuras militares americanas, como a invasão
do Iraque.
Abordaremos hoje um assunto bastante importante, que pelos vistos
vai ser o primeiro ataque do Sr. Harper, às instituições
existentes ou planeadas, dedicadas ao progresso do Canadá.
A propósito, lamento que deputados da oposição,
liberais e do NDP, não tenham feito um esforço maior
para debater este assunto que interessa não só a
comunidade luso-canadiana, como a todos os que vivem neste país.
Se há um assunto que merece reuniões, abaixo assinados,
protestos e até manifestações. Aqueles a
que vou me referir é um dos mais importantes. Infelizmente,
os políticos, talvez porque precisem de ser eleitos, têm
a tendência de se dedicarem mais a assuntos que os possam
colocar no galarim dos media, do que aqueles que são menos
atractivos ou capazes de mobilizar as massas. Enfim, como dizia
Wiston Churchill, a democracia é um mau sistema mais ainda
é o melhor que há.
Assim, cabe aos “contramarians”, como o redactor desta
coluna, que não necessitam de ser eleitos, de chamar a
atenção do público para um assunto tão
sério como é o que vou abordar.
Um programa necessário
O governo do Sr. Paul Martin, derrotado nas últimas
eleições, tinha proposto, “empurrado pelo
NDP” um programa nacional de cuidados infantis, com creches
e jardins de infância, subsidiados pelo governo federal,
que atingiria todas as crianças até a idade dos
seis anos.
Este programa, além de ajudar as mães que trabalham,
e elas hoje são a maioria, cerca de 72%, dava às
crianças de tenra idade grandes vantagens na escola e no
seu desenvolvimento.
A criação deste sistema, iria finalmente colocar
o Canadá ao par das outras nações desenvolvidas,
que quase todas, com a excepção dos Estados Unidos,
têm planos nacionais, para educação pré-escolar.
Vários estudos efectuados nos Estados Unidos, Canadá
e várias nações europeias, mostram que as
crianças que têm educação pré-escolar
em infantários e jardins de infância, têm mais
tarde melhores resultados, na escola não só a primária
e secundária, como até no ensino pós-secundário
incluindo as Universidades.
Outros estudos, mostram que as crianças quando entram na
escola primária, já têm conhecimentos de escrita,
aritmética e outras capacidades aprendidas nos jardins
de infância ou creches, têm vantagens sobre as crianças
que começam a sua educação, sem qualquer
prévio ensino ou treino.
Devo mencionar que o famoso “think tank” (em português
também se usa esta palavra, significa um grupo de pensadores
e cientistas de alto calibre), americano chamado “Rand Corporation”,
por sinal conservador, verificou que a educação
pré-escolar de bom nível produzia nos jovens bons
resultados no aproveitamento escolar, melhor comportamento, obtenção
de empregos, sucesso na vida, ao mesmo tempo que diminua delinquência
e o crime. Em conclusão, o ensino pré-escolar, ajudava
a produzir melhores cidadãos.
Conhecedores deste facto, num mundo em que a tecnologia tem cada
vez mais importância e as nações ganham posições
de destaque na economia e política, usando os cérebros
dos seus cidadãos, em vez de canhões, as nações
europeias e asiáticas desenvolvidas como o Japão
e Coreia despendem hoje largas verbas na educação
pré-escolar.
Também países pequenos, mas desenvolvidos como a
Suécia, Noruega, Finlândia e Singapura, estão
a investir no ensino pré-escolar e tomar posições
de destaque na economia mundial.
Claro que as pessoas das classes mais abastadas, conhecedoras
destes factos gastam quantias avultadas a mandar os seus meninos,
antes dos seis anos, para jardins-de-infância e creches
privadas. Algumas dessas instituições, são
tão famosas e caras, que ainda as mães estão
na sua gravidez, já as crianças estão inscritas
nelas. Calculo que muitos dos amigos e apoiantes do actual Primeiro
Ministro, que não quer subsídios e ensino pré-escolar
para o povo, estejam nesta altura a inscrever os seus jovens em
algumas das creches e jardins infantis privados mais caros do
país. Claro que estes senhores e senhoras não precisam
da ajuda do governo.
Uma solução errada
O Sr. Stephen Harper, que ainda não ganhou
coragem para começar a destruir o nosso serviço
nacional de saúde, possivelmente está a espera de
obter uma maioria respondeu ao plano liberal com uma das tais
propostas, destinadas a comprar o voto do eleitor, com o seu próprio
dinheiro. Assim, prometeu oferecer aos pais de cada criança
com menos de 6 anos, um “abono de família”
de 1.200 dólares anuais, o que parece muito dinheiro, mas
consiste em 100 dólares por mês ou 3 dólares
e 33.3 cêntimos por dia, o que como é de calcular,
não chega para pagar a nenhum serviço de cuidados
infantis, com um nível razoável em Toronto ou qualquer
outra parte do Canadá.
Lutando contra o progresso
Entretanto, conforme noticiou o Globe and Mail, reuniram-se muito
discretamente em Otava, uma série de grupos ultra conservadores
e religiosos fundamentalistas, alguns deles que querem que as
mulheres fiquem em casa, e não vão trabalhar, afim
de promoverem o tal abono de família de 1.200 dólares
e a abolição de programa nacional de cuidados infantis
planeado por Paul Martin.
Nessa reunião, que esteve a fina-flor dos ultra conservadores,
que querem fazer voltar a sociedade canadiana, e especialmente
as mulheres ao século XIX, criou-se uma coligação
para promover a ideologia do Sr. Harper. Pelos vistos, muitas
dessas pessoas querem que o tempo volte para trás, e são
contra tudo o que tem ajudado as mulheres atingirem a igualdade
que hoje possuem. Tudo que seja feito para que as mulheres possam
ter uma ajuda na forma de cuidar dos filhos, é contra a
ideologia destas pessoas que querem ver voltar ao tempo, em que
as esposas ficavam em casa, reduzidas ao papel de cuidar dos maridos
e filhos, que irão voltar a ser meia dúzia ou mais,
uma vez que alguns desses ultra conservadores também são
contrários ao planeamento familiar.
Infelizmente estas medidas para destruir o sistema social canadiano
e algumas das liberdades obtidas, vão ser implementadas
lentamente, duma forma habilidosa e sem que a maioria da população
se aperceba.
Não há dúvida, que nós os habitantes
deste país temos que defender os nossos “25 de Abril”.
Que não foram conseguidos por um punhado de militares corajosos,
mas criados legalmente ao longo dos últimos 50 anos.
Finalmente não sou de forma alguma contrário aos
1.200 dólares do “abono família”. No
entanto isso não chega para colocar o sistema de cuidados
infantis e pré-escolares no Canadá ao nível
do das nações desenvolvidas.
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