História Escrita no Passado


Por Carlos Fino

Livro editado pela Universidade de Brasília,
mostra lado pouco conhecido da obra de Padre Antônio Vieira

O padre português Antônio Vieira (1608 – 1697) é famoso por suas cartas e sermões. Entretanto, há uma parte da produção literária do religioso que escapa dos holofotes. Trata-se de sua dedicação aos escritos proféticos. Essa lacuna ficará um pouco menor a partir do dia 9 de novembro, quando a Editora da Universidade de Brasília (UnB) lança, às 19h, na Embaixada de Portugal em Brasília, História do Futuro, de autoria do padre Antônio Vieira. Com 525 páginas, o livro – resultado de trabalhos desenvolvidos pelo Laboratório de Estudos do Futuro (LEF) da UnB – traz, pela primeira vez ao Brasil, uma série de textos escritos pelo jesuíta, que viveu parte de seus quase 90 anos no Brasil (veja lateral). A organização da obra ficou a cargo do padre José Brandi Aleixo, professor aposentado do Instituto de Relações Internacionais da UnB. O reitor da universidade, professor Lauro Morhy, assina o prefácio.

Publicado originalmente em 1718, Histórias do Futuro traz reflexões de Vieira sobre profecias das sagradas escrituras. Segundo Aleixo, os pensamentos do português ainda são atuais, o que aumenta a importância do lançamento. Um exemplo disso é que políticos de diferentes partidos citam Vieira nos discursos, como os senadores José Sarney (PMDB/AP), Heloísa Helena (PSOL/AL), Edison Lobão (PFL/MA) e o deputado e atual presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B/SP). “Considero Vieira um verdadeiro intelectual, completo”, afirma Aleixo, citando Fernando Pessoa, que considerava o padre português o imperador da língua lusitana.

Outro entusiasta do jesuíta é o professor Lauro Morhy. Ele afirma que os leitores dessa obra surpreendem-se pelo conteúdo filosófico. “Li História do Futuro em uma edição em português arcaico, e foi difícil. Esse lançamento inédito no Brasil certamente tornará mais acessível os conhecimentos de Vieira, que era um sábio”, afirma Morhy.

PARTICIPAÇÃO – “O próprio Vieira organizou os sermões, mas morreu antes de concluir os estudos proféticos”, atesta padre Aleixo. Talvez por isso tal faceta da obra do autor tenha ficado tanto tempo desconhecida no Brasil. O projeto de lançar o livro, conta Aleixo, nasceu quando o professor Marcos Formiga começou a colaborar com as atividades do Laboratório de Estudos do Futuro (LEF) da UnB, em 1997. Daquele ano até 2004, foram feitos estudos, levantamentos, elaborações de notas e revisões, de modo a atualizar os escritos originais, em português arcaico.

A obra, além do prefácio de Morhy, conta com apresentação assinada pelo próprio padre Aleixo, que também é autor do capítulo Pe. Antônio Vieira: traços marcantes da vida e da obra. Já a introdução À História do Futuro é de autoria da professora Andréia Costa Tavares, mestre em Literatura Brasileira pela UnB com tese sobre Antônio Vieira. O orientador de Andréia, João Ferreira, do Instituto de Letras da UnB, colabora com História do Futuro por meio do elucidário, reunindo explicações para palavras e expressões presentes ao longo da obra, que conta ainda com ilustrações do português Pedro Cardim.

SERVIÇO

O lançamento do livro História do Futuro, de Padre Antônio Vieira, será no dia 9 de novembro, às 19h, na Embaixada de Portugal (Av. das Nações, quadra 801, lote 2).

CONTATO

Padre José Brandi Aleixo, professor aposentado da UnB e organizador do livro, pelos telefones (61) 3426 0400 e (61) 3224 9974.

LATERAL

O AUTOR

O lançamento da edição brasileira de Histórias do Futuro antecipa o início das comemorações dos 400 anos do nascimento de Padre Antônio Vieira, que será comemorado em 2008. Nascido em 1608, em Lisboa, veio com seis anos ao Brasil, então colônia portuguesa, fixando-se com a família na Bahia. Com 15 anos, ingressou na Companhia de Jesus (ou Ordem dos Jesuítas). Trabalhou diretamente para a Coroa portuguesa. Entretanto, nunca abandonou a dedicação aos escritos. Polêmicos, seus textos o levaram a ser perseguido pela Inquisição, que o prendeu entre 1665 e 1667. Antônio Vieira morreu em 1697, na Bahia.

O ORGANIZADOR

Nascido em 1932, em Belo Horizonte (MG), José Carlos Brandi Aleixo teve os primeiros contatos com a obra do padre Antônio Vieira na década de 1940, quando foi matriculado, em sua cidade natal, no Colégio Loyola, ligado à Ordem dos Jesuítas. Aleixo ordenou-se padre em 1961. Doutor em Ciência Política pela Georgetown University, em Washington (EUA), foi professor de Relações Internacionais da UnB entre 1969 e 1992.