Impérios do Espírito Santo


Por Ferreira Moreno

O Dr. José Machado Ferreira de Serpa, nascido aos 9 de Março de 1864 na Prainha do Norte, ilha do Pico, e falecido aos 17 de Dezembro de 1945 na cidade da Horta, ilha do Faial, foi sem dúvida alguma uma das grandes figuras do antigo Distrito da Horta, quer como Governador Civil (o primeiro no regime republicano), quer como Deputado e depois Senador, deixando ainda o seu nome ligado ao jornalismo, cujos escritos foram agrupados em livro em 1986 ao título "A Fala das Nossas Gentes."

É daí, do capítulo "Bosquejo linguístico sobre os Impérios do Espírito Santo", que passo a transcrever os seguintes excertos:

"Adentram-se no luso Império outros muitos impérios com coroa, ceptro e tudo, ou seja, os nossos tradicionais impérios do espírito Santo!

IMPÉRIO, - termo vincadamente relacionado com as festanças sacras e profanas em honra da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e que se sobrepõe a outras congéneres terminologias, algumas ainda subsistentes, mas de significado um pouco diversificante.

Império é, em geral, designação do arraial. Em especial, quando não é uma pequena capela, é um pavilhão de armar e desarmar onde se expõe a Coroa.

No presente, mais ou menos é este o seu tipo arquitectural: Tablado rectangular com uma escadinha móvel de poucos degraus, colunado aos quatro cantos, com um toldo de pano branco, e aos lados ornamentado de sanefas arrendadas. Lá dentro, um altar portátil, alumiado de círios e ladeado de vasos floridos."

Num trabalho intitulado "O Culto do Espírito Santo" e publicado em livro o ano passado, o Dr. Tomáz Garcia Duarte Jr. Presenteia-nos com a seguinte informação:"Por certo que os Impérios, que hoje se contam por muitas centenas de Santa Maria ao Corvo, foram surgindo progressivamente. Dantes, p'ra se celebrarem as suas festividades e servirem as "funções", a maiorias não teria casa própria. Armavam-se tendas desmontáveis ou improvisaram-se com materiais de ocasião os "teatros" ou cadafalsos" e as "ramadas" p'ra se exporem as insígnias e providenciar sombra p'rós convidados, designações que deixaram rasto na toponímia de muitos povoados.

Construções permanentes, de pedra e cal, são mais recentes. São autênticas capelas ou ermidas, que atingem o máximo de lavor ornamental na ilha Terceira e se encontram em todas as freguesias e lugares dos Açores, mostrando muitas datas dos finais do século passado e das primeiras décadas do presente."

Nos Açores o nome do Espírito Santo, ou Santo Espírito (que é mesmíssima coisa), encontra-se em tudo e em toda a parte, quer em ruas e hospitais, quer no sobrenome de muitas Marias e famílias, merecendo ainda destaque a paroquial de Santo Espírito em Santa Maria, a igreja do Divino Espírito Santo na Feteira (Faial), e bem assim a Igreja Espírito Santo (vulgarmente conhecida por igreja dos Passos ou da Misericórdia) na minha sempre adorada Ribeira Grande.

Tão distinto, tão importante e representativo é o nome do Espírito Santo que, segundo o testemunho de Tomáz Duarte, " o anterior Governo dos Açores defendia a criação duma Ordem Honorífica do Espírito Santo p'ra galardoar os seus Maiores, projecto que não se concretizou por essa prerrogativa não estar incluída no âmbito estatuário da nossa Autonomia."

Consequentemente não teremos, por enquanto, Oficiais, cavaleiros e Comendadores da Ordem do espírito Santo, "mas jamais será vedado que cada açoriano seja um membro convicto e activo da Grande Irmandade do espírito santo, a maior Confraria Portuguesa em todos os tempos no Mundo inteiro!"

E se, por um lado, é deveras significativo o número de impérios espalhados pelo arquipélago açoriano, por outro lado julgo bastante significativo que se haja escolhido a segunda-feira do Espírito Santo (popularmente conhecida por "Dia da Pombinha") como feriado regional em toda a Região Autónoma dos Açores!

O império é um regalo,
Donde fugiu a mázura
Por isso eu não me calo,
Neste dia de ventura

Aqui vedes o altar,
Todo feito a primor,
P'ra coroa ali ficar,
Seu divino resplendor.

Tudo aqui é bem bonito
E cheio de perfeição!
É este amor infinito,
Que nos dá a salvação.

Razão é p'ra durar
Uma festa tão luzida,
Deste povo insular
Vem a ser a mais querida!