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Por: Dr. Tomás Ferreira
Os meteorologistas dizem-nos que o Inverno que
terminou foi o mais quente desde se resistam as temperaturas neste
país desta maneira andamos todos contentes a disfrutar
uma primavera quem ais parece a da terra em que nascemos do que
aquela em que vivemos, o Canadá.
Será que isto é uma boa notícia, ou será
um augurio de acontecimentos muito sérios, que nos irão
atingir no futuro?
Os ursos brancos, estão a morrer de afogados
ou fome no norte do Canadá, porque usam pedaços
de gelo que flutuam no mar Árctico como uma plataforma
para caçar as focas que são essências para
a sua alimentação.
Uma vez que esse gelo está a derreter os pobres bichos,
não conseguem apanhar as focas e até muitos deles
morrem afogados o que neste momento está a ter consequências
sérias para a sobrevivência deste animal magnífico.
Quanto aos amadores do esqui como eu, que costumavam despedir-se
do seu desporto no fim-de-semana da Páscoa, ficaram com
a sua época reduzida, uma vez que a neve desapareceu há
duas ou três semanas.
Será que o clima do Sul do Ontário irá ser
semelhante ao do Algarve ou da Madeira, o que iria fazer a maioria
da população desta parte do Canadá muito
feliz?
Infelizmente, os cientistas chama-nos cada vez mais a atenção
para o perigo do aquecimento do planeta em que vivemos, que serão
muito mais sérias do que poder cultivar laranjas ou ananases
nos quintais de Toronto.
Um número recente da prestigiosa revista americana Time,
hoje vendida em todo o mundo, dedica um número recente,
aos problemas causados pelo aquecimento do nosso planeta. O facto
que uma publicação respeitável e conservadora
se preocupar com o aquecimento do mundo, mostra que isto não
é, como sucedia até há poucos anos, um problema
que apenas interessava a uma minoria de cientistas, mas um perigo
muito sério, que ameaça a humanidade. Devo fazer
notar, que na sua capa a Time, diz “be worried, very worried”
(esteja preocupado, muito preocupado).
Também devemos notar que o problema do aquecimento do planeta
Terra, que era até há algum tempo motivo de argumentos
entre os cientistas, começou lentamente a tornar-se numa
verdade científica e hoje negar que o planeta está
a aquecer, começa a ser uma coisa semelhante a não
acreditar que a terra é redonda e que gira à volta
do Sol.
Também o público americano, que até há
pouco não acreditava no aquecimento da terra, está
a mudar de opinião duma forma dramática, a ponto
de uma sondagem feita pela Time, ABC News e Universidade de Stamford
mostrar que 85% das pessoas nos Estados Unidos estão convencidas
que o mundo está realmente a aquecer.
A estufa está a aquecer
Antes de mais nada, devemos relembrar aos leitores,
o que se está a passar no mundo em que vivemos. Primeiro
que tudo devo chamar atenção que a Terra é
uma estufa gigantesca, como sabemos uma estufa é uma casa
de vidro, que está exposta ao sol que a aquece, permitindo
cultivar plantas desde flores a vegetais, mesmo quanto está
frio. A razão porque a estufa aquece, é o facto
dos raios solares, entrarem nela, trazendo calor, que depois não
sai, uma vez que se trata duma estrutura coberta de vidro, que
em certa medida deixa o calor entrar e o impede de sair. A Terra
está coberta com uma estufa gigante, que é a atmosfera,
a qual deixa entrar os raios solares, mas que evita que o calor
saia, especialmente porque nas camadas mais superiores da atmosfera
existe um gás chamado anidrido carbónico, de fórmula
CO2 e de outros gases produzidos pela poluição feita
pelos seres humanos.
Esse anidrido carbónico, é produzido na natureza
pela respiração dos animais sejam eles, elefantes,
mosquitos ou até seres humanos. Outra fonte de CO2 são
os incêndios que existem naturalmente, como nas florestas
que ardem e os vulcões. Compensando esta produção
de anidrido carbónico (CO2), as plantas especialmente as
árvores, absorvem este gás, separando as duas partes
que o constituem, o oxigénio (O) que vai para o ar, para
os animais respirarem e o carbono (C) que as plantas convertem
em carbohidratos, que são a base da alimentação
de tudo que é vivo neste planeta, uma vez que todos os
seres ou se alimentam de plantas ou comem outros, que por sua
vez comiam plantas. Nós humanos também comemos plantas
como couves ou bananas ou produtos animais carne como a da vaca,
que por sua vez foi alimentada com vegetais.
Durante milhares de anos, o nosso planeta funcionou bem, com os
animais a produzirem anidrido carbónico (CO2) e as plantas
a utilizarem-no para fabricar alimentos para todos.
Claro que os humanos, desde que descobriram o fogo, começaram
a aumentar a quantidade de anidrido carbónico, enquanto
que ao mesmo tempo, forma cortando as florestas para construir
cidades, assim reduzindo as árvores , que diminuíam
a quantidade deste gás responsável pelo tal efeito
estufa na atmosfera.
Com o aparecimento da chamada Revolução Industrial
no século XVIII, começou na Europa a desenvolver-se
a indústria, usando primeiro madeira e mais tarde carvão
para as fornalhas das novas máquinas, usadas para tecer,
fabricar armas e barcos, criar materiais para a construção
etc. Os cientistas que têm hoje meios par estudar a quantidade
de anidrido carbónico na atmosfera, nas últimas
dezenas de milhares de anos, dizem que este gás tem subido
duma forma assustadora nos últimos 50 anos. Por outro lado,
países como a China, Japão, Índia e Indonésia,
que se desenvolveram industrialmente nos últimos anos,
estão agora a produzir quantidades enormes de poluição
especialmente anidrido carbónico. Calcule-se o que irá
acontecer quando cada chinês tiver um ou dois carros como
sucede no Canadá. Lembro-me que durante a minha visita
à Índia, houve dias em que mal podia respirar devido
à poluição produzida pelas fábricas
e carros.
Depois de nós europeus termos poluído a atmosfera
a partir do século XVIII, é agora a vez da Índia,
China, Brasil, Indonésia e outros, fazerem o mesmo.
Claro que o desenvolvimento destes países originou cortes
de muitas florestas, cujas árvores captavam o anidrido
carbónico separando-o em oxigénio e carbono usado
para fabricar os alimentos. O Brasil e a Indonésia são
dois exemplos de nações possuidoras de florestas
enormes que estão lentamente a desaparecer.
Como se isso não bastasse, os glaciares, as camadas de
gelo que cobrem permanentemente certas partes do mundo, como algumas
montanhas e os pólos Norte e Sul, estão a diminuir
a uma velocidade assustadora. Estes glaciares, tem a função
de diminuir a temperatura da Terra, uma vez que sendo brancos
e brilhantes actuam como espelhos, reflectindo os raios solares
e com eles o calor que trazem. Por outro lado, se os glaciares
se derreterem o nível de água do mar irá
subir. Só os que existem na Groenlândia, serão
suficientes para subir o nível do mar em 7 metros o que
iria destruir várias partes do mundo que seriam cobertas
pela água, como a nação de Bangladesh com
mais de 150 milhões de habitantes, o Sul da Florida, a
maioria das ilhas do Pacífico, partes da Holanda, França,
Itália e até a costa portuguesa.
No entanto, se o gelo da Antártida derreter, o nível
do mar subirá ainda mais, cerca de 65 metros. O que irá
destruir todas as cidades do mundo que ficam junto ao mar, incluindo
Lisboa, Vancouver e a maioria das grandes cidades deste mundo.
Calcula-se que se a temperatura continuar a subir, muitas regiões
do mundo transforma-se-ão em desertos, como já está
a acontecer em certas áreas da África e da Ásia.
Claro que quanto mais o deserto crescer, menos plantas, especialmente
árvores, existirão para desempenhar a função
de reduzirem o anidrido carbónico, o que irá aumentar
ainda mais a quantidade deste gás na atmosfera e assim
aumentar a temperatura do planeta em que vivemos.
Outra consequência do aquecimento da terra, é a criação
de ciclones e outras tempestades. O ano passado, foi como é
sabido aquele em que mais catástrofes deste género
aconteceram, acabando com o famigerado Katrina que destruiu parte
Nova Orleães.
Estudos mostram que nos últimos 35 anos, o número
de ciclones com o grau mais forte (4) e (5) duplicou.
O que fazer?
Lentamente as pessoas estão a chegar à
conclusão que alguma coisa está a acontecer. Aqueles
que como eu vivem no Canadá há mais de 30 anos,
lembrarão como caía neve em Toronto e como era necessário
limpar o acesso às nossas casas duas ou três vezes
por semana, começando em Dezembro e acabando em Março
ou Abril. Enfim, não preciso ler artigos científicos
para chegar a conclusão que a Terra está a aquecer.
Em 1997, reuniram-se quase todas as nações do mundo,
na cidade de Kyoto no Japão, do que resultou que 141 nações,
se comprometeram a tomar medidas para reduzir a emissão
de anidrido carbónico e outros gases, que poluem a atmosfera.
Infelizmente, os Estados Unidos que com 5% da população
do mundo, produz 25% do anidrido carbónico produzido neste
planeta, recusa-se a assinar o acordo de Kyoto.
Quanto ao Canadá aonde vivemos, acaba de eleger um governo,
embora de minoria, dirigido por um conservador o Sr. Stephen Harper,
o qual é conhecido é uma grande admirador da ideologia
do Partido Republicano Americano e o Sr. George Bush. Até
agora, o governo Conservador pouco tem falado sobre o assunto,
mas nas suas afirmações públicas, o Sr. Stephen
Harper, tem demonstrado muito pouco interesse em implementar o
acordo de Kyoto.
Nesta área, o que podemos fazer além de votar contra
os partidos que se opõem ao acordo de Kyoto, será
o de participar em toda as iniciativas que levem à divulgação
e a implementação deste acordo essencial para a
luta contra o aquecimento do planeta terra e as consequências
nefastas que terá para o mundo. Por outro lado, os outros
partidos políticos como o liberal e até o NDP, não
têm mostrado interesse por este assunto, como ele merece.
Porém, como diz o ditado português a caridade deve
começar em nossa casa.
Continuamos todos a gastar quantidades enormes de energia, que
na maioria dos casos ou levam à criação dos
gases nocivos como o anidrido carbónico, como é
o caso do carro ou forma produzidas por centrais que aumentam
a poluição, como é o caso de parte da electricidade
que usamos.
Muita gente continua a usar a energia sem qualquer cuidado, como
algumas pessoas que eu conheço cujas casas no Inverno estão
tão quentes que têm de andar em calções
e de Verão tão frias devido ao ar condicionado,
que usam camisolas.
Claro que o grande produtor de poluição é
o carro, ao qual muita gente tem uma adoração que
atinge o grau de idolatria. Famílias com 2 e 3 carros,
começam a ser comuns e quanto ao tamanho dos carros continuam
a crescer, talvez devido ao preço da gasolina que no Canadá
é a metade do da Europa.
Dizia-me há tempos um compatriota nosso, com um ar bastante
vaidoso, que vivia em Toronto há cinte anos e que nunca
tinha andado no metro (subway). Esta pessoa, guia uma daquelas
carripanas a que chamam Minivans, em que cabem umas seis pessoas,
enquanto a esposa tem outro monstro semelhante e os dois filhos
um carro desportivo cada um. A propósito esta pessoa, tem
dois ou três empregados, e anda sempre a queixar-se que
não ganha para a gasolina, prestações dos
carros e seguros. Ela vive para os carros e o que é pior,
produz poluição desnecessária, tanto mais
que trabalha em partes da cidade, bem servidas por transportes
públicos. Que esta pessoa, que não anda cem metros,
sem usar o seu carro, tenha peso a mais, tensão alta e
diabetes, seria razão para outro artigo.
Concluindo
Não quero de forma alguma sugerir que
não desfrutemos o excelente clima com que estamos a ser
mimoseados pela natureza. No entanto, não devemos esquecer
que esta mudança do clima é causada por actividades
humanas nefastas para o ambiente e que eventualmente nós
ou nossos descendentes, irão pagar um preço muito
elevado por este tempo tão agradável que estamos
a desfrutar.
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