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Por: Dr. Tomás Ferreira
Romano Prodi - Eleito Primeiro-ministro com os votos dos emigrantes
Possivelmente o leitor perguntará, qual
a razão porque irei hoje dedicar a nossa conversa semanal,
a um assunto que aparentemente não diz respeito aos luso-canadianos
ou até a todos os que habitamos este país. Na realidade,
vivemos cada vez mais na aldeia global, para usar a expressão
criada pelo filósofo canadiana Marshall McLuhan e o que
se passa em qualquer parte do mundo pode influenciar a nossa vida.
No caso desta última eleição em Itália,
o que se passou, poder-se-á repetir em Portugal.
Afinal aconteceu
Aqueles que seguem esta coluna estarão
lembrados que algumas vezes, ao abordar a questão do voto
dos imigrantes portugueses nas eleições do seu país
natal eu sugeri a possibilidade de o governo ou o presidente da
república serem escolhidos, em caso de uma eleição
com votos muitos equilibrados entre as duas partes mais votadas,
não pelos cidadãos que vivem no país, mas
por aqueles que estão no estrangeiro, alguns deles possuindo
o direito de votar mas afastados pela distância, falta de
informação e até desinteresse da política
do país, aonde afinal não vivem.
Também, mencionara o facto que o votar, não consiste
apenas em exprimir uma opinião ao colocar o voto na urna,
mas também em ser afectado pela decisão tomada.
Assim, presentemente nós os cidadãos do Canadá,
elegemos o Sr. Harper para primeiro-ministro, mesmo que tivesse
sido por uma minoria, e agora temos de ter as consequências
daquilo que fizemos.
Realmente, uma eleição tem duas vertentes, uma a
decisão de eleger uma pessoa ou um partido colocando o
voto na urna, a outra de sofrer as consequências de aquilo
que se escolheu.
Ao longo dos anos, tenho defendido a tese, teoricamente pouco
popular, que os que estão fora do país não
devem escolher o governo para os que lá estão. De
notar que a população portuguesa que vive no estrangeiro,
têm em certa medida “votado com os pés”,
com uma abstenção impressionante. Embora não
tenha presente os números da última eleição
presidencial, na de 2001 dos 7.016 eleitores inscritos entre cerca
de 400.000 portugueses vivendo no Canadá, 462 pessoas votaram,
por Jorge Sampaio e 440 por Freitas do Amaral. Claro que estes
pequenos números, torna-se-iam ainda mais impressionantes,
se os dois concorrentes, qualquer deles com milhões de
votos fossem escolhidos no final, por uma meia dúzia milhares
de votantes que vivem no estrangeiro.
Afinal uma situação destas, acaba de acontecer na
Itália, em que a coligação do Centro Esquerda,
dirigida por romano Prodi, obteve 49,8% dos votos para a Assembleia
Nacional e a da direita do Sr. Silvio Berlusconi que é
muito mais conservador que Stephen Harper recebeu 49,7% enquanto
que para o Senado a esquerda ganhou por dois lugares de diferença.
Num total de 38.100.000 votos Prodi recebeu apenas mais 24.000
votos! Se os imigrantes não tivessem o direito a voto os
resultados finais teriam dado vitória à direita
dirigida por Silvio Berlusconi.
Embora Berlusconi, que pelos vistos tem mau perder, esteja a protestar,
tudo leva a crer que quem escolheu o futuro Parlamento, Senado
e governo da Itália, foram os italianos que estão
no estrangeiro.
De notar que existe uma diferença entre o sistema português
e o italiano que dá aos imigrantes 12 deputados e 6 senadores.
Ele aceita que italo-canadianos com nacionalidade canadiana, sejam
eleitos, o que levou o governo Italiano a ter de pedir autorização
ao Canadá, para ter a eleição neste país.
Na realidade, uma pessoa que tenha a nacionalidade canadiana,
terá de ser autorizada pelo governo do Canadá para
poder fazer parte dum parlamento de outro país. As leis
portuguesas ultrapassaram esse problema, dando apenas direito
a ser eleitos pelos círculos da emigração,
a pessoas apenas com nacionalidade portuguesa. De notar, que o
governo do Canadá, resistiu no princípio a que seus
cidadãos participassem na eleição italiana,
mas com a aproximação das eleições
federais, para não perder à última da hora
mudar de opinião.
Um Italo-canadiano contra
Um cidadão canadiano de origem italiana, o académico
Patrick luciani escreveu no Globe and Mail uma coluna, explicando
porque não tinha votado na eleição no sei
país de origem, usando argumentos que em certa medida são
semelhantes ao que eu escrevi na Voice em Janeiro de 2001, a respeito
do acto eleitoral em Portugal.
Na realidade, o que faz uma pessoa portuguesa ou italiana, não
é o direito de votar para escolher o governo do país,
aonde está a residir. O ser português ou italiano
não é uma coisa que se dá ou tira por um
decreto do governo, mas está na nossa mente e muito especialmente
no nosso coração. Ser português é baseado
no amor à terra em que nós ou nossos antepassados
nasceram, no que sentimos em relação aos outros
portugueses, no nosso amor, à terra, à bandeira,
à cultura e até à culinária. Ser português,
é uma forma de estar no mundo e é aquilo que nos
faz vir lágrimas aos olhos quando ouvimos a portuguesa
ou o fado. Ser português está dentro de nós,
não se dá, compra, empresta ou muda-se com uma lei
passada na Assembleia da República em Lisboa. Ser português
é uma forma de sermos nós próprios e é
uma coisa que ninguém nos pode dar, tirar ou modificar.
Parafraseando uma expressão canadiana, pode-se tirar português
de Portugal mas não se pode tirar Portugal do português.
Quanto à escolha o governo que vai governar em Portugal,
farei como o Sr. Patrick Luciani, a que acima me referi, em relação
à Itália, deixo isso aos portugueses que lá
estão.
Como diz o nosso povo, cá se fazem, cá se pagam.
Os que vão beneficiar ou ser prejudicados pelo governo,
deverão ser os que o vão eleger.
Eu sei que esta minha posição como muitas outras
não são muitos populares, foi por isso que sempre
recusei quando me convidaram para concorrer por uma partido político,
porém calculo a “maioria silenciosa”está
de acordo comigo, uma vez que a maioria esmagadora dos portugueses
do Canadá não está inscrita nos cadernos
eleitorais e entre essa uma minoria votam. Quanto aos italianos,
apenas 40.000 votaram, na última eleição
o que representa cerca de 3% da população italo-canadiana.
Preferências
A posição em relação
aos direitos dos imigrantes votarem, parece ser influenciada,
pelo menos entre os políticos, pela convicção
que têm se vão ganhar ou perder votos.
Assim o Sr. Berlusconi, foi o grande promotor da legislação
que deu o voto aos emigrantes, porque estava convencido que iria
ganhar votos. Claro que se enganou, os italianos do estrangeiro
votaram pela esquerda e o Sr. Berlusconi perdeu a eleição,
o que mais uma vez prova que a atitude do eleitorado é
difícil de prever.
Quanto a Portugal, a seguir ao 25 de Abril, os grandes promotores
do voto dos imigrantes eram os partidos da direita enquanto os
da esquerda se opunham.
Embora possa parecer um pouco cínico na minha atitude,
estou convencido que o facto de pensarem se iam ganhar ou perder
com os votos dos emigrantes, influiu muito na posição
tomada pelos diversos partidos políticos em relação
a estes assuntos.
Mais tarde, pelos vistos com todos, ou quase todos os políticos
a julgarem que tinham possibilidades de ganhar com o voto dos
imigrantes acabaram por estar de acordo com os votos dos portugueses
residentes no estrangeiro.
Quanto a esta coluna, mantendo a sua atitude, e aderindo aquela
posição a que os americanos chamam hoje os “contrarians”
(aqueles, particularmente no media que gostam de tomar uma posição
independente e contraditória), continua a sugerir outras
maneiras de representar os portugueses da diáspora, como
será a existência dum Ministério das Comunidades
e um Concelho das Comunidades com verdadeiro poder consultivo.
Semelhante ao que existe em França.
Enfim, mais uma coluna com a intenção de estimular
o debate sobre assuntos importantes para a nossa comunidade.
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