Por Adiaspora.com
"Lagoa Azul" - os dizeres no
letreiro azul e branco sobre a porta da mais antiga ervanária
portuguesa em Toronto.
Lagoa Azul ...azul...azul como as salubres paisagens e águas
paradisíacas de São Miguel...
No seu interior aguarda-nos um sem fim de asseadas prateleiras
repletas de boiões com comprimidos vários de exóticos
rótulos, alguns em língua portuguesa, ainda outros
em inglês, pois aqui há remédio natural para
qualquer mal. Ao transpormos a porta da loja, o cheiro reconfortante
de ervas enche as narinas, enquanto um rosto alegre e traquinos
olhos dão-nos uma efusiva e bem-humorada saudação.
Maria José Barros nasce na freguesia
da Lomba da Maia, S. Miguel a 22 de Agosto de 1921. Aos 24 de
idade casa com António Barros, natural de Braga.
As obrigações profissionais de António, então
ao serviço da Aviação Naval, leva o jovem
casal até à ilha de Santa Maria e Lisboa onde Maria
José vive os próximos 20 anos absorta nas lides
domésticas e no cuidar dos dois filhos que, entretanto,
vierem aumentar o conjunto familiar.
Em 1965 António decide emigrar para o Canadá em
busca de um futuro mais próspero. Parte em companhia dos
seus dois filhos mais velhos, deixando os dois mais jovens na
companhia de sua mãe. A abertura do Canadá à
imigração nos últimos anos da década
60 veio facilitar a Maria José e aos dois filhos o reencontro
com António em 1968, então já bem enraizado
na crescente comunidade portuguesa torontina.
Seguem-se dois anos de árduo e intenso
labor. Ao relembrar os seus primeiros anos de imigrante, Maria
José comenta que, apesar do muito trabalho, o maior poder
de compra do dólar desses tempos facilitou, em larga medida,
o amealhar do proverbial "pé-de-meia".
António decide fazer uso do curso de ervanária
que completara em Lisboa e adquire o edifício sito no 1227
Dundas Street West, onde funda a primeira ervanária portuguesa
em Toronto. O empreendimento envolvia um certo elemento de risco,
pois o segmento alvo do mercado visava a comunidade portuguesa
de Toronto, naqueles tempos muito menos numerosa do que na actualidade.
Na sua generalidade, a população de então
encontrava-se muito menos inteirada no que concerne a medicina
alternativa e terapêuticas naturais. Contudo, Maria José
e António Barros enfrentaram o desafio e o seu estabelecimento
progressivamente tomou raiz nos hábitos de compra da comunidade.
Hoje Maria José, apesar da sua já
avançada idade, continua, alegre e bem disposta, ao balcão
da sua loja e serviço da nossa comunidade.
(Novembro de 2003)
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