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Por: Ferreira Moreno
A cidade de Santa Mónica, a curta distância
de Los Angeles, estende-se desde a beira-mar até o sopé
meridional duma cordilheira que, aos 4 de Maio de 1770, por iniciativa
do Capitão Gaspar de Portolá, recebeu o nome de
Montanhas de Santa Mónica à memória da mãe
de Santo Agostino. (Erwin Gude, California Place Names).
No entanto, não querendo deixar corer por mãos alheias
as dádivas dum crédito merecido, atrevo-me a apontar
que, muito provavelmente, foi Cabrillo o primeiro europeu a avistar
estas montanhas no longínquo ano de 1542. De facto, aos
9 de Outubro, depois de navegar algumas milhas ao longo da costa,
ele aproximou-se duma nova e grande enseada, onde ancorou e pernoitou
na baía que hoje se chama de Santa Mónica. (Harry
Kelsey, Juan Rodriguez Cabrillo).
Reza a tradição que Santa Mónica (332-87),
através de muitas orações e lágrimas,
foi finalmente abençoada com a graça da conversão
do seu filho Agostinho(354-430). Antigamente era costume celebrar,
aos 4 de Maio, a festa litúrgica de Santa Mónica,
mas desde a reforma do calendário romano ficou transferida
p’ra 27 de Agosto.
Estou a rabiscar esta crónica levado pela curiosidade que,
evidentemente, notei entre a data original de 4 de Maio de 1770
e Gaspar de Portolá (1723-86), que chefiou duas expedições
de penetração e exploração da primitiva
Califorlândia.
A primeira tece início aos 14 de Julho de 1769. Portolá,
na companhia de 74 homens, partiu de San Diego com destino a Monterey,
tendo ultrapassado esta localidade e atingido uma vista panorâmica
da Baía de San Francisco. Aos 24 de Janeiro de 1770, Portolá
e companheiros estavam de volta em San Diego.
A 17 de Abril juntamente com 29 homens, Portolá partiu
novamente de San Diego p’ra Monterey, onde chegou aos 24
de Maio de 1770. Portanto, teria sido durante esta segunda expedição
que a supracitada cordilheira recebeu o nome de Montanhas de Santa
mónica. Porém, ao examinar os relatórios
do Engenheiro Miguel Constansó e do Frei Juan Crespi, cronistas
da expedição, não encontrei quaisquer referências
a Santa Mónica. No entanto, ao ler o livro “The California
I Love”de Leo Carillo (1881-1916) deparei com uma história
aliciante, que passo a narrar sucintamente.
Pressumivelmente foi o capelão Frei Juan Crespi quem deu
o nome de Los Ojitos de Santa Mónica a umas poças,
onde ele se banhou nas horas de descanso da longa jornada. Embora
ojitos (olhos pequenos) tenham o significado de nascentes ou poças
d’água límpida com a aparência dos olhos
de uma mulher. O frade franciscano mirou-as com admiração
e instintivamente exclamou: Lás Lágrimas de Santa
Mónica.
Carillo certamente apercebeu-se que Crespi trazia na lembrança
as lágrimas derramadas pela virtuosa mãe e que ocasionaram
a conversão do filho. Neste enlevo, Crespi achegou-se às
poças e visionou os seus tempos de criança, quando
brincava nas ribeiras da sua ilha de Maiorca, e pausadamente,
tirou as sandálias, puxou o hábito acima dos joelhos
e entrou nas poças.
Com a água refrescando-lhe os pés doloridos da caminhada,
Frei Crespi lembrou-se ainda da narrativa evangélica de
Maria Madalena lavando os pés de Jesus, sentindo-se sobremaneira
renovado pelas gloriosas lágrimas de Santa Mónica.
Limpo de corpo e alma, Frei Crespi saiu das poças, enxugou
os pés, calçou as sandálias, acenou um adeus
nostálgico às Lágrimas de Santa Mónica,
e juntou-se aos seus companheiros. Inspirado por esta experiência
e impelido pela mensagem de esperança, que lhe pareceu
ter recebido de Santa Mónica, Crespi dirigiu palavras de
conforto e entusiasmo ao Capitão Portolá e aos soldados
p’ra continuar a expedição.
Leo Carillo era trisneto de José Raimundo Carillo, membro
da expedição de Protolá. O bisavô Carlos
António Carillo foi governador da Califórnia (1837-38),
e o avô Pedro Carillo serviu de juiz em Los Angeles. O pai,
Juan José Carillo, foi o primeiro mayor de Santa Mónica.
Como “estrela” do cinema, Leo Carillo tornou-se famoso
no papel de Pancho, o parceiro de Cisco Kid e contribuiu extraordinariamente
p’ra divulgação das tradições
românticas da Califórnia Espanhola. Além de
actor com brilhante carreira no cinema, televisão e teatro,
Carillo State Park localizado no Pacific Coast Highway, a cerca
de 26 milhas norte de Santa Mónica.
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