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O Português da
Lusofonia
Há um portal na Internet, chamado Portugal
Club, telecomandado, censurado, alterado, manipulado à
distância por um luso-brasileiro que se intitula de jornalista
e dá pelo nome de Casimiro Rodrigues. Mas esse portal,
que normalmente seria apenas mais um entre milhões –
pouco relevante -, mercê de um conjuntura astral sem aparente
explicação imediata, tomou vida própria mercê
de circunstâncias tão irmãs como a comunidade
brasileira e portuguesa: a corrente desgovernação
e níveis de corrupção que corroem as duas
pátrias. Para além de uma curiosa emergência
de ideais fascistas, totalitários e colonialistas entre
as nossas gentes...
O assunto é de tal maneira fascinante que vai certamente
merecer outras crónicas futuras. Mas, por agora, concentremo-nos
neste que é fundamentalmente básico: a questão
da lusofonia, dos acordos e das maneiras de se falar português
pelo mundo.
De todos os lados se ouvem gritos desesperados, ideias cruzadas,
debates estéreis sobre qual o Português “correcto”.
Há quem escreva dissecando palavras, há quem desdenha
o falar alheio, quem diga que Portugal tem a culpa toda quando
diz que no Brasil se abandalhou, perverteu, abastardou a língua
de Camões.
Eu que observo de longe e raramente meto a minha colherada, decidi
desta vez mandar um parecer que, tal como alguns anteriores, imaginei
ir ser censurado pelo tal senhor de Cascavel, Paraná. Mas
não! O censor que nele habita devia estar de costas, distraído
ou de férias. E a coisa passou na íntegra. Deixo-a
aqui para que os meus leitores a possam criticar:
“Estou plenamente de acordo com as palavras do colega
Gabriel Cipriano.*
Há algumas semanas, numa curta intervenção
que ousei fazer no encerramento do I Encontro Luso-Maranhense,
em São Luís - do qual fui o único jornalista
expatriado a assistir - lembrei que uma língua é
um "coisa" viva, mutável, maleável e em
constante evolução que não pode - nem deve
- ser objecto de acordos, tratados, ou outros documentos ortográficos
"unificadores". Assim como não acredito que se
fale melhor Português em Coimbra que em Ponta Delgada, Porto,
Funchal, Lisboa, Brasil, Angola, Cabo Verde, São Tomé
e Príncipe, Moçambique, Timor, Goa, Macau, Bissau
ou Freixo-de-Espada-à-Cinta. Cada um de nós tem
o direito a falar a língua comum da forma como a herdou
culturalmente, tal como ela é transmitida e escrita ao
longo dos séculos.
Reside aí a riqueza de um idioma. Reside aí a sua
vitalidade e a sua verdade.
Temos a tendência para identificar a "boa" linguagem
com a que é proferida pelos contemporâneos que vamos
tendo a ocasião de conhecer. Não sabemos como falaria
D. Diniz, o Infante D. Henrique, Camões, Vasco da Gama,
Pedro Álvares Cabral, Herculano, Eça, Ramalho, Antero,
Manuel da Nóbrega ou Anchieta.
Ninguém, portanto, na Lusofonia, tem o direito de dizer
"assim é que se fala bem".
Há 34 anos a traduzir num país bilingue, multicultural
e multiracial nunca, senão dos francófonos europeus,
ouvi dizer que as quatro ou cinco pronúncias do Quebeque
ou das minorias da francofonia do Manitoba, Saskatchewan ou Colúmbia
Britânica falam mal Francês.
Aprendi isto a traduzir, a ler, a deixar a mente aberta, a pensar
sempre pela minha própria cabeça e não pela
dos outros. Creio ainda ser insuspeito na matéria pois
tive como professor de Português e como primeiro chefe de
redacção, respectivamente, Magnus Bergstrom e Neves
Reis, autores do Prontuário Ortográfico da Língua
Portuguesa, que devem dar voltas, onde quer que estejam, ao tomar
conhecimento das "tiradas" que aqui e ali se vão
debitando gratuitamente.
A língua é como uma bandeira: pode ter cores diferentes
mas nunca, por nunca, deixa de ser o símbolo maior da cultura
de um povo. E se ela for o denominador comum de pátrias
distintas, tanto melhor!
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