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Por Ferreira Moreno
Catedral de Nuestra Senora del Pilar, Saragoza
O Padre José do Vale carvalheira, (Nossa Senhora
na História e Devoção do Povo
Português, página 253), ao referir-se à
Senhora do Pilar apenas lhe dedica estas ligeiras linhas: "Padroeira
de Espanha, mas conhecida entre nós."
Este laconismo foi o suficiente p'ra incentivar-me a pegar no
meu bordão de romeiro e visitar as localidades açorianas,
onde Nossa Senhora do Pilar é venerada pela sua presença
e patrocínio.
Antes, porém, de seguir em romaria p'las "ilhas dos
meus amores", apraz-me informar que, na Califorlândia,
a igreja paroquial de Half Moon Bay (Baía da Meia Lua)
tem afixada a mimosa invocação "Our Lady of
the Pillar." Estabelecida em 1868, foi precisamente aqui
que, três anos depois, os nossos emigrantes organizaram
a primeira FESTA em honra e louvor ao Divino espírito Santo.
O promontório, no extremo da baía, ainda hoje conserva
o nome que, originalmente, lhe foi imposto: Pillar Point!
Sirvo-me desta oportunidade p'ra revelar também que, em
Dezembro de 1989, pernoitei em Zaragoza, a cidade espanhola onde
se ergue a majestosa catedral Nuestra Senora del Pilar,
construída no século 17, em cujo interior se encontra
o pilar onde, segundo uma vetusta lenda, Nossa Senhora apareceu
ao apóstolo São Tiago no ano 40 da Era Cristã.
Consta-me igualmente que Cristóvão Colombo, antes
de se aventurar na viagem de descobrimento do "Novo Mundo",
aqui veio arrecadar uma lasca do pilar da Senhora, guardando-a
a bordo como talismã!
Nas ilhas dos Açores, começando por Santa Maria,
temos uma ermida de N. S. do Pilar localizada no lugar da Faneca,
pertencente à freguesia de S. Pedro. Foi mandada edificar
por Fernão de Loura Bettencourt, e sua mulher Mariana Margarida
Coutinho, em 1722. Apresenta um valioso frontal de azulejos, em
cujo centro se vê a imagem da Senhora entre os doadores
ajoelhados em oração. O retábulo do altar,
considerado um dos mais curiosos exemplares do género em
pedra do vizinho Monte Gordo, foi lavrado com colunas salomónicas
ao jeito dos retábulos entalhados. (Apontamento Histórico
& Etnográfico, Direcção Escolar
de Ponta Delgada, IV volume).
Na Bretanha, em S. Miguel, o antigo curato do Pilar, hoje freguesia
desde 1958, continua a manter carinhosa devoção
à Senhora do Pilar, engrinaldada num altar-mór de
talha dourada. No lugar onde se encontra a respectiva igreja existiu,
outrora, uma ermida mandada edificar em 1680 pelo capitão
Sebastião Álvares Benevides e sua mulher Ana Araújo.
A actual imagem da Senhora é relativamente recente, e foi
transportada de Ponta Delgada aos ombros dos paroquianos. (Apontamento
Histórico-Etnográfico, V volume).
A freguesia das Cinco Ribeiras, na ilha Terceira, acolhe-se sob
o patrocínio de N. S. do Pilar desde remota data, quando
aí existiu uma ermida durante quase dois séculos,
a qual viria a ser demolida e cujos materiais foram utilizados
na construção duma nova igreja à volta de
1867, ficando concluída em 1871. (Padre Alfredo Lucas,
As Ermidas da Ilha Terceira).
Benzida em 1872, foi elevada a paróquia em 1878; destruída
pelo sismo de 1980, foi reconstruída em 1985. (José
Rodrigues Ribeiro, Dicionário Toponímico, Ecológico,
Religioso & Social da Ilha Terceira).
A freguesia das Cinco Ribeira distingue-se sobremaneira por ser
a terra-mãe de muitos e saudosos improvisadores, tais como
o Charrua e o Massica. Quero igualmente destacar a memória
do meu bondoso professor, Monsenhor José Machado Lourenço,
missionário nas Índias Orientais e notável
escritor-jornalista, autor de numerosos livros em prosa e em poesia.
Apraz-me também mencionar Dimas Coelho, radicado em Rhode
Island, recentemente homenageado pelo Centro Comunitário
"Amigos da Terceira" com a publicação
do livro "Inspirações Minhas Em Verso."
Digno ainda de menção o nome da sua simpática
filha - Pilar.
Nas Velas de S. Jorge temos uma ermida da Senhora do Pilar, cuja
respectiva erecção remonta ao final do século
18, localizada aonde anteriormente existira uma outra do século
17, que (arruinada) deu lugar à presente, sendo também
conhecida por Ermida do Livramento. (Guido de Monterey, Duas
Ilhas no Centro do Arquipélago).
No Faial, além da Lomba do Pilar, pertencente à
freguesia da Conceição, encontramos a Ermida do
Pilar, assente em sítio privilegiado, na encosta da Espalamaca,
virada frontalmente p'ra cidade da Horta. Conforme o testemunho
de Marcelino Lima, (Anais do Município da Horta),
foi fundada em 1701 pelo Padre Filipe Furtado de Mendonça,
vigário da Paróquia da Conceição,
na Horta, e por ele edificada à sua custa e à custa
de muitas esmolas colhidas em peditório.
Alguns anos depois foi devastada por um incêndio, permanecendo
abandonada sem tecto e sem portas, mas eventualmente vários
devotos "movidos de zêlo e honra" organizaram-se
em "irmandade", conseguindo reedificar e reconstruir
a ermida.
Finalmente na ilha das Flores, na freguesia dos Cedros, vamos
encontrar a igreja de N. S. do Pilar, "cuja primeira pedra
foi lançada aos 22 de Janeiro de 1950 e cuja última
pedra foi colocada aos 26 de Março de 1951. Benzida aos
18 de Março de Junho de 1953, esta igreja de estilo muito
singelo veio substituir uma outra igreja existente, mas em estado
ruinoso." (Guido de Monterey, As Ilhas do Oriente).
Nesta minha saudosista romaria por terras da Graciosa, Pico e
Corvo, não deparei com vestígios de Nossa Senhora
do Pilar. Por isso, em vez da Avé-Maria dos Romeiros, apresento
agora as minhas despedidas entoando este par de quadras:
Nossa Senhora do Pilar
Tomou-me por afilhado;
Que bela Madrinha tenho,
Posso viver descansado.
Nossa Senhora do Pilar
Minha querida Madrinha;
Quando tirardes a ceia,
Guardai-me uma tigelinha.
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