Plantas da Medicina Caseira

Por: Ferreira Moreno

No Boletim Número 17 da Comissao Reguladora dos Cereais do Arquipélago, correspondendo ao primeiro semester de 1953, deparei com um artigo do regente agrícola Silvano Agusto Pereira, que conheci em vida, discorrendo acerca de plantas empregadas na medicina popular nas ilhas dos Açores.
Devido a sua curiosidade e a importância, tenciono transcrever (embora parcialmente) algumas dentre as muitas informações que o autor transmitiu, apontando as espécies mais populares utilizadas p´ra fins terapêuticos.
E como já é tradição, em crónicas deste género, ajuntarei diversas quadras estraídas do Cancioneiro Geral dos Açores…
O agrião mouro, sub-espontâneo em vinhas e pomares é uma erva annual e rasteira, com folhas partidas e dispostas em roseta. Os caldos e xaropes feitos com as suas folhas são aconselhados como estimulantes e fortificantes do sangue.

Já lá vai, já se acabou
O tempo do agrião;
Este meu coraçãozinho
Sempre te quis com firmeza.

Eu fui à rocha caída
P´ra apanhar agrião,
Que não têm ocupação.

O alecrim cultivado em jardins e junto aos colmeais, é um arbusto erecto e ramoso, de folhas persistentes e aromáticas. Antigamente era considerado como panacéia p´rás mais variadas doenças. Actualmente, como planta medicinal, o seu emprego é mais restrito e aconselhado apenas como tónico e estimulante estomacal.

Venho por aqui abaixo
Desfolhando o alecrim;
Venho em cata dum amor,
Que falta no meu jardim.

Pus-me a contar, a contra,
As folhas do alecrim;
Se teu pai não te quer dar,
Foge amor, e vem p´ra mim

A erva cidreira é uma erva vivaz, erecta, ramose e aromática. A infusão das suas folhas e sumidades floríferas é recomendada p´ra aliviar dores intestinais.

O meu amor tem a porta
Um pé de erva-cidreira;
Quando eu passo por lá
Dou-lhe c´o pé ela cheira.
Quem seria que deixou
Erva cidreira na fonte?
Regula seu coração
Quem seu amor tem defronte.

O funcho é uma planta rizomatosa e vivaz, emitindo anulmente caules verdes e erectos, de folhas lacinidas, doces e aromatícas. A infusão das suas sementes é usada como estimulante estomacal nas dispepsias.

Pus o pé no funcho verde,
O funho me fez falar,
Se é que tens outros amores,
Eu hei-de os fazer larger.

Ninguém diga mal do funcho,
Que o funcho é meu parente;
O funcho é que me deu cura,
Quando eu estive doente.

O limoeiro é uma árvore ou arbusto cultivado nos pomares. A infusão das cascas dos seus frutos, o conhecido “chá de limão”, é muito usado como sudorífico.

Eu subi ao limoeiro,
Cinco folhas lhe tirei;
Cinco sentidos qu´eu tinha
Todos em ti empreguei.

Limoeiro, dá-me um galho,
Ó galho, dá-me um limão;
Meu amor, dá-me os teus olhos
Que´eu dou te o meu coração.

O linho é uma planta annual e erecta, cultivada p´rá obtenção de fibras texteis. A infusão das suas sementes (linhaça) é empregada contra a prisão de ventre. Reduzida a farinha, a linhaça serve para fazer as conhecidas “papas de linhaças” , usadas em cataplasma quente, como analségico e emoliente, em feridas, tosses, dores de barriga, etc.

Semeei linho na serra,
Do linho me nasceu mato;
O velho que toma, amores,
Nunca de amores é farto.

A macela é uma erva vivaz e rasteira, com folhas partidas reunidas em roseta, e cujas flores de corola tubulosa (amarela) são reunidas em capítulos. A infusão das suas flores é usada como tónico p´rós estômagos dispépticos.

Eu hei-de amar a macela,
Erva de linda verdura;
Hei-de amar, quem eu quiser,
Que a ninguém fiz escritura.

Eu perguntei à macela
O que tinha no meu peito,
Respondeu-me com frieza;
Querer bem não é defeito.

Os longos estiletes das inflorescências femininas do milho, mais conhecidas por “barbas de milho”, quando se deitam em fervura, servem como energético diurético. Por sua vez, a infusão dos rizomas e folhas do morangueiro é empregada como anti-diurético.

Milho caro, milho caro,
Milho caro faz carolo;
Mal empregado menino
Ser tão fraco do miolo.

Moranguinho, moranguinho,
Morangal dos meus beijos;
A tua boca é cestinho;
Morangos são meus desejos.

A infusão dos capítulos da perpétua (planta anual, de caule erecto, e cultivada nos jardins), é usada p´ra aliviar a rouquidão e a tosse.

Perpétua, flor constante,
Quem não gostará de ti?
Tu és a imagem daquela
Por quem de amor me perdi.

Não há flor c´má perpétua,
Que nasce de madrugada;
Nem paixão c´má primeira,
Que sempre fica lembrada.