Poesia de Emigrantes


Por: Ferreira Moreno

“PÓ – Poemas de Machado Ribeiro” é um livro que se lê com intensa emoção, e que desperta os mais recônditos sentimentos sedimentados no íntimo da nossa alma... sensações embraçando a nossa condição de seres humanos, e numa incessante busca da sua expressividade, mas que resistimos partilhar, até mesmo em confidência de gente amiga, simplesmente porque carecemos daquela efervescente paixão do poeta, que se atreve a revelar publicamente tudo quanto o seu coração vive e sente.
Confesso-me verdadeiramente encantado, e ao mesmo tempo surpreendido, com os poemas de Machado Ribeiro. E já me explico...
Fiquei encantado por de há muito reconhecer os méritos do autor, visto termos sido companheiros de escola, amigos e vizinhos na terra da nossa naturalidade (Ribeira Grande), mantendo as mesmas relações de amizade e situação de vizinhos, em todos estes longos anos de emigrados na Califorlândia.
Surpreendeu-me, no entanto, a produção poética do autor, que sempre estimei ser um indivíduo expansivo e alegre, mas que agora – através da sua requintada poesia – apresenta uma faceta que eu totalmente desconhecia.
Refiro-me à complexidade, por vezes explosiva mas sempre honesta, de que se revestem os seus poemas, por onde amiúde perpassam laivos de mágoa lacerante, de desesperos que atormentam a alma e de ânsias que despedaçam o coração.
Mas, afinal, quem é Machado Ribeiro?
Apraz-me revelar ser este o pseudónimo literário do Dr. Décio Garcia Machado Oliveira, dentista-cirurgião aposentado, residindo em San Jose da Califorlândia, a quem rendo este testemunho de amizade e parabéns pela obra publicada, embalando-me na eufórica expectativa de nova “surpresa”, com a publicação de mais poemas num próximo futuro!
“Beijo de Abelha”é o livro de encantadoras poesias de D. Maria das Dores Beirão, natural de São Bento na ilha Terceira, e presentemente a residir em Napa da Califorlândia.
Com esta obra confirmou-se, finalmente, a magia poética que sempre vi transparecer, quando a autora se apresentava em público, e até mesmo em ambiente familiar. A sua poesia reverbera num timbre que acalenta e nos faz sonhar. Os versos desdobram-se em aguarelas multicolores e filigranadas em tons suaves, inspirando imagens iridescentes que se derramam em amplexos saudosistas.
Numa significativa simbiose entre o passado e o presente, ou seja, entre as ilhas donde emigramos e a califorlândia aonde aportamos, Maria das Dores Beirão interpreta fielmente a expressividade do nosso sentir, e transmite amorosamente o eco da nossa nostalgia:
“Não esqueceram as hortênsias que bordam as suas ilhas, mas colhem com ternura as papoilas douradas que matizam os campos da sua aventura.”
Da Costa Oeste rendilhada pelo Pacífico, vamos à Costa Leste banhada pelo Atlântico, a fim de apresentar as “Pérolas Poéticas Açorianas”, ou seja, o “Rosário da Saudade”que o emigrante povoacense Daniel Amaral carinhosamente transformou em livro.
Emigrado desde 1957, reside em East Providence (Rhode Island), onde sempre se há distinguido na expansão da nossa cultura, folclore e tradição, tendo participado ainda nas típicas Cantigas ao Desafio.
Os versos de Daniel Amaral espraiam-se numa dúzia de capítulos diversificados em poemas de cariz pessoal e histórico, e numa extensa variedade de poesias festivas e patrióticas, com as populares desgarradas servindo de complemento a estas “Pérolas”que, na sua graciosidade, representam as contas do “Rosário”desfiando as saudades acrisoladas na alma do emigrante: “S. Miguel serás sempre a minha terra/ S. Miguel serás sempre o meu pensar/ Mesmo longe de ti meu peito encerra/ Toda a mágoa que senti em te deixar.”
De há muito que, nas páginas do “Portuguese Times”, vinha lendo e apreciando as poesias do faialense Eduardo Lacerda, emigrado em New York desde 1949, mas presentemente a residir em Wilmington (Delaware), donde há pouco enviou, em gentil oferta, os seus tão mimosos quão maviosos “Ecos da Saudade”, livro publicado em 1995, juntamente com os livrinhos “Poetic Variations”(2002) e “Variações Poéticas”(2003).
Portanto, só agora é que se descortinou a oportunidade para eu avaliar, mas intimamente, a veia poética desde meu outro irmão-emigrante. Ao perambular, em leitura sempre atenta, através dos primorosamente ajardinados poemas de Eduardo Lacerda, cheguei à conclusão de estar realmente a partilhar os mesmos ecos da mesma saudade do autor, que nos diz: “O livro que escrevi/ Revela a simples verdade/ Que vi, ouvi e senti / Ecos da minha saudade.”