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Por: Dr. Tomás Ferreira
Uma lei que nos interessa a todos
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George Smitherman Ministro da
Saúde do Ontário e Peter Fonseca Parlamentar do
Ministro da Saúde
Fala-se bastante do preço de muitos produtos
e serviços, como o da gasolina e dos bilhetes de avião
para Portugal, mas muitas vezes esquecemos o custo dos medicamentos.
Dizia-me uma pesso amiga, que a notícia bastante divulgada
nos media Canadianos e diga-se de passagem um pouco esquecidas
pelos seus colegas luso-canadianos, referentes à controvérsia
originada pelo projecto de lei de 102 destinado a reduzir o preço
dos medicamentos, pouco lhe dizia respeito, uma vez que até
há pouco tempo tinha os seus remédios, por sinal
caríssimos, pagos pela sua União, e dentro de semanas,
uma vez que atingira os 65 anos, custeados pelo governo do Ontário.
Tentei explicar ao meu amigo dois pontos importantes, em primeiro
lugar, quem pagava os remédios era ele próprio e
todos nós, uma vez que a União ou o governo, iam
buscar o dinheiro para pagar os medicamentos, aos descontos nos
salários ou aos impostos.
Em segundo lugar, o preço dos remédios estava a
subir duma forma tão rápida e assustadora e que
uma vez que o dinheiro não caiu do céu, mas como
tudo nesta vida é limitado, estamos a atingir um ponto
em que as verbas para a saúde começam a ser afectadas
pelo aumento assustador no preço dos medicamentos. Por
exemplo, os hospitais começaram a cortar em serviços
essenciais como o número de enfermeiras ou o uso de testes
necessários como MRIs (ressonância magnética)
por causa das despesas com os medicamentos. Também serviços
essenciais pagos pelo governo, como “home care” (cuidados
domiciliários) ou instituições para a terceira
idade, começam a sentir o efeito das despesas com os remédios.
O mesmo se passa com as uniões e os seguros de saúde
que começam a ter de aumentar os descontos nos salários
ou a cercear o número de serviços e a sua qualidade
como por exemplo fisioterapia, óculos e cuidados dentários
para compensar o aumento no custo dos medicamentos.
Sempre a Subir
Em 2005, no Canadá gastaram-se 25 biliões
de dólares em medicamentos, o que não é só
uma quantia assustadora, mas o que é pior, um aumento de
11% sobre o ano anterior. Segundo um estudo do “ Canadian
Institute for Health on Information”, publicado recentemente
no Globe and Mail, a despesa em remédios necessitando receitas,
que era de 3 biliões por ano em 1986 atingiu este ano 20,6
biliões. Também nos informam, que no ano passado
foram escritas no Canadá 400 milhões de receitas,
o que dá uma média de 12 por pessoa. Por outro lado
a percentagem da verba para a saúde, que é hoje
gasta em medicamentos, que até há poucos anos, era
entre 5 e 10% continua a subir. Segundo as estatísticas
a que me estou a referir, dos 130 biliões de dólares
gastos no ano passado com a saúde 17,5% foram para pagar
medicamentos. Assim a despesa com remédios, não
está só a aumentar, mas cada vez leva uma percentagem
maior das verbas para a saúde. Se continuar assim, as despesas
com remédios ultrapassarão todas as outras.
As causas para esse aumento desenfreado no custo dos medicamentos,
são complexas e devido a muitas causas.
Uma delas é o interesse que as pessoas têm em ser
tratados para tudo, mesmo coisas sem importância, muitas
vezes motivadas pela publicidade na televisão outros medias.
Claro que os médicos, que afinal são quem escrevem
as receitas, também têm uma grande responsabilidade
no assunto. Sobre esse assunto, hoje um problema muito sério
da saúde, já falamos várias vezes no passado
e com certeza será abordado nesta coluna, no futuro.
De notar, que embora a saúde da população
seja duma certa menira igual em todas as províncias do
Canadá, o gasto em medicamentos por pessoa varia muito,
indo desde 837 dólares no Ontário que é o
maior gastador, até o território de Nunavut em que
é de 482 dólares, passando por Alberta em que atinge
cerca de 700 e Manitoba aonde é à volta de 690.
Afinal se a saúde é a mesma em todo o lado, todos
deveríamos gastar o mesmo. Será que factores como
a publicidade afectaram o uso de medicamentos?
Outros factores que levam ao aumento das verbas gastas com os
medicamentos são que se por um lado cada vez se usam mais
remédios, eles também custa cada vez mais.
Uma das razões para esse preço exorbitante, é
aparente cada vez que ligamos a televisão e vimos a propaganda
de remédios, mesmo os que exigem receitas serem promovidos
ao mesmo tempo que a Coca Cola, cerveja e detergentes. Claro que
o leitor apenas vê a propaganda feita nos media e muitas
vezes desconhece que milhões de dólares são
gastos a promover essses produtos aos médicos, que vão
desde palestras científicas que se realizam não
nos hospitais ou nas universidades, mas nos restaurantes mais
caros da cidade. Será que uma refeição cara,
torna os cérebros dos médicos mais receptivos à
ciência?
Essas e outras formas de propaganda dos remédios, atingem
cerca de 15% das despesas das grandes companhias farmacêuticas,
os quais serão obviamente pagos pelo consumidor. Segundo
um artigo publicado no “ Canada Family Physician”,
escrito pelo Dr. Joel Lex.chin, professor de medicina da família
na Universidade de Toronto, as grandes companhias farmacêuticas
gastaram no Canadá, em 2004, 2,1 biliões de dólares,
o que equivale a 30.000 dólares por cada médico
para promoverem os seus medicamentos.
Seria bom para os doentes, que essas verbas fossem utilizadas
para baixar o preço dos medicamentos.
Finalmente, na competição entre companhias farmaceuticas,
elas em vez de gastarem dinheiro em produzir verdadeiros novos
medicamentos continuam a produzir produtos semelhantes e a gastar
fortunas em promove-los, em guerras semelhantes aquelas entre
a Coca Cola e a Pepsicola.
Po exemplo, há cerca de 30 anos, foi descoberta uma nova
família de medicamentos para baixar o colesterol chamadas
estatinas (statins em inglês), cuja primeiro produto se
chamava Lovastatin (MEVACOR). Depois dessa apareceram várias
irmãs, todas elas proclamando que são melhores,
quando afinal são praticamente a mesma coisa. Assim teremos
agora a Sinvastatina (ZOCOR), Pravastatin (PRAVACHOL), Atarvastatin
(LIPITOR), Rosuvastatin (CRESTOR) e Fluvastatin (LESCOL). Enfim
é o que se chama a producção de medicamentos
“me too” (eu também), uma companhia produz
um e as outras fazem um semelhante. Para competir e conseguir
vender o seu produto, as companhias farmacêuticas dispendem
milhões para convencer os médicos que o seu remédio
é melhor.
Diga-se de passagem que durante estes 30 anos, as companhias farmacêuticas,
apenas produziram um único novo medicamento para o colesterol,
EZITROL, posto no mercado no ano passado.
A guerra das estatinas, cada um procurando promover-se como a
melhor, deve ter custado uma fortuna, que claro é paga
com o aumento no preço dos produtos.
Soluções para Ontário
O Ministro da Saúde da Província
do Ontário, George Smitherman, uma pessoa que muito tem
feito para assegurar aos habitantes desta província um
serviço de saúde eficiente e igual para todos habitantes
do Ontário.
No ano passado, esta província gastou 3 biliões
de dólares em medicamentos para pessoas da terceira idade
e na assistência social, enquanto os diversos planos de
saúde, muitos deles pagos pelas companhias de seguros e
Uniões, dispenderam 2,6 biliões. É de esclarecer
que estas verbas estão a aumentar a uma média de
10 a 15% por ano, o que em breve tornará impossível
continuar com estes programas.
O projecto de lei 106, a apresentar ao Parlamento da Província
do Ontário é bastante complexo mas mencionarei apenas
o mais importante.
Calculo que o leitor nunca tenha ouvido falar da existência
de pagamentos secretos feitos pelas companhias farmacêuticas
às farmácias, para que tenham à venda os
seus produtos. A propósito. O leitor não deve ficar
envergonhado por não saber destes pagamentos feitos à
socapa pelas companhias farmacêuticas, pois eu que pratico
medicina nesta província há mais de 30 anos também
não sabia da existência de semelhante coisa. Segundo
os cálculos do Ministro da Saúde, apenas nos medicamentos
chamados genéricos, os pagamentos atingem o valor de 200
milhões de dólares o que aumenta o preço
destes produtos de 40%. Devo acrescentar que os farmacêuticos,
com a nova lei, irão receber 7% de aumento na chamada “dispensing
fee” aquele dinheiro que se paga extra em todos os medicamentos
com receita, o qual é dado para compensar o trabalho, responsabilidade
e conselhos que o doente recebe ao ser aviado um remédio.
Devo acrescentar que esse pagamento é perfeitamente justificado,
embora muitos portugueses, oriundo dum país aonde não
existe este sistema tenham certa resistência em fazer o
pagamento.
Como é de se esperar os farmacêuticos estão
a reagir contra o projecto de lei 102. É natural que esta
lei ao acabar com o tal subsídio, venha cortar nos lucros
das farmácias e até talvez a encerrar algumas. No
entanto, vivemos num sistema de mercado livre e as farmácias
como as mercearias, bares e lojas de modas ou bancos, todas lutam
para obter seus clientes. Um colega meu português que visitou
Toronto, ficou impressionado com o número de farmácias
existentes nesta cidade. Infelizmente, para os que trabalham nelas
ou que investiram dinheiro neste comércio, o projecto deles
102 irá trazer-lhes dificuldade ou até desemprego.
No entanto, o governo tem obrigaçãode zelar pelo
dinheiro dos contribuintes e de assegurar que o sistema de saúde
que temos continue a funcionar eficientemente. Se nada se fizer
para reduzir o aumento vertiginoso no preço dos medicamentos,
o nosso sistema não será capaz de dar à população
o nível de tratamento a que está habituada e merece.
Claro que qualquer corte nos seviços de saúde irá
atingir mais os que estão na assistência social ou
cidadãos que atingiram a terceira idade.
Ao que diz o Toronto Star, as grandes companhias farmacêuticas,
estão a tentar ultrapassar o ministro da saúde e
dirigir os seus esforços directamente ao Primeiro Ministro
Danto Mc Guinty.
Nós os contribuintes e utentes dos serviços de saúde,
que não podemos dirigir-nos directamente ao Primeiro Ministro,d
everemos no entanto apoiar o ministro George Smilherman, ele está
a lutar por nós.
Não esqueçamos também que o nosso Peter Fonseca,
membro do Parlamento da Província do Ontário, é
o Secretario Parlamentar do Ministro. A próxima vez que
o virmos deveremos falar com ele no projecto de lei 102.
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