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Por: Ferreira Moreno
No transacto dia 29 de Junho, festa do glorioso
S. Pedro, ocorreu o vigésimo quinto aniversário
do falecimento, em Ponta Delgada, do ilustrís simo açoriano
cujo nome está profundamente gravado em nossos corações:
Carreiro da Costa.
Neste momento, estou a mirar religiosamente a cópia de
ex-libris, ou seja, a legenda que o próprio Carreiro da
Costa desenhou e afixou em todos os seus livros de estimação:
Num carreiro que significativamente sobe ao cimo duma montanha,
recortado sobre um sol irradiando chispas de luz, como em arco-íris
surge nessa luz a legenda, que Carreiro da Costa escolheu como
lema da sua existência e trabalho: “Via longa, Longior,
Voluntas”.
Traduzido p´ró nosso vernáculo, este ex-libris
significa: “O caminho é longo, mas mais longa é
a vontade”.
Ao recordar a memória benquista do saudoso Dr. Francisco
Carreiro da Costa, é o mesmo que recordar e acentuar tanta
coisa bela que ele escreveu, tanto hino de amor à Terra
Açoriana, tanta ternura pelas tradições e
pelas gentes dos Açores.
Recordar este aniversário é recordar, uma vez mais,
aqueles serões que Carreiro da Costa passou sobre livros,
investigando a históriae e a vida das parcelas açorianas
para, depois, transmiti-las através da imprensa e da rádio.
Recordar esta data é recordar as palestras e conferências,
distribuídas por toda a parte, e escutadas sempre com reverente
acolhimento e entusiasmo. Num testemunho de eterna gratidão,
convém recordar ainda o fruto do seu trabalho, tão
dedicado quão compensante, que ficou enraizado no âmago
dos nossos corações.
Recordar o seu nome é recordar a rara gentileza dum Mestre,
sempre prest]avel a todos quantos dele se paroximavam a solicitar
aux]ilio e em busca de informações.
É com a mais profunda humildade e grata emoção
que abertamente, confesso estar incluído neste número
de admiradores e discípulos. Jamais esquecerei a amizade
e estímulo dispensados quando, em 1953, o procurei pela
primeira vez na recolha de preciosos dados etnográficos
p´rá composição duma série de
crónicas nas páginas do “Diário dos
Açores”.
Para além da amizade, fiquei a dever-lhe o incentivo, mais
tarde traduzido em apoio, deveras generoso, no estudo e propaganda
do inestimável tesouro das nossas tradições.
A última vez que o escutei, foi precisamente na minha saudosa
e querida terra natal, a Ribeira Grande, no dia 27 de Junho de
1970. No Salão Nobre da Câmara Municipal, Carreiro
da Costa apresentou, então uma palestra subordinada ao
tema “O Apóstolo São Pedro nas Tradições
Populares” e que culminou com uma inspirada Lôa, repleta
de versos alusivos às freguesias e pessoas do Conselho
Ribeiragrandense, e aonde fiquei incluído:
E não faltem, bom S. Pedro,
Tinta, papel, mão ligeira,
Lá longe, na Califórnia,
Ao sô Father Joe Ferreira.
Curioso, sem dúvida o facto do falecimento
do Dr. Carreiro da Costa ter ocorrido precisamente no dia 29 de
Junhode 1981, ou seja, no dia de festa de S. Pedro!
Ó meu querido S. Pedro,
Do céu abre a tua porta,
P´ra escutares bom folclore,
P´lo nosso Carreiro da Costa.
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