Por: Ferreira Moreno
Arthur Vieira Ávila nasceu nas Lajes da
ilha do Pico (Açores) ao 5 de Março de 1888, tendo
emigrado p’rá Califorlândia em 1909, contando
21 anos d’idade. Pouco depois, em 1912, fundava “O
Lavrador Português”, o primeiro jornal português
no Vale de San Joaquin.
Mais tarde, o seu interesse na propagação da nossa
Língua, Cultura e Tradições, levá-lo-ia
a fundar uma programa radiofónico ao título “Castelos
Românticos”, que dirigiu desde 1930 até a data
do seu falecimento, ocorrido em Oakland aos 14 de maio de 1962.
Não é exagero, nem favoritismo da minha parte considerar
Arthur Ávila como pioneiro dos programas radiofónicos
portugueses DIÁRIOS nos Estados Unidos. A extraordinária
popularidade, que sempre rodeou este programa adentro da nossa
comunidade, deve-se igualmente á notável coadjuvação
prestada pela esposa do Arthur, a D. Celeste Ávila, mais
conhecida por “Rosinha”, falecida em Junho do ano
de 2003.
Á memória de ambos que, em vida, me acolheram com
a sua amizade e simpatia, dedico esta crónica de Natal,
transcrevendo algumas das muitas e apreciadas quadras proferidas
pelo respectivo autor, Arthur Vieira Ávila, aos microfones
de “Castelos Românticos”...
E aproxima-se o Natal
E todo o povo apressado,
Faz compras, aqui e ali,
Nem que fosse p’ra um noivado.
É tal compra de presentes,
Contadinhos pelos dedos;
P’rá mamâ um vestido,
P’rós miúdos brinquedos.
Mesmo os mais carrancudos,
Impertinentes, teimosos,
Em chegando ao Natal,
Parecem até bondosos.
Vinganças, desaparecem,
Em todos há alegria.
Que pena não se fazer
Um Natal de cada dia!
Aproxima-se o Natal
Da família o grande Dia,
Em toda a Cristandade
O de maior alegria.
É Jesus que Se divide
Por toda a Humanidade,
A dar Paz na terra aos homens,
Cheios de boa vontade.
Eu tenho saudades, tenho,
No meu peito de verdade,
E digo com um suspiro:
Quem voltasse à mocidade!
Nesta época do Natal,
Existem em todos os peitos
Dos filhos de Portugal
Presépios de amor feitos.
Quem bom santo seria
Se o Natal de verdade,
Fosse sempre, dia-a-dia,
P’ra bem da humanidade.
Aproxima-se o Natal
Da Família a grande festa,
Noite Santa, sem igual,
Não há outra como esta.
Na véspera há consoada,
Come-se que é um regalo,
E, depois, à meia-noite,
Estamos na “Missa do Galo.”
Dia de Amor e de Paz
É o dia de Natal.
Oh! Que saudades, eu tenho
Deste dia em Portugal.
O Natal na Califórnia
Tem outro feitio e arte,
Mas também é de Jesus,
Deus está em toda a parte.
Nós lá temos o presépio,
Aqui, árvore de Natal,
Oh que saudades eu tenho
Deste dia em Portugal.
Aproxima-se o Natal,
Época de amor e paz;
Eu recordo com saudade
O meu tempo de rapaz.
Recordo o presépio lindo,
Os pastorinhos, Reis Magos,
A Virgem-Mãe, o menino
Agasalhado em afagos.
O trigo verde, as laranjas,
O jumento, as ovelhinhas,
As amêndoas e confeitos,
E outras doces coisinhas.
Vamos à “Missa do Galo”,
Pedir ao Menino-Deus,
Que dê alegria e paz
Aos vossos e aos meus.
Nesta terra americana
O Natal beleza encerra,
Mas ai! Como é diferente
O Natal na minha terra!...
O presépio tão cristão
Nas terras de Portugal,
Nunca será igualado
Pela Árvore de Natal.
Já passou a Noite-Santa,
Santa-Noite do Natal;
Mas do Deus-Menino a manta,
É nosso abrigo e fanal.
Em cada peito uma esperança,
Que nasceu da santidade
Dessa noite de bonança
Cheia de amor e bondade.
Felizmente temos ainda conosco octogenário
conterrâneo micaelense António de Medeiros Silva,
mais conhecido por Zé da Chica emigrado em New Bedford
desde 1967, e que continua a deliciar-nos com as suas sumarentas
Gazetinhas no semanário “Portuguese Times”,
a ele pertencem as quadras, que passo a transcrever...
Natal... ainda me lembro,
Com que anseio esperava,
Que todo o ano me lembrava
O Santo mês de Dezembro.
Desde a árvore e seu remate
A’linda decoração,
Com bolas feitas à mão
Com papel de chocolate.
No chão um presépio lindo
Feito com tanta ternura
Com musgos e serradura
E com montanhas subindo.
A cabana mais ao lado
Toda cheinha de luz,
E nas palhinhas Jesus
Na Manjedoura deitado.
Junto, Maria e José
De joelhos a rezar
E os pastores a ofertar
Dádivas da sua fé.
Em volta distribuídas,
Figuras tradicionais,
Mulheres, homens, animais,
Todas de barro esculpidas.
Ai que saudades do sino
Repicando alegremente,
Dos cantares da nossa gente,
Da mijinha do Menino.
Da festa tão animada
Com tod’a família unida
Alegre, tão divertida
Na noite da Consoada.
Hoje aqui neste país
Ao qual tod’o mundo exalta,
Tenho tudo, nada falta,
Mas não me sinto feliz.
Havia necessidade
Mas não havia tristeza...
Talvez aquela pobreza
Nos dava a felicidade!
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