Santa Ana nos Açores


Por: Ferreira Moreno

Na Califorlândia temos a cidade de Santa Ana com a respectiva igreja paroquial dedicada a Saint Anne, tradicionalmente considerada a Mãe da Virgem Maria e, consequentemente, a avó de Cristo. No vale de San Joaquim, mais precisamente na cidade de Lodi, encontramos a respectiva igreja consagrada a Saint Anne, cujo esposo alegadamente chamava-se Joaquim.
A Dioceses de Oakland, a que eu pertenço, alberga três igrejas com a invocação de Saint Anne, localizadas em Union City, Walnut Creek and Byron. Hoje porém, tenciono falar acerca da presença de Sant’Ana nessas “ilhas dos meus amores”, ou seja, os Açores.
O nome de Santa Ana aparece logo no início do povoamento na ilha da Santa Maria, a primeira na ordem dos descobrimentos que se fizeram no arquipélago dos Açores. Gaspar Frutoso escreveu: “Aqui se fizeram as primeiras casas e neste lugar se fez também uma igreja no princípio, mas não se sabe de que invocação era. Mas chama-se ali Sant’Ana; pode ser que a igreja seria a sua”. (Saudades, Livro III, Página 34 – Edição 1998).
O ribeiragrandense Frei Agostinho de Monte Alverne (1629-1726, no primeiro volume das suas “Crónicas”, fez referência a uma ermida de Sant’Ana na vila do Porto (página 87) e a um algar “que por outro nome chamam a Furna de Sant’Ana. Junto à ermida da Senhora dos Anjos”. (Página 106).
Na sua “Descrição da Ilha de Santa Maria”o Tenente-Coronel José Carlos de Figueiro declarou: “Foi aqui em Santana que se fixou o primeiro povoado. Este sítio de Sant’Ana também se chama de Nossa Senhora da Boa Viagem com sua ermida onde estão catorze casais de seareiros”.
Embora não existem quaisquer vestígios da ermida de Sant’Ana, ainda hoje existe um pequeno povoado mariense com o nome de Santana. Curiosamente, foi no algar ou Furna de Sant’Ana que os marienses se refugiaram, quando a ilha foi assaltada por uma corja de piratas argelinos em 1616. (Armando Monteiro, Pedras de Santa Maria Ed. 1969).
Na ilha de S. Miguel, julgo que foi em Ponta Delgada que se construiu a primeira ermida em honra de Sant’Ana. Não consegui precisar com exactidão em que data, mas a ela se refere MonteAlverne nos seguintes termos: “O licenciado António de Frias e esposa Beatriz Camela fundaram a ermida de Sant’Ana com tanta grandeza e perfeição, que nela hospedaram os religiosos agostinhos em 25 de Julho de 1606”. (Crónicas, Volume II, Página 147 – Edição 1994).
Ainda em conformidade com testemunho de Monte Alverne, antecedendo a chegada dos frades agostinhos e prolongando-se com a estadia deles em Ponta Delgada, já vivia na ermida de Sant’Ana o venerável Frei Brás Soares que “saiu deste mundo cheio de méritos no centésimo vigésimo primeiro ano da sua vida”.
Num artigo, que ainda guardo, do saudoso amigo Manuel Jacinto Andrade (Açoriano Oriental, 26 de Julho de 1996), somos informados que: “Há três décadas, era frequente realizaram-se ali casamentos. Nos últimos anos, a ermida passou a funcionar como necrotério “Frei Diogo das Chagas (1575-1667) designou-a uma ermida muito formosa (Espelho Cristalino, Pág 188 Ed. 1989).
Devemos igualmente a Monte Alverne a informação da existência duma ermida de Sant’Ana na freguesia das Capelas. No entanto, ele não adiantou pormenores, enquanto Diogo das Chagas, limitou-se a dizer que “estava na Vinha de Agostinho da Costa com a porta p’rá rua”.
O Padre João José Tavares (1862-1933), no seu precioso livro “A vila da Lagoa & o seu Conselho”, editado postumamente em 1944, deixou dito que o capitão-mor desta vila, Guilherme Fisher Borges Rebelo, “edificou uma ermida a Sant’Ana junto as suas casas na freguesia do Rosário, com a doação do património em Novembro de 1789. Hoje as casas e ermida são propriedade dos herdeiros de Bernado Machado de Faria e Maia”.
Santana, no concelho do Nordeste, foi elevada a freguesia em 1960, englobando os lugares da Feteira Pequena e Feteira Grande. A respectiva de Sant’Ana é de construção posterior ao século 16. Deve-se Padre João Jacinto Pacheco os trabalhos de remodelação e ampliação da igreja em 1869.
Com respeito à história ermida de Sant’Ana nas Furnas, construída em 1745 pelo Padre Cosme de Pimentel, já dela me ocupei demoradamente noutra crónica. Prometo prosseguir nesta romaria pelas ermidas de Sant’Ana nas restantes ilhas dos Açores.

Ai, linda Ana, quem dera
Nessa face delicada

A rosa p’ra cheirar,
Nessa face delicada

A rosa p’ra cheirar,
Há-de ser do peito de Ana:

Dar os beijos que desejo,
Ao rasgar da madrugada.

Apanhando ao domingo,
Dá cheiro a toda a semana.