Por: Ferreira Moreno
João Teixeira de Medeiros nasceu em Fall
River em 1901. Com nove d’idade acompanhou os pais à
terra natal destes, a Pedreira do Nordeste em S. Miguel dos Açores.
Em 1930, contando 29 anos, regressou a Fall River, contraindo
matrimónio com Maria de Lourdes Furtado em 1942. Faleceu
em 1995 com invejavelmente provecta de 94 anos, e enriquecendo-nos
com um inegavelmente precioso legado, ou seja, os livros “Do
tempo e de mim” e “Ilha em Terra”com vasta cópia
dos seus poemas, um dos quais passo agora a transcrever...
Como quem julga ter fé,
Fui à noite, de mansinho,
Pendurar na chaminé
O meu sapato velhinho.
Supliquei ao Deus divino,
Que me desse as primaveras
Dos meus natais de menino,
Dos meu natais de doutras eras.
Menino das tradições,
Menino de todo o povo,
Dá-me as velhas ilusões,
Quero vivê-las de novo,
Vem novamente iludir
Minha velhice e destino:
Quero gozar, quero ouvir
Meus risos de pequenino.
Trazes-me os sonhos que outrora
Viveram dentro de mim;
Estes meus sonhos de agora
São dum negrume sem fim.
Amortalha as ambições
Dos paladinos da guerra.
Traz a luz aos corações
E paz aos homens na terra.
Meu Deus! Meu deus, encontrei
O meu sapato inda frio,
Negro... velho... e tão vazio
Como na vésp’ra o deixei.
De saúde, e em meu redor
Vi filhos e netos meus;
Não há ventura maior
Que a paz e graça de Deus.
Numa alegria que enleia
Das famílias o destino,
Ficou minha casa cheia
Co’a graça do Deus-Menino.
Virgílio de Oliveira nasceu na freguesia
da Achada, concelho micaelense do Nordeste, aos 10 d’Abril
de 1901, tendo emigrado p’ra New bedford em 1966, onde viria
a falecer ao 17 de Fevereiro de 1967.
A este respeito, o Dr. Manuel Barbosa ( 1905 – 91) escreveu:
“Na ânsia de beneficiar a situação familiar
e, principalmente garantir aos filhos um futuro melhor, emigraram
todos p’ra New Bedford, indo o poeta depois da esposa, em
1966. A despeito das boas intenções deste acto,
é discutível o acerto do seu critério, pois
Virgílio, além de por essa altura se encontrar já
bastante depauperado de saúde, não poderia por forma
alguma adaptar-se ás condições dum país
onde, mercê de imenso industrialismo, o ritmo de vida é
trepidante e implacável p’rós fracos e p’rós
sonhadores.
Afastado da sua querida Ilha de S. Miguel, isolado de toda a convivência
social, não possuindo sequer um lar como o entende um coração
português, o poeta confinou-se no seu “canto”,
desapareceu rapidamente e morreu um ano depois.” (Figuras
& Perfis Literários, Ribeira Grande 1983)
Da autoria de Virgílio de Oliveira, a seguinte recordação
saudosista de Natal...
O Natal da minha terra
É festa de pobrezinhos...
Tanta verdura da serra
Nas casas cheirando a pinhos!
Doce paz, santa alegria,
Todas as almas invadem.
É mais perfeita a harmonia.
Quando há crença na humildade.
Dia de festa na aldeia?...
Tem a toalha outro alvor.
É hoje mais farta a ceia,
Na lareira há mais calor.
O Natal, festa do lar,
Quem é que o pode esquecer?
Vivemos a recordar,
E recordar é viver.
Saudosos, tocam os sinos...
Quero na fé enlevar-me.
Ao lado dos pequeninos
Vou outra vez assentar-me.
No presépio os olhos fitos,
Mãos postas, ajoelhado...
Não cabe no ser finito
Amar a Deus humilhado.
Percorri toda a distância
No tempo que já passou!
Do Natal da minha infância,
Sempre a saudade ficou!
José de Vasconcelos César de Oliveira,
mais conhecido simplesmente por Vasconcelos César, nasceu
em Ponta Delgada, São Miguel, ao 29 de Março de
1906. No dizer do Dr. Ruy Galvão de Carvalho, “a
característica principal da sua poesia é a simplicidade
e a naturalidade, ao jeito popular.” ( Antologia Poética
dos Açores, Volume II).
Aqui fica registrada uma ligeira amostra...
Minha mãe, o meu presépio,
Aquele que me fizeste,
Foi a prenda mais bonita
De quantas prendas me deste.
Os anjinhos, os pastores,
As ovelhas ao lado;
Os Reis Magos, os bonecos...
Tudo em papel recortado!
Numa pequena arribana,
Jesus, José e Maria.
Presépio que nos meus olhos
Outro melhor não havia!
Meu presépio de papel
Foste a prenda de Natal
Que jamais na minha vida
Voltei a ter outro igual.
Visto que o Natal representa troca de ofertas,
apresento esta mimosa quadra:
Eu hei-de dar ao menino
Uma fita p’ró chapéu;
Também Ele me há-de-dar
Um lugarzinho no céu.
|