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Por Gabriela Silva
Iniciar um artigo de opinião nem sempre é fácil.
As razões são múltiplas e complexas: por
um lado a dificuldade na escolha dos temas, por outro o receio
de opinar sobre questões que sejam susceptíveis
de criar mal estar em pessoas, grupos de trabalho, etc.. Daí
que tenha sido levada a reflectir (enquanto me refastelava a gozar
o sol deste Verão sobre o qual não tenho opinião
formada) acerca desta coisa muito séria que é o
"emitir opinião". E cheguei à conclusão,
que não me parece modesta como conjectura filosófica,
que ter opinião é uma coisa muito mais séria
do que possa pensar-se numa primeira abordagem, para além
de ser perigoso, arriscado e muito consequente para quem ousa
pronunciar-se sobre questões que mexem com valores sociais,
questões políticas ou éticas, etc.. Ora vejamos:
Numa reunião, as pessoas que emitem opinião arriscam-se,
desde logo, a que os presentes façam recair sobre elas
juízos de valor e coloca-as contra ou a favor das opiniões
emitidas por outros. Os que entram mudos e saem calados gozam
da vantagem de, sobre eles, não ser emitido qualquer juízo,
daí que, na maior parte das vezes, sejam considerados pessoas
estupendas, porque quem não tem opção, não
tem bandeira, está sempre ao lado dos gregos e dos troianos,
não tem incómodos, não tem maçadas,
não se zanga com ninguém, não corre qualquer
risco de ser mal interpretado, pela razão ainda mais simples
de que não se bate em cães mortos, não se
interrompe quem está calado, não se tira a palavra
a quem não fala, não se fala de quem não
existe, etc.,etc.. Porém, há gente que não
quer, não gosta, detesta emitir opinião, mesmo quando
tenha condições, capacidade e conhecimentos para
o fazer. Ou seja, há pessoas que não correm o risco
de ter opinião pública acerca de nada porque é
muito mais cómodo discutir pessoas em vez de ideias, é
muito mais interessante e seguro falar em pequeníssimas
rodas de amigos de ninharias e banalidades sempre com hipóteses
de negar, minutos depois, tudo o que se disse e que passava pelo
comentário despudorado e mal intencionado acerca da minha
vida, da tua vida, da vida de outras tantas pessoas interessantes
que emitem opinião acerca das coisas com desassombro, razão
porque se vêem frequentemente de relações
cortadas com imensas outras pessoas que não admitem que
nem sempre sejam donos da razão total.
Não é nossa intenção discutir aqui
se é bom ou mau ter opinião e se deve ou não
emiti-la em público. Haverá casos em que as posições
divergem, até porque da nossa parte também temos
sobre a questão algo a dizer.
Falar por falar, intervir por intervir, muitas vezes apenas pelo
desejo de ouvir o som da própria voz, dizendo chorrilhos
de asneiras é obviamente mau, Não ser verdadeiro
e consequente também poder ser mau, mas pior do que isso
é, de facto, não ter ideias ou simular ter sempre
uma postura positiva e simpática em relação
a tudo para estar de bem com todas as correntes de opinião.
Isso é pior que ficar calado.
Estou a escrever para uma coluna de opinião. Porque a
tenho. Mais ou menos simpática para com cidadãos
que me lêem ou escutam, mais ou menos arrojada ou mesmo
atrevida, tenho, sobre tudo o que acontece, a minha opinião,
da qual não prescindo. Mesmo quando sinto que me querem
cortar o som, continuo a opinar sem microfone mas com a consciência
de que estou a fazer aquilo que devo, ou seja: estou a pensar
pela minha cabeça e a dar a minha visão o mais honesta
possível das realidades que me cercam. Se isso às
vezes incomodar certos cérebros pensantes sem grande atrevimento
para debitar o que quer que seja sobre o que se passa à
sua volta, pior para essas criaturas que têm na cabeça
pouco mais que uma disquete para arquivo de rotinas sem valor
histórico relevante.
Em minha opinião (e aqui estou a expor-me)
sou fã da frase lapidar "ANTES MORRER LIVRE QUE
EM PAZ SUJEITO" daí que não vá abster-me
nunca de dizer o que penso desde que aquilo que penso não
seja para prejudicar ninguém nem para "morder"
na vida dos outros, mas seja tão somente o meu sentir,
o meu pensar e o meu querer na expressão maior da liberdade
que é o meu direito a ser diferente ou complementar do
outro. Com esta postura de liberdade interior, aceitando a crítica
com modéstia e admitindo que nem sempre a minha opinião
é a melhor ou a da maioria, penso estar a prestar um serviço
social de valor e, sobretudo, alivio as minhas toxinas e gasto,
de forma útil a minha adrenalina.
Quando aos outros, os que não têm nem opinião
nem adrenalina, só posso desejar-lhes saúde física
e mental que baste para terem qualidade de vida compatível
com a postura prática e relaxante que assumem perante a
vida e os acontecimentos. Por eles, ainda, transcrevo uma frase
do evangelho que é profundamente animadora para quem não
pensa nem fala: "Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque é deles o Reino dos Céus". Já
é porreiro, não acham? É que pensando na
vida eterna, vejo um vazio muito grande que não chega para
sonhar que S. Pedro na porta grande do Paraíso, esteja
a sorrir de orelha a orelha para me garantir um lugar de destaque
no Reino de Deus.
E olhem que, em minha opinião, é
muito dramático perceber tão pouco do que vai acontecer
depois da morte! Enfim... OPINIÕES!
Da colectânea "Califórnias
de Bruma"
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