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Por: Dr. Tomás Ferreira
Quando viajo pelo estrangeiro, mantenho o meu
hábito, ou melhor vício de estar informado do que
se passa pelo mundo e muito especialmente na terra aonde vivo
há mais de trinta anos, o Canadá. Claro que hoje,
com a divulgação da língua inglesa, é
fácil seguir o noticiário do que vai por esse mundo
afora, esteja-se de visita à Índia, Tailândia
ou Vietnam para mencionar alguns países em que estive nos
últimos anos. No entanto, durante essas visitas ao estrangeiro,
assim como quando estou em Portugal, raras vezes encontro notícias
referentes ao Canadá. É o caso que para dozer, que
com a excepção de algumas “catástrofes”
inventadas pelos media americano e português, como o sindroma
respiratório agudo, o SARS nada acontece na terra em que
vivemos e que muitos de nós consideramos como a nossa.
Assim não temos revoluções, ciclones, terramotos,
fomes, epidemias, instabilidade política e tantas outras
coisas, que em geral dão origem as notícias sensacionais.
Como canadianos, ou residentes do Canadá acreditamos como
o resto do mundo, que este é um país, próspero,
pacífico, tolerante, em que milhões de pessoas de
cores, religiões, ideologias e etnicidades diferentes vivem
em paz. Finalmente, além da insulina do conceito do stress
e da “ global village” (aldeia global) demos ao mundo,
o coneito de multiculturalismo, que outros países como
a Austrália, Reino Unido, Holanda e até a França
têm estado a implementar.
Desta maneira a notícia que 17 homens, cinco deles ao abrigo
da lei canadiana considerados menores, tinham sido presos, e iriram
ser acusados de prepararem actos de terrorismo em território
canadiano, deixou-nos a todos surpreendidos. Embora estejamos
já habituados a ser informados pelos media, que actos terroristas
são regularmente praticados por organizações
como a IRA (exército republicano irlandês), separatistas
bascos da ETA, seitas cristãs nos Estados Unidos, tamils
em Sri Lanka, palestinianos na Palestina e Israel e finalmente
os mais famosos de todos, os fundamentalistas mulçumanos,
responsáveis pela tragédia de 11 de Setembro em
em nova York, ataques bombistas em Inglatera, Espanha, França,
Quénia e vários países árabes, nós
no Canadá,continuávamos ingenuamente a acreditar
que assim como estamos protegidos de terramotos graves devido
à natureza do nosso terreno, também cá não
chegaria à loucura dos fanáticos mulçumanos.
A existência destes 17 presumidos terroristas veio fazer
nos acreditar que afinal po muito tolerantes que nós sejamos
no Canadá, não estávamos de modo algum isentos
do chamado terrorismo.
A propósito, os leitores assíduos estarão
lembrados como eu mais dois membros do conselho das comunidaes,
João Dias e Mario Gomes, todos com bigodes e podendo passar
por árabes, tomamos um taxi em Otava, guiado por um sujeito
bastante moreno e com um turbante que nos levou a uma recepção
na residência do Governador Geral, aonde nos deixaram entrar
sem nos pedir qualquer identificação. Apenas dizendo
que éramos convidadeos para a recepção. Pelos
vistos, esse tempos acabaram, e a partir de agora, infelizmente
temos de passar a viver com as medidas de vigilâncias que
existem no resto do mundo.
Terrorismo
Quem ouvir o Presidente dos Estados Unidos Sr.
George Bush, fica com a impressão que isto de terrorismo
é um conceito novo, inventado pelos fanáticos mulçumanos
ligados ao al-Qaeda do Sr. Bin Laden.
O cenceito de “terror”, aterrorizar os possíveis
inimigos usando violência indiscriminada como executando
pessoas em massa ou usando bombas aparece pela primeira vez escrito
na literatura ocidental em 1793. Depois da revolução
francesa de 1790, Robespierre, resolvido a manter o regime democrático
e a república idealista que sonhara, recorre aos meios
mais violentos para se sustentar no poder e inaugura o Grande
Terror em 1793, que afoga o país num mar de sangue. No
entanto, isto de aterrorizar o inimigo, já existe desde
o princípio da história humana. Quem leia, o antigo
testamento cristão, a Torah dos judeus (os cinco primeiros
livros da Bíblia), os Veda dos Hindus ou muitos clássicos
da antiguidade, verá que aterrorizar o inimigo, fazendo
barbaridades, como cortar a cabeça dos prisioneiros e pendurá-las
em sítios visíveis ou lançando-as com catapultas
por cima das muralhas de cidades sitiadas existe desde que o homem
inventou a guerra. Afinal a Inquisição criada pelo
Papa Gregório IX em 1233 para combater a heresia dos Albigenses,
que por sinal foram exterminadas da forma mais bárbara,
e torturou e queimou vivos em público milhares de pessoas
durante seis séculos, era uma fonte de Terror.
Nos tempos modernos, não só os muçulmanos
se dedicaram a actos de terrorismo. Eles abundam nos tempos modernos
como, os que foram cometidos pelos judeus na Palestina, como a
destruição com uma bomba do Hotel David e mais tarde
os bombistas suicidas palestinianos na mesma parte do mundo.
Os católicos da IRA (Exército Republicano Irlandês)
têm vindo a explodir bombas em bares, restaurantes, cinemas
e transportes públicos desde 1916, tendo finalmente assinado
um acordo de paz provisório há uns dois anos. Outros
cristãos, estes protestantes, da Irlanda do Norte, responderam
à IRA, usando o mesmo método. Todos nós sabemos
que em Espanha, bombas feitas pelos separatistas bascos rebentam
com freqüência em sítios públicos matando
muitos inocentes.
Nos Estados Unidos, várias seitas de cristãos fanáticos,
têm cometido actos de terror, dos quais o mais famoso, foi
em 1995 a destruição dum edifício do governo
americano, por um grupo dirigido por um tal Timothy Mc Veigh,
do qual resultaram 1686 mortos e centenas de feridos.
Há 2 ou 3 dias, os jornais noticiaram que um grupo de soldados
americanos, entraram numa aldeia do Iraque, e como retaliação
pela morte dum camarada, mataram uma duas dezenas de habitantes
incluindo mulheres e criançcas, fazendo fogo indiscriminadamente
sobre as pessoas que encontraram.
Enfim, não quero de forma alguma justificar os actos terroristas
dos fanáticos mulçumanos ou quaisquer outros, mas
tentar lembrar ao letiro que esta coisa de terrorismo não
é uma invenção dos muçulmanos para
destruir a sociedade na sua maioria cristã ocidental, mas
um mal que infelizmente existe, desde que o primeiro homem atacaou
o seu vizinho, a soco, à dentada ou com uma lança
que tinha acabado de inventar.
Quem são eles
Os presumidos terroristas apreendidos no Canadá,e
os autores dos ataques bombista de 11 de Setembro em nova York,
no metro de Londres, em Espanha, Egito, Adem e tantos outros sítios,
pertencem à religião muçulmana ou Islamista.
A palavra Islã significa em árabe submissão
ou estar em paz com Deus e uns muçulmanos são pessoas
que na mesma língua, são submissas a Deus. Existem
no mundo mais de 950 milhões de muçulmanos e a volta
de 750 mil no Canadá.
A propósito embora a religião muçulmana tenha
sido originada na Arábia, razão porque o corão
está escrito em Árabe, existem pessoas desta religião
em todo o mundo. Assim além dos muçulmanos árabes
e turcos, existem povos de raça branca com essa religião
como na Bósnia, Repúblicas do Cáucaso e Rússia,
negros como no Norte e Centro de África, e asiáticos
como na Índia, Paquistão, Bangladesh, Filipinas,
Tailândia e Indonésia. Países árabes,
Irão e Turquia. À semelhança do que se passa
com o cristianismo e o judaísmo, qualquer pessoase pode
converter a religião muçulmana. A religião
foi iniciada no país que é hoje a Arábia
Saudita por Maomé, que nasceu no ano de 570 da nossa era
e morreu em 632, o qual recebeu de Deus (Alá em Árabe)
as revelações que constituem o libro sagrado dos
muçulmanos o Korão ou Al-corão. De notar
que a religião muçulmana é monoteísta
(Só tem um Deus) e pretende ser uma revelação
do mesmo Deus dos cristãos e judeus. Desta maneira, os
muçulmanos reconhecem a existência de seis profetas,
Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus Cristo
e claro Maomé.
Como sucede com os cristãos, os muçulmanos estão
divididos, sendo os maiores grupos os sunis e is shiitas, que
ao longo dos séculos à semelhança de protestantes
e católicos têm se vindo a matar uns aos outros em
guerras contínuas.
Claro que há muitos outros grupos de muçulmanos,
como os druzes, fatimidas e Ismailis. No entanto, aquele que mais
nos interessa hoje são os Wahhbis, uma seita fundamentalista
que interpreta o Korão à letra, oprime as mulheres
e preconiza uma sociedade dominada pela religião, aonde
sexo, música, festas, álcool e qualquer forma de
divertimentos são proibidas. Estes fanáticos o equivalente
dos chamados “cultos” que existem entre os cristãos,
são aqueles que criaram a ideologia do terrorismo muçulmano.
Assim como na nossa sociedade ocidental os nossos jovens estão
expostos a ser recrutados para seitas que chamamos cultos, muitos
dele de ideologia falsamente cristã, também entre
os muçulmanos, os wahhbis, andam a tentar converter a jovens
esta ideologia fanática.
Tenho um colega muçulmano, pertencente a um ramo moderno
e tolerante da sua religião, que me contou que ele e seus
amigos vivem aterrorizados que os filhos sejam recrutados pelos
fanáticos. Assim como outros pais têm medo que os
jovens vão para certas discotecas e bares, aonde existem
drogas ou andem com más companhias, estes muçulmanos
tolerantes e modernos, receiam que os filhos vão a certas
mesquitas (igrejas muçulmanas) ou andem com alguns sacerdotes
e líderes religiosos extremistas.
Estupidez
Dizia Einstein que só havia duas coisas
que não tinham fim, uma era o universo e a outra a estupidez
humana. No dia seguinte à prisão dos pressumidos
terroristas, apareceram vidros partidos em várias igrejas
muçulmanas e escritos obcenos noutras. Claro que osextremistas
e fanáticos ficaram com certeza todos contentes por terem
um motivo para fazer a sua propaganda.
Os 750.000 muçulmanos do Canadá, não são
responsáveis por uma minoria de pessoas da sua religião,
que são fanáticos e pressumidamente terroristas.
Assim como os italianos não são todos da Mafia,
os irlandeses pertencem à IRA, os bascos a ETA, os Tamil
aos famigerados Tigers (Tigres), também nem todos os muçulmanos
são terroristas.
Como diz o chefe da Polícia de Toronto Bill Blair, citado
pelo Globe and Mail, não podemos deixar que um bando de
fanáticos e extremistas, nos roubem aquilo que faz com
que tenhamos uma grande cidade e eu acrescentarei uma grande nação.
Toronto e as outras grande cidades canadianas, são um exemplo
para o mundo, de como uma sociedade pode receber grande número
de imigrantes de várias etnias, raças, religiões,
línguas e culturas e ao mesmo tempo criar uma sociedade
em que vivemos todos em paz e harmonia.
Não devemos deixar que um bando de fanáticos venham
a destruir a paz e a tolerância que existe na terra em que
vivemos. Infelizmente, vai ser necessário tomar medidas
de segurnaça, para combater o terrorismo no Canadá.
Calculo que a entrada de três homens morenos de bigode sem
mostrarem qualquer identificação à residência
da governadora geral como citei no princípio desta coluna
não venha a ser possível no futuro e que nos edifícios
e a onde está o governo do Canadá e o seu parlamento
deixem ser e ter o ar descontraído que hoje têm,
com pessoas a entrar e a sair, falando com os membros do governo,
com a mesma facilidade com que se dirigem à vizinha ao
lado.
No entanto, não podemos perder o espírito de tolerância
paz e harmonia que existe no Canadá. Não devemos
esquecer, que os 750.000 muçulmanos que vivem no Canadá
não podem, nem devem ser responsáveis pela loucura
duma minoria de fanáticos e candidatos a terroristas.
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