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Não foi só o futebol, o que aconteceu na semana
passada, eu por mim vi oito jogos e até apostei um almoço
com um colega de origem inglesa que Portugal vai ganhar, outros
assuntos, que irão ter muito mais importância na
vida dos que habitam este país, merecem a nossa atenção.
A luta contra a doença, como já foi dito em várias
colunas neste jornal, não depende apenas da descoberta
de novos medicamentos ou técnicas cirúrgicas, mas
também de factores políticos e sociais. Assim a
pobreza, mesmo nos países desenvolvidos como no Canadá,
é sem dúvida um factor importante na doença.
Também milhões de pessoas morrem no chamado terceiro
mundo, com doenças como o paludismo, tuberculose, diarreia,
SIDA e má nutrição, que pdoeriam ser tratados
se os problemas que existem emcertos países fossem resolvidos,
quer sejam guerras civis, falta de desenvolvimento ou até
a exploração por multinacionais. Até no Canadá,
se verifica que certas populações têm mais
doenças porque são mais pobres como é o caso
das povoações nativas ou as que vivem nas áreas
mais pobres das cidades.
Quando eu fazia parte do conselho de administração
de Toronto District Health Council, foi feito um estudo que dividiu
a cidade em várias áreas, tendo-se verificado que
mesmo com um serviço de Saúde que é igual
para todos, as pessoas que viviam nas áreas mais ricas
tinham menos doenças. De notar que muitas das razões
para esse aumento de doenças, nem sequer é a pobreza
no sentido financeiro, mas maus hábitos alimentares ou
comportamento social, como comer “junk food” (alimentos
de má qualidade) falta de exercícios, fumo, obesidade,
bebida e uma alimentação com excesso de açúcar
e gordura. De notar que nos países desenvolvidos como no
Canadá, há mais gordos entre os ricos do que entre
os pobres.
Também se sabe, que existem aquilo a que se poderá
chamar doenças da riqueza, numa sociedade como a nossa
em que as pessoas andam de carro para todos os lados e consomem
grandes quantidades de alimentos de má qualidade, como
várias formas de batatas e galinha frita e outros produtos
com grandes quantidades de açúcar ou gorduras.
Afinal é mais barato ir à loja e comprar uma galinha
para grelhar do que comprar Kentucky Fried Chicken, conhecida
recentemente como KFC, talvez para disfarçar o “F”
que significa “fried” (frita).
Os leitores habituais, devem estar lembrados dum artigo que eu
escrevi, em Novembro de 2003 com o título de “Pior
que o Toucinho”, em que me referia a gorduras criadas pela
tecnologia, que ainda eram piores do que as que vinham dos porcos.
Tratava-se dum novo tipo de gordura criada pela passagem de óleos
vegetais por uma câmara aonde eram expostasa um gás
inofensivo o hidrogénio, do que resultava um produto chamado
“transfat” ou gordura hidrogenada. Esta gordura tem
qualidades excepcionais. Além dedar aos óleos a
consistência da manteiga e pode ser espalhada no pão,
ela torna os alimentos mais apetitosos, melhora o seu aroma e
textura e até faz com que eles durem mais.
Como era de esperar a indústria alimentar começou
a adicionar estas gorduras a vários produtos alimentares
como Kellogs blueberry, waffles, Doritos, Betty Crocker roll-ups,
McCain pizza pockets, peixe congelhado das companhias Blue Water
e Arrowroot, Handysnacks, hamburgers da Mcdonald e Burger King,
Goldfish crackers e Kentucky Fried Chicken (KFC) para citar exemplos
dos produtos mencionados no média canadiano. Aliás
devo acrescentar que uma grande parte dos produtos que se vendem
enlatados, empacotados, ou congelados, assim como muffins, donuts
e french fries têm gorduras hidrogenadas que foram selecionadas
por seus produtores.
A propósito, existe uma pequena quantidade de gorudra hidrogenada
em alimentos naturais como carne de vaca, carneiro e leite. No
entanto, essa quantidade é tão pequena quer seria
necessário beber 200 litros de leite para ingerir a quantidade
de gordura hidrogenada que existe num dos snacks (petisco) a que
me referi.
Dizia eu no artigo a que me referi escrito em 2003, que uma solução
para este problema de saúde,sabe-se hoje que estas gorduras
artificiais são tanto ou mais perigosas para a saúde
do que as naturais como o toucinho, seria política, istoé
o governo do Canadá deveria obrigar as compahias que produzem
os produtos alimentares a indicarem de forma clara que existem
gorduras hidrogenadas nas embalagens. Esse processo levaria cerca
de três anos. Na realidade esssa etapa já foi atingida.
Hoje, já existem nas embalagens referências às
tais “trans fats”, porém apenas a proibição
desses produtos, seria apenas uma solução aceitável.
Mais um passo em frente
Tratando-se do Canadá, o país dos comités,
comissões, grupos de estudos e coisas semelhantes o governo
criou uma “Task Force” (grupo de estudo com uma tarefa)
para estudar o assunto. Este grupo que é constituído
por médicos, cientistas e representantes do público
e da indústria alimentar, acaba de apresentar o seu relatório
final, um documento de 42 páginas escrito com grande cuidado
e precisão científica. SE as suas recomendações
forem aceitas, irá colocar o Canadá na vanguarda
da luta contra esta gordura criada pela indústria alimentar
o que segundo afirma o director executivo da Heart and Stroke
Foundation (Fundação para as doenças do coração
e acidentes vasculares cerebrais) Dr. Sally Brown, diminuirá
o número de doenças coronárias no Canadá
de 5%. Neste momento, apenas a Dinamarca tem legislação
para controlar as gorduras hidrogenadas e a União Européia
e os Estados Unidos estão interessados em seguiro exemplo
do Canadá.
Se as sugestões da “Task Force”,
forem implementadas, a percentagem de “Trans fats”
será limitada a 2% da gordura existente num óleo
ou margarina e 5% nos restantes alimentos o que reduzirá
consideravelmente a quantidade destas gorduras na alimentação.
Alguns cientistas como o Professor da Universidade de Guelph Dr.
Bruce Holub, citado pelo Toronto Star são da opinião
que estas gorduras nefastas deveriam ser completamente abolidas,
o que não parece ser possível, tanto mais que uma
pequena quantidade existe naturalmente, na carne de vaca, carneiro
e leite.
Quanto ao Ministro da Saúde, do governo federal em Otava
Tony Clement, parece bastante interessado e disposto a seguir
as recomendações da “Task Force”. Como
é de se esperar, estas coisas não se resolvem dum
dia para o outro e o Ministro da Saúde, terá de
apresentar a sua proposta ao gabinete que se desejar produzir
nova legislação, recorrerá ao Parlamento
para a aprovar. É o csao para dizer que neste momento é
necessário apenas uma decisão política, para
resolver este problema de saúde.
Até lá recomendo aos leitores que quando comprarem
algum produto alimentar empacotado, ou em lata, verifiquem no
r+otulo se há alguma referência a “trans fat”
ou a “Transfatty acids” ou “Hydrogenated fats”
que são os nomes porque é conhecida esta gordura
tão nociva para o coração e as artérias
e rejeitarem tudo o que tiver mais de 5%. Se for sólido
e 2% se for líquido.
No entanto, a melhor maneira de lutar contra esta gordura é
comprar os produtos frescos e cozinhá-los em casa.
É mais gostoso, melhor para a saúde e até
mais barato.
Enfima apresentação do relatório da comissão
que estudou estas gorduras nocivas foi uma vitória mais
importante da que a obtida em qualquer campo de futebol.
De qualquer maneira, não posso deixar fazer votos para
que a selecção portuguesa ganhe no próximo
jogo.
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