|
Por: Ferreira Moreno
Quer o “San Francisco Chronicle”,
quer o “Oakland Tribune”, anunciaram atempadamente
que na última semana de Dezembro 2004, logo após
o Natal, teria lugar na cidade de San Jose a convenção
dos zoroastrianos ou zoroastristas. Infelizmente, estes dois periódicos
não publicaram qualquer reportagem acerca dos resultados
desse congresso promovido pelos adeptos ou discípulos de
Zoroastro (Zoroastres), um profeta da antiguidade antecedendo
Cristo e responsável pelo estabelecimento duma religião,
tão específica e característica ao ponto
de haver sugestões pretendendo identifica-la com o judaísmo
e cristianismo, incluindo a narrativa evangélica dos reis
magos.
Por exemplo, “Funk & Wagnalls New Encyclopedia (volume
28) concorre com a teoria da influência das ideias de Zoroastro
em vários aspectos da religiosidade judaico-cristã.
Deparei com a mesma concordância no livro “History
of The World” (New York 1993) de J.M. Roberts, e bem assim
no primeiro volume “A History of Civilization”(Brinton,
Christopher & Wolff).
Evidentemente que vasculhei muitos outros livros da minha bibilioteca,
taiscomo “An Encyclopedia of World History”(Ancient,
Medieval & Modern); “The New Catholic Dictionary, Vatican
Edition” (New York 1929); “Anciente Times, A History
of Early World” (James Henry Breasted), e a edição
portuguesa da obra de Edmond Rochedieu ao título “Antigos
Cultos”(Ritos, Mitos & Símbolos da Antiguidade
à Idade Média).
Consultei, igualmente, a compreensiva edição “The
Masks of God”da autoria de Joseph Campbell, uma série
de quatro volumes abrangendo a Mitologia (primitiva, oriental,
ocidental & creativa). Depois de folhear o volume 23 da “Encyclopedia
Britannica”decidi, então dar início a esta
crónica.
Antes, porém, seja-me permitido fazer uma ligeira referência
ao livro “Legends of the World” de Richard Cavendish,
relatando curiosas “semelhanças”entre Zoroastro
e Cristo. Assim, Zoroastro teria nascido duma virgem, livrando-se
de atentados à sua vida, conversando com Deus e lutando
com demónios na sua infância. Passou um período
da sua juventude em meditação numa gruta no deserto
e começou a evangelizar aos 30 anos d’idade. A sua
missão foi acompanhada de muitos milagres, até ser
assassinado por um usurpador, junto ao altar, quando contava 77
anos d’idade.
Esbarrei com muita contradição no respeitante à
data e localidade do nascimento do profeta Zoroastro. P’ra
poupar tempo e espaço, direi apenas que ele nasceu algures
no Irão, hipoteticamente à “distância”
de meia dúzia de séculos antes de Cristo. A noção
básica da doutrina de Zoroastro centra-se no monoteísmo
(um só Deus), na luta entre o Bem e o Mal (representando
anjos e demónios), e no julgamento final.
O Zoroastrismo tornou-se a religião oficial do estado até
a conquista da Pérsia (hoje Irão) pelo grego Alexandre,
reaparecendo no segundo século da Era Cristã, e
desaparecendo com a invasão árabe (islamismo) séculos
depois, concentrando-se algures na Índia.
Convém lembrar aqui que foi o imperador persa Ciro quem
libertou os judeus do cativeiro babilónico, advindo daí
a suposição que muitas ideias (reliogiosas e folclóricas)
do zoroastrismo foram introduzidas na bíblia hebraica e
no Novo Testamento.
Numa convergente extensão de todo este paleio, há
quem favoreça a hipótese dos reis magos serem descendentes
dos antigos sacerdotes zoroastrianos. E como bem sabemos, cada
um vende a sua sardinha pelo preço que mais lhe convêm!
Em conformidade com “The Oxford Companion to Classical Civilization”(edição
1998), a antiguidade não fornece uma definição
clara sobre o significado das artes mágicas, devido sobretudo
à variedade de termos associados à diversidade dos
seus aspectos. Os termos gregos “magos & mageia”(magic
em ingles) são ambivalentes. Originalmente tal aplicava-se
aos peculiares e importantes ritos dos magos persas, com sentido
religioso e não de bruxaria. Os magos pertenciam à
classe aristocrática dos sacerdotes persas.
Ora a narrativa evangélica de S. Mateus informa-nos, claramente,
que o Menino-Jesus foi visitado por alguns magos do Oriente. Consequentemente,
eram oriundos da Pérsia, mas certamente não eram
reis, embora empossados em importantes funções governativas.
A veneração dos magos representa, pois, um protocolo
religioso e político. Reza a história que, no século
quinto, quando a Palestina foi invadida pelos persas, estes não
destruíram a Igreja da Natividade em Belém ao verem
uma pintura dos magos, que reconheceram como seus compatriotas,
representados com indumentária tipicamente persa!
Nota Final: Consta-me que existem 18 mil zoroastrianos na América
do Norte e 200 mil no mundo inteiro. A maioria encontra-se concentrada
no Irão e na Índia.
|