O NORDESTE - UM CONCELHO A CAMINHO DO PROGRESSO
(Toronto, 21 de Setembro de 2003)
Por Adelina Pereira - Adiaspora.com
O Doutor José Carlos Barbosa Carreiro, Presidente da Câmara
do Nordeste, esteve entre nós como um dos conferencistas
do 17° Ciclo de Cultura Açoriana que decorreu há
dias na cidade de Toronto. O objectivo primordial da sua visita
foi promover o concelho do qual é autarca junto da comunidade
açoriana aqui radicada, e inteirá-la dos progressos
e projectos que se desenrolam naquela região mais isolada
da Ilha de São Miguel, votada, durante muito tempo, a um
certo esquecimento.
Falou-nos dos esforços enveredados nos últimos
anos para trazer o Nordeste para a linha da frente de uma Europa
moderna e de como, através de alguns arrojados projectos
nos sectores turísticos e agrícolas, o Nordeste
está, actualmente, a esculpir para si um nicho próprio
nos mercados altamente competitivos da União Europeia.
Adiaspora.com: Porque que acha que devemos visitar o Concelho
do Nordeste? O que há no Concelho do Nordeste que nos possa
aliciar?
Dr. José Carlos Carreiro: Julgo que se deve visitar o
Nordeste, em primeiro lugar, atendendo a duas coisas fundamentais.
Primeiro, o Nordeste tem paisagens inesquecíveis que se
caracterizam por montanhas imponentes, provavelmente, das mais
bonitas da ilha de S. Miguel, pelos seus vales profundos marcados
por ribeiras que correm em direcção ao mar, e também
pelos os seus belos miradouros que são dos lindos dos Açores.
As vistas panorâmicas dos Miradouros da Tronqueira e da
Ponta do Estorninho são das mais bonitas dos Açores.
São paisagens inesquecíveis, visitadas por todas
os que visitam São Miguel, e que ficam na memória
de toda a gente. O Nordeste é uma região de uma
beleza impar e mantém, a par disso tudo, uma certa virgindade
de uma terra intocada, isto é, é uma terra onde
não houve adulterações, onde a própria
paisagem humanizada reflecte uma harmonia com a natureza impressionante.
As habitações estão muito bem integradas
na vegetação, com as suas casinhas pontilhadas de
branco numa das paisagens mais bonitas do arquipélago.
Queria também referir que o Concelho do Nordeste tem uma
hospitalidade que é reconhecida por todos. As pessoas são
agradáveis e hospitaleiras. Recebem de alma aberta aqueles
que nos visitam. Portanto, é um Concelho com excelentes
condições. Mais um motivo de sobra para nos visitar
é que, a par de tudo isso, temos boas condições
para acolher o turista mais exigente. Dispomos de uma estalagem
com excelentes condiçõe, pertencente ao Grupo Bensaúde,
com participação da autarquia. Foi, de facto, a
autarquia a entidade que deu o arranque, e deu porque, efectivamente,
os privados tinham alguma dificuldade em acreditar na viabilidade
económica do projecto.
Adiaspora.com: A Estalagem conserva as características
arquitectónicas regionais?
Dr. José Carlos Carreiro: Sim. O Arquitecto Gomes de Meneses,
o seu autor, teve em conta os aspectos de uma quinta e projectou
um edifício de quinta muito bonito que respeita as linhas
tradicionais de uma casa de quinta grande, mas no interior, adaptada
para o fim que é de criar as melhores condições
para os nossos visitantes. Ela chama-se, justamente, a Estalagem
da Quinta dos Clérigos. Era uma antiga quinta do mesmo
nome que foi preservada e onde se mantém algumas das plantas
originais - camélias muito bonitas, a sebe de camélia
- e também onde se pode ver uma ave que é muito
utilizada na gastronomia local, o capão. Esta ave está
agora muito difundida e que, oportunamente, no verão, tivemos
ocasião de dar a conhecer ao grande público através
da recuperação das antigas receitas, e da própria
criação destes animais que tinham caído em
desuso, que é o capão. Foi um grande sucesso. Fez
grande furor na Feira de Gastronomia que teve lugar em Julho.
Adiaspora.com: Foi uma ave muito utilizada na gastronomia de
outras épocas como a Renascença.
Dr. José Carlos Carreiro: Exactamente. O capão
tinha desaparecido em S. Miguel. Em tempos, houve muitas aves
destas no Nordeste onde, efectivamente, era mais apreciada e,
agora, foi finalmente recuperada. Há um empresário
local com uma criação de quinhentas aves que está
a abastecer a hotelaria da região. É possível,
hoje, voltar a apreciar aquele saboroso prato que é o capão.
Adiaspora.com: Qual é a população do Concelho
do Nordeste?
Dr. José Carlos Carreiro: O Concelho do Nordeste, no Census
de 2001, tinha 5,500 habitantes.
Adiaspora.com: E quantas freguesias?
Dr. José Carlos Carreiro: Neste momento, são 9
freguesias porque a Algarvia e Santo António foram elevadas
a freguesia. Assim, passámos de 7 para 9 freguesias com
a criação destas em 2002.
Adiaspora.com: Quais as actividades predominantes do Concelho?
Dr. José Carlos Carreiro: O Concelho do Nordeste é,
como costumo dizer, um concelho saudavelmente rural. A agro-pecuária
é a actividade predominante, mas também é
um concelho que já se começa a afirmar no turismo.
Adiaspora.com: É do conhecimento geral, que a agro-pecuária
é uma das actividades principais do arquipélago.
Dr. José Carlos Carreiro: É uma fonte de receitas
muito importante a par de uma cultura em que o Concelho do Nordeste
também se distingue, que é a cultura da batata,
que exportamos para o continente, e uma fonte de receita para
muitos nordestenses.
Adiaspora.com: Ao que nos parece, o sector da agro-pecuária
está presentemente a sofrer algumas dificuldades, como
a das cotas leiteiras impostas pela União Europeia.
Dr. José Carlos Carreiro: Confirmo isso. De facto, a agro-pecuária
está a passar algumas dificuldades. Espero que se saiba
encontrar a melhor solução para que o problema das
cotas não seja factor de estrangulamento da economia açoriana,
e que se possa fazer entender a Bruxelas que esta indústria
é fundamental para a sobrevivência económica
dos Açores. Penso que, comparados com países como
a França, Holanda ou a Alemanha, somos uma gota no oceano.
Adiaspora.com: Com as dificuldades que, actualmente, se fazem
sentir na agro-pecuária, talvez seja necessária
a reconversão para outros sectores como, por exemplo, para
o turismo rural.?
Dr. José Carlos Carreiro: Eu não diria reconversão.
A reconversão implica abandonar uma actividade e iniciar
outra. Acho que não. Penso que a agro-pecuária tem
o seu lugar, e creio que ela própria poderá crescer
mais. Penso que o turismo deve ser um complemento. Pode até
vir a ser uma actividade primordial na economia Açoriana,
mas a agro-pecuária tem o seu valor. Mais, nós não
temos dimensão para termos uma agricultura industrializada.
Todavia, podemos ter uma agricultura biológica que aposte
em produtos isentos de pesticidas, em produtos orgânicos
de elevada qualidade que os consumidores europeus venham a procurar.
É possível investir nisso, e é possível
criar, desta forma, uma fonte de receita complementar. Não
diria alternativa, porque a criação de gado, e,
sobretudo, a indústria do leite, tem um peso enorme na
economia dos Açores. Acho que o mais importante seria dar
um complemento à nossa agro-pecuária. Há
ainda muito que investir no turismo. Há que investir na
agricultura biológica e há que torná-la bastante
mais competitiva, aproveitando as diferenças, que é
aquilo que a Europa procura.
Adiaspora.com: Pensa, então, que a agricultura biológica
pode encontrar um nicho do mercado com terreno ainda por explorar?
Dr. José Carlos Carreiro: Sim, e que é cada vez
mais procurada pelos consumidores e com preços muito mais
interessantes dos da agricultura tradicional.
Adiaspora.com: Como sabe, uma das grandes preocupações
na actualidade a nível nacional é o desemprego.
Numa sua intervenção, referia que o desemprego afectava
sobretudo a população feminina e os jovens. Que
projectos, a médio e a longo prazo, existem no seu concelho
para amenizar esta situação, e para a criação
de novos postos de trabalho?
Dr. José Carlos Carreiro: Julgo que o debelar desta grande
chaga social que é o desemprego passa, em primeiro lugar,
por um maior investimento e pelo apoio do Governo Regional no
sector do turismo. Nós temos o direito de que o Governo
Regional olhe de maneira diferente para o Concelho do Nordeste
porque somos uma região em que não tem havido, de
facto, grande investimento. Claro que compete aos privados o investimento
nesta área, mas o Governo pode apoiar, e há, de
facto, incentivos muito grandes. Sei que se prevê a construção
de um campo de golfe e um novo hotel. Estes investimentos vão
criar muitos empregos e vão ajudar à fixação
dos jovens no nosso concelho. Estes são apenas alguns pólos
de investimento. Mas, certamente, existem outras áreas
onde se poderá investir mais. Estou convicto se o Governo
Regional criar incentivos, conforme já temos defendido
publicamente, para uma Zona Industrial do Concelho com uma via
rápida - que já há vários anos defendemos
e que esperamos seja lançada a concurso para o próximo
ano - é possível termos uma Zona Industrial com
incentivos para os empresários que irão, certamente,
criar vários postos de trabalho. É neste tipo de
iniciativas, por exemplo, que reside o futuro do nosso concelho.
Adiaspora.com: O Dr. José Carlos Carreiro é o Vice-Presidente
da Associação dos Municípios dos Açores.
Nessa sua qualidade, gostaria que nos elucidasse sobre o que se
passa no campo do relacionamento com o Governo Regional. Por outras
palavras, as exigências e as necessidades dos municípios
nunca são satisfeitas por inteiro pelos Governos. Na sua
qualidade de Vice-Presidente da Associação de Municípios
dos Açores, pode elucidar-nos qual o relacionamento que
este órgão mantém com o Governo Regional?
Dr. José Carlos Carreiro: O nosso relacionamento é
de ordem institucional em que procuramos respeitar as competências
do Governo, mas também, não há dúvida
nenhuma, de interferência no nosso âmbito de competências,
e naquilo que são os legítimos interesses dos Municípios
Açorianos. A Presidente da Associação de
Municípios dos Açores é a Dra. Berta Cabral
e, obviamente, aqui falo a título particular, como José
Carlos Carreiro, Presidente da Câmara do Nordeste. Portanto,
tudo aquilo que disser é nessa qualidade, e é nessa
qualidade que aqui me encontro no 17° Ciclo de Cultura Açoriana.
Não estou cá como Vice-Presidente da Associação
de Municípios. Contudo, direi que é necessário
que o Governo Regional mude o seu relacionamento com as autarquias
açorianas, que invista e apoie mais nos nossos municípios,
e demonstre com obras e respostas que acredita poder criativa
dos seus municípios. Esta é, na verade, a nossa
posição. Acho que é possível fazer
mais. É possível reforçar esta coligação,
porque ela é indispensável. Tenho dito que é
dando as mãos que nós poderemos fazer muito mais.
Os municípios já provaram que, como eu, investem,
e fazem obra significativa. Direi que farão a obra a que
o Governo Regional ou o Governo Central se propuserem. O próprio
Durão Barroso assim o reconheceu publicamente no Congresso
Nacional dos Municípios Portugueses. Julgo também
que o Governo Regional deverá adoptar uma prática
de não descriminação em relação
aos municípios conforme a cor das suas autarquias, seja
ela maioritária da cor do governo, ou maioritária
da cor do PSD, tal como nós fizemos com as nossas Juntas
de Freguesia, em que não as distinguimos de acordo com
a sua cor partidária aquando das eleições.
Devemos, após as eleições, vestir a camisola
do desenvolvimento, e esse desenvolvimento não se compadece
com teorias partidárias. Apostamos, sim, no desenvolvimento,
e isto passa por apoiar todos de igual maneira. Infelizmente,
nem sempre isto tem acontecido nos Açores no relacionamento
entre o Governo Regional e as autarquias de maioria PSD. Aliás,
creio que foi demonstrado publicamente que, para 70% dos municípios
dos Açores, até 2001, em dez milhões de contos
de investimento de equipação financeira, foram apenas
30% dos recursos, ao passo que para 30% dos municípios
de maioria Socialista, foram 70% dos recursos provenientes deste
montante, que foram o bolo da cooperação entre o
Governo e as Autarquias. Isto está mal, mas é isto
que tem vindo a acontecer. Queria referir, uma vez mais, que falo
aqui a título individual e não na qualidade de Vice-Presidente
da Associação dos Municípios dos Açores.
Adiaspora.com: Ao que nos parece, este problema tem se apresentado
a nível nacional Existe sempre uma tendência para
a discriminação partidária.
Dr. José Carlos Carreiro: Pode ter acontecido no passado,
mas que julgo que agora não acontece a nível nacional.
Acho que, neste momento, o Governo Central tem procurado tratar
os municípios por igual, com a maior justiça. Aconteceu
no passado, mas não com este Governo Central.
Adiaspora.com: Referiu na sua intervenção neste
17° Ciclo de Cultura Açoriana que a emigração
tem contribuído, ao longo dos anos e em larga medida, para
o despovoamento do Concelho do Nordeste. Como é que esta
situação se encontra actualmente? Os jovens ainda
se deslocam para os grandes centros?
Dr. José Carlos Carreiro: Ainda bem que me faz essa pergunta
porque me permite fazer uma nuance. Nós, de facto, na década
de 1960, tínhamos 12, 500 habitantes, tantos como o Concelho
da Lagoa, e quando o Concelho de Vila Franca ostentava uma população
de 14,500 habitantes. Com a nossa emigração, que
foi terrível ao longo das décadas 70 e 80, perdermos
mais de metade da população. Conseguimos pela primeira
vez, no Census de 2001, fixar a população, ou seja,
não baixámos a população. Tínhamos
a mesma população em 2001 que no Census de 1991,
o que significa que aquele grande esforço e investimento
que se fez, está a dar resultados, nomeadamente, a criação
do ensino secundário na Escola Secundária do Nordeste,
a criação da Escola Profissional e também
os cursos profissionais como o Curso Profissional de Turismo,
que veio prover o corpo de funcionários da Hospedaria e
Estalagem S. Jorge. Isto que é excelente. Isto é,
de facto, o tipo de resposta que acho que devemos dar para a fixação
dos nossos jovens.
Adiaspora.com: Falou-nos de alguns projectos que estão
agora a delinear-se nos horizontes do Concelho, como o campo de
golfe e de mais um hotel. A longo prazo, como vê o desenvolvimento
do Nordeste?
Dr. José Carlos Carreiro: Acredito
no desenvolvimento do Concelho. Acredito no futuro do Concelho.
Penso que o Nordeste tem enormes potencialidades na área,
como atrás referia, do turismo. Com uma boa acessibilidade,
com uma via rápida ao concelho, que irá permitir
chegarmos de Ponta Delgada à Vila do Nordeste em 45 minutos,
creio que vai aparecer muito mais investimento privado naquele
concelho, na indústria, particularmente, na indústria
hoteleira. Acho que, neste aspecto, é possível fazer
muito mais. Estou convicto que, com este esforço vai haver
melhores condições de vida naquele concelho. Passa,
como já referi, por esta melhoria da acessibilidade, que,
hoje, é muito difícil. Demora uma hora e meia para
chegar ao Nordeste de Ponta Delgada e este facto é motivo,
ainda, de afastamento, de desconhecimento em relação
às realidades do Nordeste.
Adiaspora.com: Quais são os mercados turísticos
que pensa ser de maior interesse para os Açores, e, obviamente,
para o Nordeste?
Dr. José Carlos Carreiro: Não
falando da emigração, que é sempre um dado
adquirido, estamos a notar, actualmente, uma grande afluência
de turistas alemães. A nossa Estalagem, no período
entre Maio e Outubro, está sempre cheia, sobretudo, com
turistas alemães, suecos, franceses e ultimamente, muitos
turistas do continente. São estes os mercados potenciais
dos Açores, e não só do Nordeste. Temos a
sorte de fazermos parte da maior cadeia de hotéis dos Açores,
que é o Grupo Bensaúde. Temos a sorte de termos
pessoas, felizmente, competentes e entendidas nessa área
que sabem fazer a promoção e vender o produto lá
fora. Isto tem se revelado muito frutuoso, porque a Estalagem
está cheia. Conjugam-na com o seu próprio circuito
hoteleiro porque têm dez hotéis nos Açores
- em Ponta Delgada, na Ilha Terceira, o Terra Nostra nas
Furnas... Por conseguinte, beneficiamos por pertencermos a esta
cadeia.
Adiaspora.com: A nossa experiência de Portugal, ao qual
os Açores pertencem como parte de uma unidade nacional,
é que o país tem alguma dificuldade em vender e
promover a sua imagem a nível mundial. Como sabe, o turista
norte americano vai para o México e outros países
do género que, apesar de estarem a atravessar crises sócio-económicas
muito graves, conseguem vender, de uma foram aliciante, a imagem
do seu país. Quer comentar?
Dr. José Carlos Carreiro: No meu entendimento, há,
sobretudo, uma coisa que é fundamental e que, felizmente,
já foi resolvido noutros locais como a Madeira e o Continente.
Primeiro, temos de aumentar significativamente a oferta, a oferta
nas camas e também nos lugares de estadia. Isto é
fundamental. Depois, temos de não descurar a animação.
Não somos uma região só de sol e praia, excepto
no período de verão, mas somos uma região
com excelentes temperaturas. A temperatura média do ano
varia muito pouco, o que para nós é excelente. Há
que criar animação para que o turista se sinta muito
ocupado e queira voltar. De contrário, teremos, de facto,
o turista que vai lá mas que, se não se sentir muito
ocupado, pode não querer voltar. Nós precisamos
é que o turista volte. Depois, apostar também na
divulgação da gastronomia e nos passeios pedestres.
Temos muito a oferecer ao turista amante da natureza. Como já
atrás referia, temos paisagens virgens, intocadas, paisagens
que estão como sempre existiram. A Serra da Tronqueira
ainda possui aquela vegetação endémica natural,
com uma ave única e rara que é o Priôlo. Temos
de valorizar toda esta natureza com os passeios pedestres. Temos
de apostar neste tipo de turismo que é um turismo que gosta
de ser bem servido e que paga muito bem. Para combatermos o turismo
de massas que existe no México, e outros países,
temos de impor a qualidade. Temos de ser mais competitivos, o
que implica mais investimentos em hotéis, e melhor oferta
em termos de aviação, para que os preços
sejam mais concorrências e mais acessíveis.
Adiaspora.com: Sabemos de antemão que um Presidente de
uma Edilidade é sempre um homem muito ocupado. Mas agora,
remetendo-nos para o campo pessoal, quer-nos inteirar quais os
seus planos para o futuro, se deseja continuar a actuar neste
sector, se tem planos para se retirar para uma ilha e escrever
uns livros, dar a volta ao mundo, plantar uma árvore, etc?
Dr. José Carlos Carreiro: Já plantei milhares de
árvores, escrevi um livro, e tenho três filhos. Sinto-me
realizado. Gosto muito daquilo que faço. Penso que estes
anos em que tenho estado à frente da Câmara Municipal
do Nordeste, foram anos muito frutuosos de trabalho e que me realizaram
plenamente, com a dedicação que resultou de uma
actividade de obras que julgo que foram, na minha modesta opinião,
muito importantes para o Nordeste. O futuro a Deus pertence. Continuo
disponível para trabalhar pelas pessoas e gosto imenso
de fazê-lo. É muito difícil falar do futuro.
Estamos a um tempo relativamente distante para tomar uma decisão.
É evidente que há outros projectos, vou-lhe ser
sincero. Quando completar em 2005 este mandato, terei 16 anos
de mandato. Sou, com o Presidente da Câmara da Lagoa, os
dois mais velhos Presidentes de Câmaras dos Açores.
Há-de ser o que Deus quiser e hão-de dizer, da sua
justiça, o que, efectivamente, querem de nós. O
que eu digo é que estou sempre pronto para trabalhar e
sinto-me com vontade de fazê-lo, embora, por vezes, haja
vantagem em termos familiares, de alguma diversão. O PSD,
em tempo oportuno, irá dizer o que quer fazer. Os meus
planos resumem-se em continuar a trabalhar em prol da Região
e de das gentes do Nordeste.
Adiaspora.com: Tem alguma mensagem que queira deixar à
Comunidade Luso-Canadiana?
Dr. José Carlos Carreiro: A mensagem que deixo às
pessoas é uma mensagem de admiração pelo
esforço que estão a fazer numa terra que é,
não direi hostil, mas estranha, uma terra que, certamente,
lhes acolheu de braços abertos, mas que tem uma cultura,
uma língua e uma forma de ver as coisas diferente. Esse
esforço de adaptação é admirável
nos açorianos e nos portugueses, em geral. Vejo pessoas
com uma escolaridade mínima na sua terra natal, que são
hoje empresários de sucesso. São pólos profissionais
em diversas áreas e dominam as mais diversas técnicas.
São pessoas que se afirmam nesta grande comunidade que
é a comunidade canadiana, que é, de facto, um país
do futuro. Admiro tudo isto, porque foram pessoas que passaram
a dominar a língua. Foram pessoas a ter a admiração
e o respeito deste grande país que é o Canadá.
A mensagem que lhes deixo é que continuem a apostar nesta
terra sem esquecer as suas origens. É possível ser-se
um bom Canadiano sendo, também, um bom Português!
Invistam fortemente nas suas opções sem esquecer
a sua terra!
Adiaspora.com: Muito obrigada, Senhor
Presidente. Adiaspora.com agradece a amabilidade e disponibilidade
com que nos agraciou ao conceder-nos esta entrevista, pela qual
ficamos a saber muito mais sobre o Nordeste, o concelho açoriano
a visitar!
Entrevista exclusiva de Adiaspora.com
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