TOMANDO O CAFÉ DA MANHÃ COM O DR. JOSÉ CARLOS
TEIXEIRA
(Toronto, 20 de Dezembro de 2003)
José Ferreira - Adiaspora.com
Fomos tomar o café da manhã com o Dr. José
Carlos Teixeira, a título de despedida, na véspera
da sua partida para o Vale de Okanagan na Columbia Britânica,
onde irá exercer a docência universitária.
Este académico de raiz açoriana fez ressoar o orgulho
das nossas gentes ao lograr, neste sector, um lugar de destaque
na Universidade de Toronto, trabalho que tem vindo a complementar
com uma vastíssima obra de pesquisa sobre fenómeno
da Imigração Portuguesa e Açoriana em terras
do Canadá. Respeitado de igual forma pelos seus pares lusófonos
e anglófonos, o Dr. José Carlos Teixeira é
homem de palavra acessível e afável onde faz transparecer
o amor e apego que nutre pelas suas raízes. Aqui transcrevemos
a conversa que partilhámos sobre um fumegante e aconchegante
café, ou seja, dois dedos de conversa bem à portuguesa.
Adiaspora.com: É um dos açorianos que conseguiu
singrar nos círculos académicos do mundo anglófono.
Como foi o seu processo de integração como açoriano
neste meio?
Dr. José Carlos Teixeira: Obrigado José,
obrigado Adiaspora.com por esta oportunidade. É interessante
que esta é talvez a última entrevista que dou antes
de partir. Estou a menos de 24 horas de partir para Okanagan.
Foi uma pura coincidência a nossa entrevista ter lugar hoje.
Agora, em vésperas de partida, estou ainda fisicamente
aqui, mas a minha mente já está a pensar nessa mesma
partida. Respondendo realmente à tua pergunta, não
é nada fácil ser português, e neste caso particular
açoriano, chegar ao Canadá e singrar a nível
académico. A minha vida resume-se muito rapidamente da
seguinte forma. Deixei os Açores ainda relativamente jovem,
com 18 anos. Vim para Montreal onde tive de aprender o francês.
Não é nada fácil chegar-se a um mundo diferente,
aprender francês, ir para uma universidade e fazer um mestrado,
escrevendo a tese naquele idioma. Claro que é uma grande
luta, mas não é impossível. Todavia, exige
muito trabalho. Devo realçar que a minha tese de mestrado,
já na altura, focava a comunidade portuguesa de Montreal
visto eu ser um português residindo no coração
desta comunidade, e ter um tio pioneiro de '54. Tudo isto me motivou
a escrever em francês. Mas não foi nada fácil.
A língua foi, de facto, a primeira barreira com a qual
me defrontei. Segue-se a vinda para Toronto após o meu
casamento em 1982. Decidi vir a fazer a minha tese de doutoramento
nesta cidade. De novo, eis a barreira linguística, desta
feita numa tese de doutoramento em inglês. Neste sentido,
acho, embora não goste muito de utilizar o termo role
model, acabo por sê-lo. Gostaria que os jovens possam
vir a ler esta nossa entrevista, me vissem como uma pessoa que
teve de trabalhar arduamente para alcançar sucesso na vida.
A mensagem que queria deixar aqui registada é a seguinte:
é possível! Se eu consegui aprender francês
e completar uma mestrado, aprender inglês e fazer uma tese
de doutoramento, se eu pude viver, lutar e, até certo ponto,
singrar no meio académico, se eu logrei, sendo açoriano
originário de uma família de pais que não
frequentaram a universidade, também vós o conseguireis,
até com mais facilidade por terem nascido cá e ter
com primeira língua o inglês ou francês no
caso do Quebeque. Esta mensagem é muito importante. Não
foi nada fácil. Além de ter me debatido com o problema
linguístico, tive de enfrentar o desafio constante da vida
académica. Hoje, conseguir um trabalho a nível académico
é extremamente difícil. É um mundo muito
competitivo e só singram aqueles que realmente trabalham
com afinco como foi o meu caso para me tornar conhecido no campo
da geografia social.
Adiaspora.com: Quais as áreas académicas que mais
lhe interessam?
Dr. J.C.T: A área que mais me interessa é,
sem dúvida, a geografia urbana e social. Tenho, com se
costuma dizer, uma costela de "sociólogo". Sempre
gostei muito de estudar as cidades, ver como elas crescem e o
impacto que os seus habitantes têm nos espaços urbanos.
Sou, desde sempre, um apaixonado pelas zonas residenciais, o que
chamamos de ethnic neighbourhoods (bairros étnicos).
Montreal e Toronto foram duas cidades que, desde o primeiro dia,
me fascinaram devido à diversidade cultural da sua população,
isto é, a nível racial, a nível étnico,
etc. São cidades muito heterogéneas onde existem
Little Portugals, Little Italies, Little Polands,
e Chinatowns. Toda esta diversidade cultural, todas essas
áreas residenciais com os seus clubes e associações,
comércios e igrejas fascinou-me desde o início.
Preocupei-me sempre em estudar a estrutura e evolução
dalgumas dessas zonas. É evidente que comecei pela comunidade
portuguesa de Montreal. Quando me transferi para Toronto, dei
continuidade ao tentar compreender a estrutura e evolução
do nosso Little Portugal, e a migração das
nossas gentes para os seus subúrbios. Mais tarde expandi
o âmbito dos meus estudos, o que é desconhecido de
muita gente da comunidade, pensando estas que limito as minhas
pesquisas aos portugueses. Não é caso. Os portugueses
foram realmente a minha grande paixão, mas depois comecei
envolvi-me no estudo de outros grupos étnicos como as comunidades
polaca, somali, coreana, jamaicana e a Caraíba. Já
publiquei 2 ou 3 trabalhos sobre estas mesmas comunidades. Vejo
Toronto como umas "Nações Unidas" devido
à sua grande diversidade cultural. Aproveitando os conhecimentos
adquiridos na comunidade portuguesa e a minha paixão por
grupos minoritários, neste caso grupos de imigrantes, passei
a estudar outros grupos étnicos. Para responder à
pergunta colocada: a geografia urbana e social, urbana por ter
a ver com as cidades e social por ter a ver com o impacto que
os imigrantes têm nestas grandes cidades canadianas como
Toronto, que é o que chamou de "a city of homelands".
Esta é a minha área de estudo e a minha grande paixão.
Adiaspora.com: Qual a razão desta opção?
Dr. J.C.T: A razão é muito simples. Comecei,
precisamente, com os portugueses. A comunidade portuguesa é
a grande responsável por todo este meu interesse sobre
os demais grupos étnicos. Sendo eu português, falando
o português, o facto de ter vivido em Montreal quando cá
cheguei numa área portuguesa, a viver na Rue Hotel De Ville,
de ter um tio pioneiro de '54, tudo isto me motivou a estudar
os portugueses. Ao chegar a Toronto, como poderia eu negligenciar
uma comunidade como esta décima ilha açoriana que
aqui temos, este grande Little Portugal de Toronto. Toronto
reforçou toda a paixão que já nutria portugueses.
O facto de eu ser português, de falar português, ter
casado com uma mulher portuguesa, de sempre me ter interessado
pelas nossas gentes e de me sentir confortável centre alimentou
esta paixão, levando-me mais tarde para o estudo de outros
grupos étnicos. Mas a comunidade portuguesa é, em
grande parte, responsável por esta minha predilecção
pela geografia urbana e social. Se hoje sou conhecido como geógrafo,
é precisamente como social geographer (geógrafo
social) porque foi por esta componente urbana e social que me
apaixonei.
Adiaspora.com: Como docente universitário, a educação
é uma questão a que está muito próximo.
Uma das lutas maiores da comunidade luso-canadiana é a
visível falta de formação superior na nossa
juventude. Que razões aponta para esta realidade?
Dr. J.C.T: Isto é uma pergunta muito interessante
e difícil de responder em 5 minutos. Aliás, nós
como comunidade portuguesa somos numericamente importantes. Somos
dos grupos étnicos mais relevantes no contexto da cidade
de Toronto e do Canadá. Já marcamos uma presença.
Temos tido, ao longo do tempo, um grande impacto importante a
nível social e cultural, e até a nível económico.
Entretanto, existe uma questão que nos tem vindo a preocupar
ao longo dos anos, a educação. O abandono escolar
dos nossos jovens a nível do high school (ensino
secundário) e que depois se reflecte no número muito
reduzido de jovens que prosseguem os estudos na universidade,
e muito menos ainda no grad school, ou seja, a nível
de mestrado e doutoramento. Isto é, na realidade, um grande
problema, não só no Canadá e Estados Unidos,
mas também nas restantes comunidades da Diáspora
Portuguesa, como na França e noutros países europeus.
Estou prestes a publicar um livro com o Prof. Armando Oliveira
de título "Novos e Velhos Desafios", que é
um estudo comparativo levado a cabo entre mais de 300 jovens de
Montreal e Toronto, e onde nós verificámos, ao revermos
todo o material recolhido, que o problema é fundamentalmente
cultural. No Canadá as taxas de abandono escolar não
são mais altas nem mais baixas do que noutras comunidades
portuguesas. O nosso comportamento nesta área é
tão mau como o que se verifica em outros países
da Diáspora portuguesa, levando-nos a concluir que se trata
de uma questão cultural. Reportando-nos ao Canadá,
têm havido vários estudiosos a trabalhar esta questão
e concluo que existem vários responsáveis pelo fenómeno
do abandono escolar. Os alunos e os pais são responsáveis,
mas também o sistema escolar ao implementar, ao longo dos
anos, processos de streaming,etc., impeditivos para que
os nossos jovens não tenham alcançado a medida de
sucesso desejável. Têm-se efectuado vários
estudos sobre esta matéria. Penso que o comportamento dos
portugueses, isto é, dos filhos da primeira geração
que vinha com o objectivo de pagar a casa, a sobrevivência,
e a independência económica tem contribuído
muito para este fenómeno. É evidente que os pais
também tiveram uma certa responsabilidade no meio de tudo
isto. Mas se os pais não falavam inglês, ou francês
no caso do Quebeque, havia toda uma dificuldade de comunicação,
que também foi um dos factores contribuintes. Acho que
é incorrecto e injusto atribuir somente aos pais toda a
responsabilidade pelo insucesso escolar dos filhos. É indiscutível
que os pais desempenham um papel primordial. Cabe aos pais motivar
e incentivar os seus filhos. Têm de ir às escolas
dialogar com os professores e inteirarem-se do progresso dos filhos.
Mas também os filhos, por sua vez, devem demonstrar interesse
e entusiasmo, pensando no futuro e terem consciência que
se encontram numa cidade extremamente competitiva. Por conseguinte,
uma grande parte do sucesso dos nossos jovens passa por eles mesmos.
Voltando ao sistema escolar, é indiscutível que
houve processos de streaming nos inícios, isto é,
uma certa discriminação que desmotivou muitos jovens
de seguir uma carreira académica e optar por cursos mais
práticos. Numa cidade multicultural como esta, o sistema
escolar exercer um papel importante, excedido somente pelo da
família. Penso o que sucedeu com os portugueses, particularmente
com os da primeira geração, também ocorreu
em outros grupos étnicos. Só que há realmente
grupos como os asiáticos, que, pelos seus próprios
parâmetros culturais, incentivam muito mais os filhos cujo
sucesso é mais notório. São grupos em que
a primeira geração chegou ao Canadá com o
mesmo grau académico dos portugueses. Quando vamos às
universidades, verificamos que é realmente uma questão
cultural e que existem certos grupos étnicos que dão
muito mais ênfase à educação, não
sendo, todavia, o caso dos portugueses. Isto é preocupante.
Há que incentivar mais os nossos jovens. Precisamos de
mais jovens nas universidades porque esta sociedade é extremamente
competitiva e a formação académica é
fundamental para se obter uma boa colocação. Há
que incentivar os nossos jovens a prosseguir os seus estudos,
não só a nível de bacharelato, mas também
de mestrado e doutoramento. Só assim, poderemos ter entre
nós mais professores universitários, engenheiros
e médicos. Tenho esperanças que o que ocorreu com
a primeira geração não se repita com as seguintes
e que estas tenham um comportamento diferente e melhor nesta área.
Adiaspora.com: Quer delinear-nos algumas estratégias para
combater esta lacuna na educação dos nossos jovens.
Dr. J.C.T: Não sei se poderei acrescentar algo
mais, pois existe aqui uma justaposição. O que digo
sempre é que todos nós temos um papel importante
a desempenhar. Os próprios media portugueses, os quais
têm vindo, ao longo dos anos, debatendo muito esta questão,
têm também, na minha opinião, um papel fundamental
a desempenhar junto dos jovens e dos pais. É preciso motivar
os nossos jovens a prosseguir os seus estudos.
Adiaspora.com: O Professor é talvez um dos oradores lusos
mais carismáticos da América do Norte, gozando de
grande popularidade, até junto dos nossos compatriotas
com menor instrução formal. A que atribui este facto?
Dr. J.C.T: Tive a facilidade de efectuar estudos sobre as comunidades
portuguesas in loco. Para mim, existem dois tipos de académicos.
Há aquele professor académico que efectua a sua
pesquisa mas que acha que o seu tempo é demasiado precioso
e não querer perdê-lo, indo junto das comunidades.
Isto acontece um pouco no campo das ciências sociais, sobretudo
no tipo de estudo que tem a ver com questionários, etc.
E há um outro de tipo de académico, como eu, que
quis estar sempre próximo das nossas comunidades e ver
e sentir o seu pulsar. Por conseguinte, este foi talvez um dos
factores que fez com que fosse conhecido junto das nossas gentes.
Sempre que levava a cabo um estudo, comprometiam-me com os participantes
a ir, após a sua publicação, à nossa
comunidade, aos clubes e aos media, apresentar os resultados.
Era raro o clube, associação, ou semana cultural
que me convidasse que não fosse. Sentia-me perfeitamente
confortável junto das nossas gentes. Tentei sempre falar
a sua linguagem e aproximar-me da. Aprendi sempre, apesar de ser
um académico, a ouvir as pessoas, porque é verdade
o que o meu pai diz: "José Carlos, tens muitos estudos
mas não tens experiência da vida." Essa experiência
têm-na as pessoas de 50, 60 ou 70 anos de idade. Saber ouvir
é muito importante Acredito na crítica construtiva.
Ao longo do tempo, tentei ser a ponte entre o mundo académico
e o popular. Sou um académico que quando está numa
conferência no Canadá, Estados Unidos ou num outro
qualquer país, fala a linguagem dos académicos,
mas que quando vem à comunidade, adapta-se e utiliza uma
linguagem que as nossas gentes compreendam, para, no meu caso,
estas possam entender o porquê dos meus estudos e os seus
resultados. Ao longo destes anos, rara foi a vez em que não
aceitei um convite, só mesmo se não pudesse. Só
assim poderia sentir-me bem e se tivesse que voltar atrás
vinte anos, faria precisamente a mesma coisa. Esta popularidade
tem muito a ver com isto, o estar sempre próximo das pessoas.
Sempre que me viam num programa televisivo e na rádio,
telefonavam-me, muitas vezes com questões relacionadas
com os filhos, a educação ou ainda pedindo-me livros
ou artigos que hoje se encontram nos arquivos e bibliotecas universitárias.
Por vezes, eram os próprios jovens a fazê-lo. Nunca
tive um número de telefone ou email privado. Tentei ser
sempre aquele mesmo José Carlos que era quando saí
dos Açores. Neste sentido, penso que cumpri ao estar sempre
próximo das nossas gentes. Senti-me sempre em casa e hoje
levo centenas de amigos no coração talvez precisamente
devido a este meu comportamento. Claro que ninguém é
perfeito, mas, realmente, fiz o meu melhor para falar a linguagem
das nossas gentes e para estar com elas.
Adiaspora.com: Do seu vasto currículo, constam inúmeros
livros e publicações que abordam temáticas
ligadas ás nossas comunidades. O que o incentiva a pesquisar
e escrever sobre esta matéria?
Dr. J.C.T: Primeiramente, quando cheguei ao Canadá, sobretudo
em Montreal, verifiquei que, apesar de numericamente sermos uma
das comunidades mais importantes nesta cidade, em Toronto e no
Canadá, não havia estudos sobre os portugueses.
Por conseguinte, passei talvez a ser um dos pioneiros no campo
da geografia urbana e social. Verifiquei, e fiquei um pouco escandalizado,
ao chegar ao Canadá por volta de 1968, quando já
tínhamos quase um quarto de século neste país,
que existiam pouquíssimos estudos sobre os portugueses.
Mais, dos poucos estudos existentes a nível académico,
a nível de mestrado, doutoramento e até mesmo de
livros, a maior parte nem sequer fora elaborada por açorianos,
mas sim, por canadianos, e portugueses continentais. Sendo a comunidade
portuguesa do Canadá maioritariamente açoriana,
penso que o espaço estava lá e, claro, que me apaixonei
de imediato por esta matéria. Mas as razões principais
foram precisamente a falta de estudos nesta área e aquela
vontade de querer divulgar, registar no papel, e dar a conhecer
à sociedade canadiana, o que tem sido o nosso papel e impacto
neste país. Obviamente, que o facto de ser português
e de ter a felicidade de ter ido viver na casa de um tio que era
pioneiro de 54, com acesso àquelas histórias interessantíssimas
que este me contava noite após noite, foram factores que
me moldaram, fascinaram, e que me levaram a escrever vários
livros, pelo menos três, sobre os portugueses, e diversos
trabalhos publicados em revistas científicas sobre as nossas
comunidades, sobretudo as de Montreal e Toronto.
Adiaspora.com: O seu trabalho de pesquisa sobre os Pioneiros
é sobejamente conhecido. Como vê este último
ano de comemorações e que impacto pensa terem na
nossa comunidade e na sociedade canadiana?
Dr. J.C.T: Realmente, estamos a findar um ano dedicado
aos nossos queridos pioneiros, neste caso, os de 53. Na minha
opinião, tudo isto foi justíssimo. Não é
todos os anos que se comemoram bodas de ouro. Bem mereciam estas
festas e comemorações. Ao fim e ou cabo, este thank
you, este obrigado da nossa parte a estes homens e às
mulheres que chegaram mais tarde, teve todo o cabimento porque
foram eles que nos abriram o caminho para este grande país
que é o Canadá. Falando de uma maneira geral do
programa, penso que foi extremamente rico e interessante. Claro
que há sempre coisas que se podem fazer melhor mas, de
uma maneira geral, o balanço que faço é extremamente
positivo. Os media cobriram, e muito bem, todos estes acontecimentos.
Quero aqui mencionar um pequeno pormenor, que já tive a
oportunidade de o focar na televisão, que é o facto
de não ter havido praticamente açorianos integrados
no Comité dos 50. Deixo aqui o meu apelo para que, em futuros
comités ou comissões, haja uma maior participação
açoriana. Tem de haver uma maior participação,
e tenho-o dito ao longo dos anos, porque somos a maioria. Nós,
os açorianos, não podemos estar arredados destes
comités com poder decisório importante. Esta é
uma crítica construtiva. Nós temos pessoas extremamente
envolvidas e capazes, as quais devem ter um maior input.
Claro que também temos alguma culpa nesta matéria.
A formação do Comité dos 50 Anos foi um processo
aberto, só que, por razões que me escapam, os açorianos
não participaram ou não se candidataram e, consequentemente,
não fizeram parte da lista. O que quero aqui focar é
que não podemos continuar a estar arredados dos comités
importantes, dos quais existem muitos nesta comunidade, desde
comités para a construção de edifícios
a monumentos e celebrações. Nós açorianos,
temos de ter uma voz mais audível para que a componente
açoriana esteja presente nestes acontecimentos culturais,
e outros. Penso que estas festas e eventos ligados aos nossos
pioneiros foram justos. Mais, aproveitando já que estamos
a falar de pioneiros, no que se refere à nossa ida aos
Açores, o Governo Regional dos Açores está
de parabéns por esta feliz iniciativa de levar lá
os nossos queridos oito pioneiros açorianos. Quando falamos
de pioneiros, é bom relembrar que também houve açorianos
integrados naquele primeiro contingente, nomeadamente o famoso
Grupo de 18. que chegou a 13 de Maio, estando oito ainda connosco
aqui no Canadá. Esta iniciativa levou até aos Açores
oito homens maravilhosos acompanhados das suas esposas. Tive a
oportunidade de fazer parte desta comitiva e acompanhar estes
homens durante aquela semana maravilhosa. Foi o redescobrir dos
nossos Açores para estes mesmos homens e esposas que constituiu
um dos momentos mais belos destas comemorações.
Jamais me esquecerei dessa maravilhosa semana cuja recordação
levarei comigo para Okanagan.
Adiaspora.com: Favorece a assimilação total dos
nossos imigrantes e seus descendentes nas sociedades onde se inserem
ou uma integração onde as raízes são,
de alguma forma, preservadas?
Dr. J.C.T: É uma pergunta extremamente interessante que
dava para uma conferência. Tenho dito ao longo dos anos
que uma comunidade passa por um ciclo de vida onde esta nasce,
cresce, desenvolve-se, amadurece e, nalguns casos, morre. No caso
das comunidades portuguesas do Canadá, ainda é muito
cedo para falarmos da sua morte, a qual não acredito que
venha a acontecer a curto prazo. Entretanto, já atingimos
uma fase de maturidade com cinquenta anos de presença portuguesa
no Canadá. Aproximadamente 2/3 dos portugueses neste país
ainda são da primeira geração, isto é,
nascidos em Portugal. Todavia, aproximadamente 25% dos nossos
jovens já nasceram e foram educados cá. Uns irão
casar com portugueses e outros já estão a casar
com pessoas de outros grupos étnicos. Uns falam português
mas outros não. Muitos estão a perder a língua
gradualmente. Muitos vêm cada vez menos à comunidade
portuguesa. A muitos desses jovens a comunidade diz-lhes cada
vez menos. Temos dois tipos de modelos ou padrões. Há
um grupo de jovens que, apesar das dificuldades, ainda fala a
língua portuguesa e vai a alguma festa portuguesa, à
missa, à igreja, casando ainda numa igreja portuguesa.
Existe um outro que está completamente assimilado. Como
tenho a oportunidade de lidar com jovens, verifico que existem
alguns que nem sequer sabem em que região de Portugal os
seus pais nascerem. Não sabem se estes nasceram no Norte,
Sul ou Centro do país. Sabem, muitas das vezes, que os
pais nasceram nos Açores mas desconhecem em que ilha. Este
grupo demonstra ser desconhecedor da história e cultura
portuguesa. Penso que isto é grave. Fico triste sempre
que tal acontece. Por conseguinte, penso que os nossos pais têm
um papel preponderante a desempenhar neste sentido. Devem falar-lhes
um pouco da história da região e do país
donde são oriundos. Respondendo à questão
que me colocou, já existem dois grupos de jovens neste
25%, nomeadamente, um que ainda consegue falar um pouco de português
e se integra um pouco na comunidade, e um outro que está
completamente assimilado. É óbvio que o modelo que
favoreço é o da integração. Hoje,
somos canadianos. A maior parte destes jovens já nasceram
cá, e é, neste país que nos acolheu, que
vivemos. É aqui que vamos construir as nossas vidas. É
aqui que os nossos filhos irão ser educados, e é
aqui que muitos de nós vamos permanecer. Por conseguinte,
a integração é sempre importantíssima.
Para tal, é necessário motivarmos as nossas gentes
a participar na vida social, politica, cívica e cultural
deste país. Mas penso que devem, na medida possível,
também prestar o seu contributo à comunidade portuguesa.
Hoje temos um grande número de clubes e associações
e, se estes jovens não se interessarem pela vida comunitária,
não se envolverem na vida das colectividades, estas acabarão
por correr o risco de terem que encerrar as suas portas. Sou a
favor de uma integração eficiente dos nossos jovens,
a qual passa pela aprendizagem da língua e participação
activa na vida política, social e cultural deste país
sem que se esqueçam das suas raízes. Repito, entristece-me
sempre que falo com jovens que não sabem nada, ou quase
nada, sobre a cultura da terra que viu nascer os seus pais!
Adiaspora.com: A nossa cultura corre perigo nas nossas comunidades?
Dr. J.C.T: Como atrás referia, esta questão
prende-se, não tanto com os nossos imigrantes da primeira
geração, mas sim com as gerações seguintes.
Existem alguns perigos e passo a explicar. A emigração
portuguesa para o Canadá sofreu uma diminuição
drástica nos últimos dez anos. Isto significa que
não há um rejuvenescimento das nossas comunidades
com gente que vem de Portugal portadora da língua portuguesa
e que casa, se insere e participa na vida da comunidade. Consequentemente,
já passamos a fase de crescimento e actualmente encontramo-nos
numa fase, não diria de declínio, mas de desfalque.
Os nossos Little Portugal de Toronto e Montreal ressentir-se-ão
com este decréscimo da imigração portuguesa
porque é desta que um comércio, jornal ou uma igreja
portuguesa vive. Um estabelecimento português necessita
de clientela portuguesa. Um jornal português necessita de
leitores, e uma igreja portuguesa de fiéis portugueses
tal como os nossos clubes e associações têm
necessidade de sócios portugueses. A partir do momento
que não há imigração após uma
primeira geração e uma decrescente aderência
dos jovens, estas infra-estruturas estão condenadas à
estagnação. Perante este panorama, há que
repensar estratégias. Poderei elaborar um pouco mais sobre
possíveis estratégias na parte final desta entrevista.
Ao falarmos de cultura, fala-se de língua, do nosso folclore,
e das nossas tradições. Tudo isto corre risco a
longo prazo, em parte porque houve uma diminuição
drástica da imigração e, pelo facto dos nossos
jovens, cá nascidos, estarem a integrar-se, e muito bem,
na sociedade canadiana.
Adiaspora.com: Na sua opinião, o que falta fazer-se para
que os nossos jovens possam integrar-se cada vez mais?
Dr. J.C.T: Existem grupos étnicos em que os jovens
"they are very proud", muito orgulhosos do grupo
étnico a que pertencem. Isto vê-se através
das viagens frequentes que fazem à terra dos pais, das
publicações que elaboram e das instituições
nas quais participam activamente, etc. Mais uma vez, penso que
é uma questão cultural, porque existem grupos étnicos,
os quais não nomearei, em que verifica-se um grande interesse
por parte dos seus jovens. Em relação à nossa
comunidade, apesar de todo o esforço da primeira geração,
bem patente nas cerca de 300 agremiações e nos media
comunitários, de atrair e incentivar os jovens, estes teimam
em não participar. Não estou totalmente de acordo
sempre que se acusa a primeira geração de não
fazer nada neste sentido, porque já foram dados, por estes,
algo positivo. É evidente que os nossos clubes e associações
têm de abrir um espaço maior aos nossos jovens. Têm
de lhes dar maior voz. Mas já existem iniciativas neste
sentido. Quando falo com os representantes destas 300 colectividades,
sou informado que, não obstante já existirem algumas
iniciativas direccionadas aos nossos jovens, estes não
aderem. Há uma apatia por parte dos jovens, que eu diria,
ser quase uma rejeição a tudo que é português.
É óbvio que há sempre excepções
à regra. Não estou a ver qualquer solução
mágica para o que chamo de Geração 1,5,
reportando aos que se situam entre a primeira e a segunda gerações.
Entre a Geração 1,5 e a segunda e terceira
geração, vamos ver como será a evolução
da comunidade portuguesa sem que tenhamos de exercer qualquer
pressão sobre os nossos jovens, cabendo a estes descobrir
a riqueza da nossa cultura, língua e história por
si próprios. Existem estudos que apontam que a segunda
geração rejeita os valores da primeira, e que a
terceira indica uma tendência para querer redescobrir o
passado dos seus ancestrais. No meu entender, tem de haver mais
estudos comparativos das primeiras, segundas e terceiras gerações
que incidam sobre os comportamentos e a inserção
da nossa comunidade na vida social, política e cultural
da sociedade canadiana maior. Só assim é que poderemos
chegar a uma conclusão.
Adiaspora.com: Sabemos que dentro de dias mudar-se-á para
o Vale de Okanagan. Quais os motivos que o levam a sair de Toronto?
Dr. J.C.T: Fiz o meu doutoramento e um curso pós-doutoramento
na Universidade de York, onde passei alguns anos inesquecíveis.
Depois, fui trabalhar para a Universidade de Toronto. Foi um convite
honroso. É sempre óptimo trabalhar-se na maior universidade
do Canadá, e, na minha opinião, uma das melhores
da América do Norte, que ostenta um corpo estudantil de
cerca 55 000 alunos. Passei sete anos maravilhosos na Universidade
de Toronto, a qual ajudou a colocar-me "no mapa", porque
se hoje sou conhecido no campo da geografia social, foi graças
a este estabelecimento educacional. Existem duas ou três
razões que me levam para a jovem universidade de Okanagan
University College. Apesar de estar satisfeito com o salário
auferido, não estava contudo plenamente satisfeito com
o contrato em si, insatisfação que já tinha
comunicado à Universidade como sendo para mim um factor
importante. Um outro factor era o isolamento que vinha sentindo
há já algum tempo. Tenho de aqui realçar
que, nos últimos anos, a Universidade de Toronto, no que
se refere ao sector da geografia, investiu muito na geografia
urbana e económica sem praticamente investir na geografia
social, área em que eu era praticamente o único.
Isto significa que me sentia muito isolado num departamento com
mais de 20 professores e no qual publicava praticamente sozinho.
As minhas publicações contaram com a colaboração
de professores das Universidades de York, Ryerson e do Quebeque,
e não de colegas da Universidade de Toronto por não
haver ali outros especialistas no meu campo. Tenho de aqui explicar
que, a nível universitário, existem diferentes especialidades.
Como atrás referia, a Universidade de Toronto é
extremamente forte no campo da geografia urbana e económica.
Todavia, no campo da geografia social, eu não tinha realmente
uma equipa com qual pudesse trabalhar. Quem estiver ligado ao
meio académico e souber como este funciona, saberá
que temos de ter connosco um grupo de pessoas que nos encoraje
e incentive com quem possamos publicar, porque a vida académica
não é só leccionar mas também publicar.
O terceiro factor é que, no meu entender, as oportunidades
hoje existem nas universidades relativamente pequenas, isto é,
nos colleges que passaram a universidades como é
o caso de Okanagan University College. É uma universidade
relativamente jovem cujos cursos já oferecem um major e
onde está a pensar-se implementar um programa de mestrado.
Quando esta vaga surgiu, já estava aberta às possibilidades
inerentes aos estabelecimentos universitários mais pequenos
por ter consciência que é nestes que se encontra
o desafio e a oportunidade. A prova é que vou introduzir
três novos cursos nesta mesma universidade e ter a oportunidade
de trabalhar de perto com um Centro de Pesquisa criado há
relativamente pouco tempo que se vai debruçar sobre questões
ligadas à imigração e aos estudos aborígenes.
Talvez por isto mesmo é que consegui esta colocação.
Parece-me que tudo se conjuga para que eu possa ter uma voz mais
activa e um maior input. Penso que esta mudança,
sobre o ponto vista profissional, vem no momento certo. Estou
com 44 anos de idade. Por conseguinte, ainda possuo forças
e energia para ajudar a construir um departamento, que já
existe e possui uma equipa de gente maravilhosa. Penso que, ao
introduzir três novos cursos e levar para lá todos
os conhecimentos que levo de Toronto, serei beneficiado, e beneficiarei
a universidade e a comunidade. Não é uma questão
financeira que me leva a partir de Toronto. Nunca abandonaria
esta grande comunidade, onde passei 20 anos a estudar, por uma
questão de ordem financeira. Leva-me a sair, sim, o desafio
e o facto de eu reconhecer, e os meus próprios colegas
têm-me alertado neste sentido, que será benéfico
para mim em termos curriculares. O futuro a Deus pertence e poderei
adaptar-me ou não a Okanagan. Neste último caso,
terei de repensar e voltar a Toronto, cujas portas, penso eu,
continuarão abertas para me receber. Vou com muita força
e motivação e quero deixar lá a minha marca.
Também acho que é importante para as nossas comunidades
de British Columbia saber que têm no seu meio um homem ligado
ao meio académico. Depois de ter estudado Montreal na Província
do Quebeque, Toronto na Província do Ontário, ao
agora ir para a British Columbia e, como dizia, há relativamente
pouco tempo, uma pessoa minha amiga de Toronto, passo a ser o
verdadeiro investigador dos portugueses no Canadá. Sou
quase caso único, pois não conheço nenhum
académico que tivesse tido a oportunidade de estudar e
trabalhar em três comunidades. No Okanagan Valley começarei
por estudar as comunidades Osoyoos, Penticton, etc. no Okanagan
Valley, que são comunidades relativamente pequenas mas
importantes e onde as nossas gentes desempenharam um papel de
relevo. De seguida, a cidade de Vancouver e subúrbios,
expandindo-me um pouco por toda aquela linda província.
Uma coisa é certa, vou fazer tudo ao meu alcance para ajudar
a comunidade. Contudo, não será nos próximos
seis meses. Preciso de um ano, no mínimo, para repousar
e repor energias. Terei muito gosto em estudar, não só
as comunidades de British Columbia, mas também mais tarde
passar a efectuar estudos comparativos entre esta província,
Ontário e Montreal. Mais uma vez, é o desfio que
me alicia, não só uma nova universidade, mas também
uma nova comunidade.
Adiaspora.com: Que recordações leva na mala da
comunidade luso-canadiana de Toronto?
Dr. J.C.T: Davam para encher várias malas. Não
me é possível responder a esta pergunta. Só
tenho a dizer que, durante 20 anos, foram centenas de pessoas
que passaram pela minha vida, não só aquelas que
entrevistei de maneira formal e que me recebiam em suas casas
e tratavam como se fosse membro de suas famílias. Queria
aproveitar esta oportunidade para agradecer a todas, sejam do
continente português, sejam dos Açores, Madeira ou
das ex-colónias. A abertura e o sorriso com que estas pessoas
me acolheram constituem uma parte da minha vida que jamais esquecerei.
Fiz, ao longo do tempo, todos os possíveis para retribuir
esta amizade. Para todos eles e elas, o meu obrigado. Tentei retribuir
ao ir às associações e clubes ou a uma festa
familiar porque sentia a obrigação moral de o fazer
depois de tudo que recebi. Na minha mala levo, certamente, as
amizades. Já que estamos a falar em recordações,
foi lindo ver esta comunidade crescer, e os seus clubes e comércios
a surgir. Era uma enorme alegria sempre que entrava num café
ou restaurante português e sentia os aromas das comidas
portuguesas, a música portuguesa, chegar a uma loja e ver
jornais portugueses e a televisão portuguesa, tudo isto
que me parecia deixar numa outra ilha. O meu amigo, o Prof. Onésimo
Almeida, diz que a décima ilha açoriana é
nos Estados Unidos. A isto, acrescento que também aqui
em Toronto temos a décima ilha. Este nosso Little Portugal
é realmente uma décima ilha. Sempre me senti em
casa em Toronto. Já passei algumas noites em claro só
de pensar que vou ter de deixar todas estas pessoas e organizações
que me têm acompanhado ao longo destes anos, pois certamente
não vou ter oportunidade no norte de Kelowna de desfrutar
de um ambiente destes. Mas como costumo dizer, a vida é
assim mesmo. Nós açorianos, por natureza, andamos
sempre à procura do desafio. Parto com entusiasmo mas está
a ser bastante difícil. Agora, a menos de 24 horas da minha
partida (esta será a última entrevista que estou
a dar), devo confessar que parto triste e arrasado emocionalmente
porque foram muitos anos e são muitas as pessoas, muitas
as recordações que levo comigo. Aquela viagem que
fiz há pouco tempo aos Açores, a convite do Governo
Regional, que calhou mesmo antes desta partida, foi uma oferta
linda, uma semana extraordinária que serviu para recarregar
as minhas baterias e que me deixou com a mensagem seguinte: "José
Carlos, partes, mas continua a trabalhar. Existem portugueses
no outro lado, na costa do Pacífico." Afinal de contas,
não vou deixar o Canadá. Quero salientar aqui que,
frequentemente, quando falamos das comunidades portugueses no
Canadá, no cingimos às de Montreal e Toronto, esquecendo
das outras mais pequenas. Esquecemo-nos das comunidades que estão
em Manitoba, Alberta e British Columbia, o que é uma grande
injustiça. Elas existem e também têm um papel
fundamental importantíssimo neste país e nós
não nos preocupamos muito com elas. Acho que agora, ao
estar do outro lado, vou sentir mais do que nunca o que estou
a dizer porque quando estamos em Toronto e temos tudo que é
português, desde comércios a igrejas, jornais, etc.,
nós quase nos esquecemos dos outros.
Adiaspora.com: Quais os seus projectos para o futuro?
Dr. J.C.T: Em termos de projectos, há um trabalho
a aparecer nos inícios do próximo ano, e a Adiaspora.com
fica desde já convidada. Este trabalho, "Novos e Velhos
Desafios" sobre as novas gerações, para o qual
tive como colaborador o Prof. Armando Oliveira da Universidade
Aberta, será lançado, se tudo correr bem, no princípio
do ano em Toronto e Montreal numa primeira fase e posteriormente
em Lisboa na Universidade Aberta e nos Açores. No que toca
aos Açores, ainda não sei em que ilha o lançamento
terá lugar mas possivelmente será o Faial ou Pico
e S. Miguel. Este trabalho será, na minha opinião,
um dos trabalhos mais importantes publicados sobre os jovens no
Canadá porque tem uma amostra de cerca de 300 jovens. Aproveito
e faço o convite à Adiaspora.com, e ao José
Ferreira, com a alma de todo este grande projecto, de nos acompanhar
se estiver disponível, não só em Montreal
como também em Portugal porque o que estamos a pensar é
não só fazer a apresentação do livro
mas haver mesas redondas em que as pessoas possam discutir alguns
dos resultados, o que penso que para os nossos órgãos
de comunicação social será muito importante.
Este é um projecto a curto prazo. O segundo projecto é
um outro livro com duas colegas, uma da Universidade de York e
outra da Universidade Ryerson. Este é um trabalho sobre
o comércio étnico, "Ethnic Entrepreneurship"
que envolve cinco comunidades, e mais uma vez a comunidade portuguesa,
a polaca, coreana, somali e caraíba. Este será um
livro a aparecer possivelmente dentro de um ano e meio. Claro
que existem outros projectos. Sempre estive e continuarei a estar
aberto a investigadores portugueses e não portugueses.
Não me lembra de alguma vez ter recusado a trabalhar com
alguém que tenha manifestado a vontade de colaborar comigo.
Certamente haverá outros projectos no futuro. Gostaria
de continuar a trabalhar com jovens portugueses. E mais uma vez,
repito, estou aberto a qualquer possibilidade. Mas a curto prazo
e em concreto são estes dois livros. Tenciono continuar
a conduzir pesquisa no terreno. Este verão irei a Toronto
passar mais ou menos mês e meio onde continuarei a fazer
pesquisa no seio da comunidade de Toronto. A longo prazo, o meu
grande objectivo são os estudos comparativos das comunidades
portuguesas de Montreal, Toronto e Vancouver, e porque não,
das três províncias. É óbvio que o
futuro a Deus pertence e é sempre difícil prever
o dia de amanhã mas em linhas gerais são estes os
meus projectos. Jamais me esquecerei de Toronto. Levo esta grande
comunidade no meu coração. Agradeço, desde
já, à Adiaspora.com, assim como a todos os membros
dos media, pelo carinho e apoio que me dispensaram ao longo dos
anos. Para ti, José Ferreira, e para toda a equipa da Adiaspora.com
pois têm feito um trabalho excelente, votos de continuação
de bom trabalho, e mais uma vez, que reafirmo aquilo que disse
há dois anos que o portal Adiaspora.com continua a ser
uma óptima janela aberta ao mundo, àquela aldeia
global. É um meio que permite às pessoas, estejam
elas onde estiverem, no conforto das casas, sem ter que saírem
delas, poderem, através, neste caso, da Adiaspora.com,
conhecer mais e melhor o quão rica é a nossa comunidade.
A diversidade de tópicos que cobrem, desde eventos, entrevistas,
etc., faz com que a Adiaspora.com esteja no bom caminho. Desejo-lhe
muitas felicidades a si e ao seu team. E da minha parte,
como sempre, poderá sempre contar com o meu apoio moral
para algo que queira.
Adiaspora.com: Deseja deixar aqui uma mensagem às
nossas comunidades nos quatro cantos do mundo?
Dr. J.C.T: Como estamos em época de Natal, em primeiro
lugar quero desejar um Bom Natal a todos e um Ano 2004 muito próspero.
Uma vez que me pediu para deixar uma mensagem dirigida às
comunidades portuguesas de todo o mundo, acho que, estejamos onde
estivermos, na Austrália, nas Bermudas, no Brasil, na Venezuela,
América do Norte ou Europa, para todos nós portugueses,
independentemente do nosso torrão natal, as ilhas ou continente,
o Natal é sempre uma festa muito importante. É a
festa da família. E nós que estamos fora, sofremos
muito não só por sermos saudosistas mas porque tivemos
de sair da nossa terra à procura de um mundo melhor. Penso
que todos os portugueses nesta época do ano se lembram
da nossa terra e dos amigos. Nós somos mais portugueses,
mais açorianos, mais madeirenses cá do que eles
são lá. Sofremos, choramos e fazemos tudo para ir
à nossa terra matar as saudades. Neste momento especial
do ano, tenho a certeza que estamos todos unidos e há factor
um que nos une, o facto de sermos todos emigrantes. Como já
referi, há muitas alegrias mas também há
muitos sofrimentos. Porque muitos de nós temos lá
os nossos pais e a nossa família. As pessoas podem pensar
que todos têm cá as suas famílias. Não
é bem verdade. Nós pensamos nos nossos pais. A idade
avança e surgem problemas de saúde, etc. Esta é
uma outra componente que nos faz sofrer nestes grandes países
para onde emigrámos. Viemos à procura de uma vida
melhor, de uma independência económica e de um futuro
melhor para os nossos filhos mas ao mesmo tempo tivemos de deixar
aquelas ilhas maravilhosas, aquele país maravilhoso e as
nossas famílias. A minha mensagem é esta: Keep
up with the good work! Teremos que olhar, sempre de cabeça
erguida, para o futuro e continuar a ajudar a construir estas
grandes comunidades! Para todos, um Feliz Ano de 2004!
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