ADIASPORA.COM VAI AO ENCONTRO DA JOVEM ANA BAILÃO,
CANDIDATA A VEREADORA DA CÂMARA MUNICIPAL DE TORONTO.
(Toronto, 15 de Setembro de 2003)
Por Carlos Morgadinho - Adiaspora.com
Dos vários luso-canadianos que no presente momento se
estão a candidatar a cargos políticos mais visíveis,
destacamos o jovem Ana Bailão, não só pelo
trabalho em prol da comunidade radicada nesta cidade multi-étnica
de Toronto, com também pelo seu envolvimento empenhado
na vida social e associativa. É comum vê-la, a título
gracioso, a desempenhar as funções de apresentadora
nos muitos eventos do calendário cultural da comunidade.
Temos também a experiência das muitas vezes que nos
aproximámos do gabinete camarário do vereador Mário
Silva, era sempre a amabilidade e disponibilidade de Ana que nos
recebia e se prontificava a nos "desenrascar " nos labirintos
da burocracia municipal.
Não nos foi surpresa a boa nova que anunciava a sua candidatura
a vereadora. Estamos perante de pessoa bastante dinâmica
e capaz que nunca foge às suas competências, tomando
a peito a responsabilidade que lhe acarretam.
De uma maneira geral, esta jovem é bem querida, não
só pelas gentes da nossa comunidade, como das muitas outras
do Bairro 18 como a filipina, italiana, vietnamita, chinesa, caraíba,
e outras. Com isto em mente, dirigimo-nos ao seu quartel-general
de campanha no 1060 Bloor Street West para conversarmos um pouco
com Ana Bailão.
Adiaspora.com: Ana Bailão, candidata autárquica
pelo bairro eleitoral 18 - Davenport. Ana, quer-nos primeiramente
falar um pouco de si, onde nasceu, quando emigrou para cá
e do seu percurso escolar.
Ana Bailão: Sou natural de Alenquer que fica, aproximadamente,
a 30 km a norte de Lisboa, a caminho do novo aeroporto. Estudei
sempre em Alenquer onde fiz a escola primária. Depois vim
fazer o ensino secundário no Canadá, onde comecei
com o 9° Ano. Frequentei o West Toronto Collegiate na Lansdowne
e College. Completei aí os meus estudos secundários.
Depois fui para a Universidade de Toronto onde tirei um curso
em Sociologia e Estudos Europeus com a vertente de Português
Adiaspora.com: Depois não continuou no terreno.
Seguiu sempre nesta área?
Ana Bailão: Sim, quando estava já no último
ano da universidade, o Mário convidou-me a trabalhar com
ele (Nota da Redacção: referência ao vereador
Mário Silva). Fiz o último ano já a trabalhar,
praticamente, a tempo inteiro.
Adiaspora.com: Foi há cinco anos que entrou para
a Câmara Municipal?
Ana Bailão: Sim, mas antes disso, enquanto na universidade,
dei aulas de português. Por isso, como vê, trabalhei
sempre. Os estudos são muito caros. O meu primeiro emprego
aqui no Canadá foi na limpeza e depois fui trabalhar numa
loja de roupas ali na Dundas. Na universidade, dava aulas de português
e depois fui trabalhar para o gabinete do Mário.
Adiaspora.com: Qual foi a sua experiência no gabinete
do Mário Silva? O que é que lhe impressionou? Quais
foram as frustrações, se algumas, que ali vivênciou
?
Ana Bailão: Gostei bastante. Para já, porque
gosto do tipo de trabalho que se faz a nível camarário,
pois é um trabalho directo, onde se contacta directamente
com as pessoas. As coisas que nos tocam mais no dia a dia são
as coisas com que se trabalha a nível camarário.
Por vezes, tornava-se um pouco frustrante. Às vezes, queríamos
fazer algo e tínhamos que nos debater com a burocracia
da Câmara Municipal de Toronto, ou quando recebíamos
um pedido de uma pessoa a dizer-nos que algo não estava
bem, queríamos ajudá-la, mas, por vezes, tínhamos
que nos desfazer em chamadas, defrontando-nos com barreiras em
vários níveis na Câmara. Por vezes, era um
tanto ou quanto frustrante, mas gostava do trabalho em si, com
o Mário. Para já, o Mário é uma pessoa
que me permitia explorar e fazer as coisas, por exemplo quando
tinha um projecto, executá-lo à minha maneira. Tinha
confiança. Isso ajudava. Depois tinha o trabalho do dia
a dia, mas também muito de desenvolvimento comunitário.
Comecei várias organizações de moradores
aqui na área. Era aqui que trabalhava com os moradores,
que organizava reuniões, que identificava as necessidades
da área. Analisávamos quais seriam os projectos
a implementar neste lado da cidade.
Tivemos, por vezes, problemas com a droga no Dovercourt Park.
Tínhamos, todavia, um modelo a que recorrer, o dos Amigos
do Dufferin Grove Park que transportámos para Dovercourt
Park. Por exemplo, consegui que fosse implementado um programa
muito activo de moradores daquela zona. Levámos a cabo
várias actividades, como por exemplo, a planta de mais
de cem árvores. Já conseguimos várias coisas
para o parque. É um parque relativamente pequeno para a
população que tem em volta. É um parque com
muitas crianças, mas também há muitas pessoas
que levam para lá os seus cães. Conseguimos que
fosse instalada uma vedação para separar as diversas
áreas do parque. Conseguimos fundos para a pintura da piscina
das crianças, que, agora, já está pintada
de novo.
Adiaspora.com: E também começou algo de
novo, inédito, pelo menos na nossa comunidade, que foi
a Tuna.
Ana Bailão: Isso foi quando ainda estava na universidade.
Ainda não me encontrava a trabalhar para o Mário.
Eu era Presidente da Associação de Estudantes da
Universidade de Toronto quando vieram cá elementos de tunas
dos Açores, da Tuna Feminina, Masculina e Mista, e o Reitor
da Universidade dos Açores. Fiz parte dessa Semana Cultural
e da mesa redonda sobre a Juventude. Depois o Reitor, que naquela
altura era o Dr. Vasco Garcia, começou-nos a incentivar.
Nós conseguimos. Isto foi nesse mesmo ano, em Setembro,
e baptizámos a Tuna no mês de Março seguinte,
na Semana Cultural da Associação de Estudantes da
Universidade de Toronto. Vai fazer seis anos em Março próximo
que temos a Tuna. Depois começámos a organizar festivais
e Graças a Deus tem corrido tudo muito bem.
Adiaspora.com: E veio para ficar?
Ana Bailão: Sem dúvida! A Tuna tem vindo
a crescer. Há cada vez mais elementos e agora, somos perto
de trinta.
Adiaspora.com: Voltando ao assunto em que se encontra
empenhada de momento, que é nas eleições
para vereadora. O que é que a levou a concorrer? Há
quem diga que o Mário Silva, no presente momento candidato
federal para esta área da cidade, queria ver alguém
português que o substituísse na zona, e não
havia ninguém disponível para concorrer com experiência,
muito embora o Mário não a tivesse quando concorreu.
O que é que efectivamente a levou a concorrer? Seria ainda
por o Mário agora saltar para outro nível de governo
e a sua posição ser eliminada, tendo consequentemente
de concorrer para outra e, como gosta daquele tipo trabalho de
ajuda ao público, não quer deixar fugir esta oportunidade?
Ana Bailão: Sou ainda uma jovem, e nunca iria me
meter a estar cinco meses sem ganhar absolutamente nada, como
estou agora, só para agarrar um trabalho. Sou uma jovem.
Tenho um curso universitário. Tenho capacidade. Portanto,
não tenho necessidade de estar a despender o meu tempo,
a privar-me, numa campanha eleitoral, sem emprego, para agarrar
um trabalho. Há companhias privadas que pagam muito bem,
mais do que me pagarão como vereadora. A razão pela
qual estou a concorrer é porque gosto deste trabalho, de
me envolver em certos projectos que desejo ver desenvolvidos.
Quanto diz em relação à experiência,
é verdade que todos têm experiência da área
em que habitam. Agora, não têm experiência
de trabalhar com as associações de moradores. Não
sabem quais os projectos que estão em desenvolvimento na
área. Eu estou por dentro do que se está a passar
nesta zona. Sei como a Câmara Municipal funciona. Por vezes,
é muito frustrante e uma pessoa nova que não saiba,
vai ter o dobro das dificuldades que eu irei enfrentar. Gostaria
de dar continuidade aos projectos que irão valorizar esta
zona. A única maneira que tenho para fazer isto é
concorrer a vereadora.
Adiaspora.com: Isto quer dizer que, no caso que nos apresenta,
é uma questão de manter o ritmo dos projectos em
andamento.
Ana Bailão: Claro! Também concordo que a
comunidade portuguesa deveria ter lá alguém. Não
sou do tipo de pessoa que pensa que deveríamos votar numa
pessoa só por esta ser portuguesa. Acho que devemos votar
nas pessoas quando são competentes. Somos a terceira comunidade
mais numerosa da cidade de Toronto. Se nós agora perdermos
este lugar na Câmara que já possuímos há
12 anos, a comunidade portuguesa perde representação
política, perde poder político, e perde respeito,
obviamente. Não sé um candidato qualquer. É
um candidato já tem cinco anos de experiência na
Câmara. É um candidato que é jovem, até
porque a nossa comunidade anda sempre a dizer que devemos apoiar
os jovens. A própria comunidade tem vindo a abordar o governo
canadiano, no sentido que lhe seja facultada fundos para apoiar
iniciativas para os jovens. Agora que há um jovem a concorrer,
há que o apoiar! Especialmente quando é um jovem
que já tem cinco anos de experiência e que tem vindo
a demonstrar de que é capaz de desenvolver projectos, até
dentro da própria comunidade. Acho que sim, que a comunidade
dever unir-se em torno deste candidato que possui todos os atributos
necessários para assegurar o bem-estar dos moradores.
Entrevista exclusiva de Adiaspora.com
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