José Rodrigues dos Santos Jornalista
da RTP
Por: Avelino Teixeira
O meu nome é Avelino Teixeira. O José Ferreira,
Director da adiaspora. com pediu-me para eu entrevistar o Dr.
José Rodrigues dos Santos e eu respondi ..... meu Deus,
serei capaz de o fazer!. Mas afinal aqui estou eu e deixe-me
dizer-lhe que com muito prazer...
A.T.: Sou um dos seus admiradores e
tive ontem a oportunidade de ver que o Sr. é uma pessoa
extremamente comunicativa e muito amável. É assim
que hage quando está em público; tem tempo para
toda a gente... Como é que faz essa transição
entre a sua presença na Televisão e o contacto com
as pessoas no seu dia-a-dia?
JRS: Basicamente o
que acontece quando apresento o Telejornal é que estou
a conhecer-me também. Procuro ser natural...ser eu próprio.
Compreendo que sou uma pessoa que me exponho mais do que os outros,
pois entro em casa das pessoas todos os dias, pelo Telejornal.
A.T.: Antes de o entrevistar,
tive de fazer uma pesquisa na internet e descobri que nasceu em
Moçambique. Poderia dizer-me como foram os seus dias de
meninice naquela Exprovíncia Ultramarina Portuguesa!?.
JRS: Sim, o meu pai
era médico e a minha mãe farmacêutica. Foram
para Moçambique e lá tiveram filhos. Vivi em Moçambique
10 anos onde a vida era totalmente diferente daquilo que, na altura,
se chamava Metrópole. O clima era tropical, com grandes
espaços. Depois havia a guerra colonial e como o meu pai
era médico, eu estava sempre em contacto com situações
de guerra, uma vez que fomos viver para Tete, uma zona de grande
efervescência e havia sempre muitos feridos e mortos e cenas
de hospital.
A.T.: Sei que a tese
da sua licenciatura se baseou em reportagens de guerra. A sua
experiência em Moçambique o influenciou na sua escolha?
JRS: Não, não.
Escolhi esse tema para o doutoramento mas não teve qualquer
relação com a minha experiência em África.
A.T.: Em 1981 iniciou
a sua carreira jornalística e foi trabalhar para Macau,
certo?.
JRS: Sim, fui viver
para Macau e estudar no liceu e depois comecei a trabalhar na
Rádio porque já queria ser jornalista nessa altura.
Fui para lá em 1979 e em 19881 comecei a minha actividade.
A.T.: Depois da licenciatura
em Comunicação Social pela Universidade Nova de
Lisboa, o Sr. Foi trabalhar para a BBC. Gostaria de nos falar
um pouco mais sobre esse seu trabalho?
JRS: Fui fazer o estágio
universitário na BBC e depois candidatei-me a um lugar
e fiquei 3 anos a trabalhar em Londres.
A.T.: Depois voltou
a Portugal e começou logo na RTP?
JRS: Sim, em Londres
comecei logo a ser correspondente da RTP para o telejornal e mais
tarde, em Portugal, naturalmente comecei a trabalhar na RTP.
A.T.: Há um
caso curioso que me chamou a atenção. Eu sou um
ávido por notícias e respeito muito os jornalistas,
mas houve um caso que eu li e que julgo não estar muito
claro. Parece que em 2004 tentaram afastá-lo da RTP ou
despromovê-lo... Poderá esclarecer isso?
JRS: Bem, eu era director
de informação e portanto houve uma interferência
nas minhas funções. Acredito que Portugal só
avança se as pessoas forem nomeadas por mérito próprio
e não por cunhas. Sempre defendi isso. Quando fui confrontado
com situações que não eram decisões
profissionais, mas sim políticas ou pessoais, acabei por
abandonar o sistema.
A.T.: Entre 1993 e
2001 foi colaborador da CNN. Diz-se por aqui na América
do Norte que a CNN é um tanto ou quanto voltada para a
política de esquerda. Notou isso...?
JRS: Não. Eu
na CNN fiz várias reportagens para a própria CNN,
como por exemplo, sobre Timor Leste, naturalmente sobre Portugal,
sobre Angola, a guerra na Bósnia... Havia portanto, um
vasto leque de assuntos que ia abordando.
A.T.: Em 1984 foi reconhecido
como tendo feito a melhor história do ano. Será
que podia elaborar um pouco sobre o teor desse reconhecimento?.
Prof. Dr. José Rodrigues dos Santos
JRS: Eu escrevia histórias
sobretudo relacionadas com o mundo de língua portuguesa.
Aliás, ganhei o prémio por causa de uma reportagem
que fiz na Albânia. Depois a CNN realizava uma conferência
anual para se decidir quais as melhores reportagens e premiou
duas vezes as minhas.
A.T.: Agora que já
temos a RTPI via cabo, acessível a toda a gente, gostaria
que nos explicasse como funciona a grelha daquela estação
de Televisão Estatal?.
JRS: O principal canal
da RTP é a RTP1, é aquela que gera grande parte
dos programas, sobretudo os de informação e entretenimento.
Depois, muitos desses programas são canalizados para outros
canais. Também acrescenta outros, concebidos para os seus
públicos, como a RTP África, e a RTP Internacional
para a diáspora portuguesa. É um trabalho feito
com alguns recursos próprios mas, sobretudo, com recursos
da RTP1. Deveria haver mais da parte da estação
portuguesa, um maior investimento na RTPi uma vez que é
feito com baixo orçamento, mas reconheço que a RTPI
é talvez o instrumento mais importante dos últimos
30 anos e por isso dever-se-ia gastar um pouco mais de dinheiro
para que ela pudesse ser ainda melhor.
A.T.: Há por
cá uma certa discussão sobre a diferença
entre a SIC e a RTPI. Dizem que esta última vai começar
a transmitir mais informação desportiva. O que sabe
sobre isso?.
JRS: Não sei
o que é que a SIC faz. O que as pessoas não sabem
é que a compra dos jogos por parte da RTP só inclui
o território português. Para se ter direitos mundiais,
a RTP tem de pagar um valor que não tem, nós não
podemos pagar o que não temos. Por vezes só podemos
comprar os direitos domésticos, por isso os jogos da selecção
passam na RTP1 mas não passam na RTPI porque a RTP não
conseguiu os direitos internacionais desses jogos. Para se conseguir
esses direitos, tem de se pagar muito dinheiro e a RTP não
tem. Precisávamos, de facto, de um orçamento muito
maior.
A.T.: Será que
os portugueses espalhados pela diáspora poderiam pressionar
os deputados portugueses, através de petições,
para que o Governo Português melhorasse a grelha da RTPI?.
JRS: Talvez. Pressionar
o Ministério dos Negócios Estrangeiros, enfim a
Secretaria de Estado da Emigração, ou seja, sensibilizar
para a necessidade de darem mais dinheiro para a RTPI. Por exemplo,
que todos os jogos da selecção sejam transmitidos
na RTPI. Que a RTP tenha correspondentes em toda a parte onde
haja muitos portugueses, por exemplo em Newark, Toronto, Venezuela.
Sabe, isto é como a gestão de uma casa. Se uma pessoa
ganha 1.000 não pode gastar 2.000. Acho é que a
RTPi tem um orçamento demasiado baixo para o seu potencial.
A.T.: Eu fiz-lhe a
pergunta por saber que as pessoas não compreendem como
funciona a grelha da RTPI.
Estou envolvido com o grupo Ad-Hoc e por coincidência amanhã
vamos ter uma reunião com o Vice Presidente da Rogers Sr
David Purdy. Fico-lhe muito grato pela explicação
que me deu!.
JRS: Eu compreendo
que as pessoas fiquem um pouco frustradas quando ligam a RTPI
para verem jogar um Portugal/Grécia, no final do Europeu
e não poderem assistir, mas não é porque
a RTP não queira transmitir, é sim porque de facto
não tem dinheiro.
A.T.: Não haveria
uma possibilidade de se angariar fundos para que realmente se
pudesse incrementar a programação da RTPI?.
JRS: Havia outra maneira,
em que os consumidores por cabo, de todo o mundo pagassem, por
exemplo, esses $14 e em vez de irem todos para a companhia canadiana,
fosse uma parte para a RTP, visto a RTP ser uma entidade não
lucrativa.
A.T.: Eu estou ciente
de que nenhum português regatearia isso!.
JRS: Mas essa questão
agora não existe. Ou o Estado dá mais dinheiro ou
os consumidores contribuem também um bocadinho... mas isso
não me compete.
A.T.: Eu entendo, mas
estou a gostar da sua informação e isso vai ser
publicado. Assim as pessoas ficam elucidadas.
Então não há orçamento suficiente
para que a RTPI vá ao encontro das aspirações
dos emigrantes...?!
JRS: Mas para satisfazer
essas aspirações também não é
preciso uma fortuna. É preciso é que esse dinheiro
chegue e ele não chega!.
A.T.: Como sabe, a
adiáspora.com é um portal com 4 anos de idade. Já
tem quase um milhão e meio de visitas. Este portal tem
um arquivo onde esta entrevista ficará registada. Gostaria
de aproveitar a sua presença entre nós para dizer
algo para os portugueses. Creio que esta foi a primeira vez que
veio a Toronto, no é asim?.
JRS: Eu não
conhecia o Canadá. Fiquei bastante surpreendido com a dimensão
da comunidade portuguesa, não pensei que houvesse tanta
gente a viver cá. Foi muito positivo ter cá vindo
porque tive uma noção mais clara de certas áreas
das quais não tinha uma ideia muito precisa. Gostei bastante,
gostei bastante de vir.
A.T.: Ficamos muito
gratos pela sua vinda e também pelas suas palavras.
Desejamos-lhe as maiores felicidades para a sua vida pessoal e
profissional.
Volte sempre!.
Obrigado.
Entrevista exclusiva
- Adiaspora.com
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