A SEMANA DOS BALEEIROS
Paulo Luís Ávila - Adiaspora.com
Na Semana dos Baleeiros, de 23 a 29 de agosto p.p.,
a tuna da Casa do Povo das Ribeiras lançou
um cd de música regional e deu um concerto no Auditório Municipal
que se encontrava-se à cunha, tendo sido regido pela Maestrina D.
Laurentina Sousa. O livro «Rendas dos
Açores» da autoria das Dras. Norberta Amorim e Teresa
Perdigão, foi lançado também no Auditório desta Vila. De tudo o que
se disse saliento e transcrevo a Carta a Silvina da pesquisadora
Dra. Teresa, que reza assim: “O Céu não podia
esperar...” À Senhora Silvina de S. Mateus. Já não se ouve em
S. Mateus, a tua voz, gasta pelo tempo que por ti passou, cansada,
mas melodiosa e teimosa, quando o fôlego já te faltava. Já não se
ouve essa voz em S. Mateus. Mas ela lá está. Hoje mesmo, depois de
teres partido, passei em frente à tua casa e senti-te, sentada na
cadeira, onde gostavas de estar e ouvi-te ainda entoar o longo
cantar dos Reis. Parei, até, para tornar mais
real o que a imaginação me trazia e viver mais intensamente as
recordações que me deixaste. O nosso tempo de convívio foi escasso,
mas intenso. Contaste-me a tua vida de criança agarrada ora à terra,
ora ao tear. Falaste-me das rendas de S. Mateus e de como as tuas
filhas, mesmo antes de irem para a escola tinham de fazer uma
rosinha de amora porque o dinheiro das rendas era o único que
entrava lá em casa. Lá em casa e em muitas casas de S. Mateus. Eu
não sei bem se o que tu me deixaste foram todos esses ensinamentos,
se a tua alegria de viver. E o carinho, sim o carinho com que
falavas de irmãos, filhas, netos e bisnetos. Nessa altura , quando
te chegavam essas recordações levantavas-te da cadeira onde gostavas
de te sentar e ias buscar fotografias. Nomeáva-los todos com idades
e tudo. Dizias-me, então, que a felicidade, o carinho, a ternura e o
amor não precisam de luxos nem de abundâncias, precisam só desses
laços que tu soubeste cruzar ao longo da vida. Eu confundo a dureza
da tua vida, com o teu sorriso e com as gargalhadas que davas quando
contavas estórias que amenizavam essa rudeza, como aquela de terem
roubado o porco já morto e do terem posto em casa do barbeiro,
sentado e preparado para ser barbeado. Confundo o paladar do caldo
de chicharros que me ensinaste ser o mais saboroso, com a urgência
de inventar o melhor para os filhos e de ser optimista, como sempre
foste, apesar de me teres confessado que a vida também foi madrasta.
Confundo a monotonia do quotidiano em que tinhas de fazer o bolo de
milho, com o prazer com que me deste a receita e os conselhos para
melhor o saborear. E tudo isto porque sabias falar com ligeireza e
sem mágoa. Fazias-nos rir, mesmo quando a memória te traia porque de
tudo fazias brincadeira. A tua voz já não se ouve, mas sente-se. As
tuas gargalhadas já não se ouvem, mas sentem-se quando se passa em à
frente de tua casa. Ficou a tua alegria. Mas ficou também um lugar
vazio no Auditório Municipal no dia em que o livro das Rendas do
Pico e do Faial for apresentado à população do Pico. Tanto me
ensinaste para que este livro viesse à luz do dia. Tanto! Resta-me a
alegria de ele poder perpetuar a tua memória. Resta-me ainda a
grande alegria de sentir que o trabalho das mulheres de S. Mateus
veio a ter a visibilidade que merecia. Com afecto e
gratidão Teresa Perdigão» O Sidónio Bettencourt, lançou
o cd. intitulado «Baleeiros em Terra» numa
sessão pública também no Auditório. A projecção dalgumas imagens,
foi motivo de emoções fortes que transportaram a assistência para
momentos vividos com muita intensidade, em anos anteriores, mas que
passaram rapidamente à história. Felizmente que, e no caso do
Sidónio, houve a percepção exacta da recolha dos elementos. O
apresentador da obra teceu elogios ao trabalho ora desenvolvido e no
final o jornalista da RDP-Açores e actual apresentador do programa
televisivo internacional «Atlântida», leu um discurso cheio de
poesia e memória. Segundo apurámos, este trabalho irá ser lançado
além fronteiras, principalmente em terras da diáspora. Antes de
terminar a sessão o cantor Carlos Alberto Moniz irrompeu pelo
Auditório e com o à vontade que lhe conhecemos, brindou a
assistência com «temas de intervenção», dedicando-os inclusivamente
aos seus compositores e autores. Manuel Félix não foi
esquecido. Outro livro que saiu ao prelo naqueles dias teve como
título sugestivo: «Por este Pico Dentro...por esses
Açores Fora». Este trabalho a que nos referimos em
texto anterior, foi também lançado no “Cais Agosto”, engloba trinta
e cinco capítulos disseminados por cento e oito páginas que
transportam o leitor para paragens e momentos edílicos descritos com
magia e sensibilidade, só possíveis na pessoa do seu autor, Manuel
Azevedo. O Grupo Coral das Lajes do Pico também se associou
interpretando alguns números. No dia do lançamento do livro do
Manuel Azevedo, fomos presenteados com um espectáculo de luz, cor,
folclore, fado, declamação e dança pelo já famoso grupo
Muitieramá. O título «Baleia à
Vista», escolhido para apresentação do espectáculo,
assentou como uma luva, mais ainda porque o palco escolhido foi o
espaço que servia para o esquartejamento dos cachalotes, em frente à
antiga SIBIL – Fábrica da Baleia. Este espectáculo foi um dos
momentos mais belos da Semana dos Baleeiros e todos os que tiveram a
oportunidade única de o apreciar foram unânimes em asseverar a
óptima qualidade dos actores, do vestuário e do cenário. Na pessoa
do Virgínio Madruga, «A Diáspora» envia um abraço de parabéns.
No que toca à vertente religiosa e o cerne da questão para
sermos verdadeiros, pois toda a semana gira e tem como base a Festa
da Senhora de Lourdes, salientamos o Novenário Solene, a Missa de
Festa Concelebrada por vários sacerdotes tendo sido presidida por D.
Arquimínio da Costa e a Procisão, que este ano teve a participação
das Imagens de todos os padroeiros das paróquias do concelho bem
como de todas as filarmónicas. Várias Marchas e Filarmónicas deram o
seu contributo à parte recreativa e ainda pela noite dentro
cativaram os jovens e os menos jovens, os fadistas e os conjuntos
musicais que se exibiram no Palco da Pesqueira e na explanada da
Filarmónica, tais como: UpGrade,
Moonspell, Tony’s
Bands, bem como cançonetistas famosos dos quais
registo a presença do Carlos Alberto Moniz
e do Rui Veloso, este acompanhado pela sua
banda. Pelo meio e como não podia deixar de ser aconteceram as
regatas a remos e a vela, nos dois escalões, feminino e masculino e
a terminar a Semana o Fogo de Artifício.
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