JEWS IN THE PORTUGUESE DIÁSPORA

 

(OS JUDEUS NA DIÁSPORA PORTUGUESA)

 

By Manuel Azevedo

Primeiramente, quero agradecer ao Sr. José Ferreira por me ter convidado aqui para vir falar com a minha amiga Jean Barman, docente na UBC. Estou muito satisfeito por estar neste salão pois já não falo em público em Toronto desde 1979, quando era jovem e as minhas barbas não estavam tão brancas, por altura da minha candidatura ao Parlamento Federal a qual, infelizmente, ou talvez felizmente, não ganhei. Mas sempre apreciei muito o apoio deste clube, o Lusitânia. Aprecio muito estar aqui e ver caras, pessoas que trabalharam e me ajudaram muito.

 

Parece-me que devemos elogiar o Sr. José Ferreira porque este tipo de encontro acontece em poucas partes do mundo lusófono. O que está a acontecer aqui hoje, e aconteceu ontem,  com as intervenções do Deputado António Cabral da América, o Prof. Elvino Sousa da Universidade de Toronto, é o encontro de ideias, de tópicos, o networking e connections a que o deputado Cabral se referia ontem. Tudo isto é muito importante. Encontrei aqui pessoas de Montreal dos Açores, académicos, políticos... Parece-me que o Sr. José Ferreira merece um aplauso e espero que isto continue no futuro.

 

Claro que em meia hora não posso dizer muito sobre os Judeus Portugueses na Diáspora. A própria designação do portal aniversariante, Adiaspora.com, alude à palavra diáspora,  que nos leva automaticamente a pensar nos Judeus. Existem Judeus Portugueses na nossa diáspora portuguesa, até no Canadá. Tenho uma prima de Brampton aqui presente, que já não via há tempos, que me disse: “O meu filho tem 12 anos de idade e que, ao ouvir que o primo iria falar sobre os judeus portugueses, exclamou What is he? Is he a comedian?”

 

Não é comédia nenhuma. Temos uma gloriosa história de Judeus Portugueses que é desconhecida na comunidade portuguesa no seu geral. Sei que existem algumas pessoas aqui que talvez saibam mais do que eu sobre a história hebraica do nosso país. Mas parece-me ser um tópico ou tanto ou quanto tabu. Não se fala nisso, como em outros tópicos tabu na nossa comunidade, tais como a homossexualidade, o lesbianismo, etc. Temos de começar a abrir e falar sobre estes tópico, para o desenvolvimento da comunidade.

 

Reportando-me ao que o Sr. José Mário Coelho mencionou hoje no que toca às lacunas existentes nas nossas comunidades, nós em Vancouver estivemos sem jornal português durante sete anos, sem biblioteca portuguesa, sem centro cultural. Toronto é um outro mundo, mas acho que também aqui falta uma biblioteca portuguesa. A nossa comunidade está a passar por uma certa crise. Temo que, se os nossos jovens não começam a participar, a cultura poderá vir a morrer no espaço de uma geração ou duas.

 

Por este motivo, quero falar um pouco sobre a experiência dos Judeus Portugueses, visto a sua diáspora ser longa, e podemos aprender algo com a sua experiência. No fim, embora não possua soluções, posso facultar alguns pontos de vista.

 

A primeira diáspora está conotada à dispersão dos judeus pelo mundo. A palavra diáspora reporta à saída forçada de pessoas. Tivemos pessoas que foram obrigadas a deixar Portugal por motivos políticos, pessoas que falavam contra o regime salazarista, ameaçadas de prisão e receosas de suas vidas, e ainda por razões económicas, embora o motivo económico seja um pouco diferente. Os nossos emigrantes vieram para o Canadá porque queriam sliced bread and cars, o que não constitui bem uma diáspora.

 

Na verdade, a primeira diáspora associa-se aos judeus. Esta remonta aos tempos da destruição do templo de Salomão em 70 D.C., altura em que saíram duas vagas de judeus do Médio Oriente. Uma dirigiu-se para a Ibéria, que passou a ser conhecida por Sefarad e os judeus de Espanha e Portugal como judeus sefarditas ou sefardim,  muito diferentes dos judeus que foram para a Polónia e Alemanha, conhecidos por judeus ashkenazy, designação hebraica para a Alemanha, tal como Sefarad designa a Ibéria.

 

Enquanto os Ashkenzay, os quais constituem a vasta maioria dos judeus actualmente, (à volta de 92%), falam Yiddish, os judeus portugueses e espanhóis falam o Ladino. Se ouvirem esta língua, e temos aqui a Judith Cohen que canta música tradicional ladina, concerteza perceberiam alguma coisa. São tradições muito diferentes. Há 400 anos a divisão ente estas duas correntes era de 50/50, mas hoje em dia os sefardim estão em minoria. Ainda existem judeus fora da diáspora portuguesa que se aguentaram em Portugal durante estes anos todos.

 

Vou passar à frente para o ano de 1492, o ano da expulsão dos judeus de Espanha, mas propriamente de Castela que, naquele ano, também tomou Granada donde veio a expulsar os muçulmanos. Foram expulsos naquele ano cerca de 300 000 judeus de Espanha.

 

Os judeus já se encontravam na Ibéria antes da fundação de Portugal. Quando o D. Afonso Henriques tomou Santarém em 1140, já lá havia uma sinagoga. A capa do livro bilingue “Os Judeus Portugueses entre os Descobrimentos e a Diáspora”, publicado pela Gulbenkian em 1994, por altura de uma exposição que teve lugar em Portugal,  é uma lápide tumular achada em Portugal de uma pessoa, de nome desconhecido, que faleceu no ano 482 DC, muito anterior à fundação de Portugal. Esta lápide ostenta uma menorah sefardita que é diferente da menorah ashkenazy. Assim, sabemos que se trata de pessoa judia. Se verem a edição de Dezembro do jornal Lusitânia, cujo tema foi o Natal e Hannukah, podem ver uma menorah sefardita na capa.

 

Por conseguinte, sabemos que já se encontravam judeus naquela região antes da formação de Portugal, onde os judeus, muçulmanos, visigodos e cristãos coexistiam pacificamente. A igreja era ao lado da sinagoga. Havia paz. E até a expulsão dos judeus em 1492, exceptuando alguns problemas na Espanha, não em Portugal, esta foi a era gloriosa da história portuguesa porque os seus reis protegiam os judeus. O tesoureiro do rei e os grandes médicos da Europa eram todos portugueses. Os czar da Rússia, o rei da Dinamarca, a Rainha Isabel I da Inglaterra, muito embora os judeus terem sido expulsos da Inglaterra em 1290, tinha como seu médico pessoal um judeu português porque estes eram os melhores médicos do mundo e muito procurados. Escreveram os livros básicos da medicina!

 

É verdade que não podemos viver na glória do passado mas também podemos buscar neste motivos de orgulho e valiosa lições para o futuro, porquanto, se desconhecermos o passado, corremos o risco de cometer os mesmos erros no futuro. É importante.

 

Em 1492 ocorre a expulsão dos judeus da Espanha e o rei D. João II recebe 40 mil famílias judias em Portugal. Devemos lembrar que, naquela altura, só os ricos liam por só possuírem estes os meios para comprar livros. Os primeiros 11 livros publicados em Portugal foram imprimidos por judeus porque a leitura e a educação fazem parte da tradição judaica. Ontem falamos aqui muito sobre a educação. Ouvimos que 80% dos jovens da comunidade portuguesa não prosseguem os estudos médios e superiores. Mas a tradição da religião judaica é ler, é estudar.

 

O rei D. João II recebe entre 80 mil e 100 mil judeus espanhóis que se juntaram à comunidade judaica de cerca de 80 mil já existente em Portugal. Temos no ano de 1492, em Portugal, que então possuía uma população global de um milhão, cerca de 200 mil judeus, isto é, 20% da população do país.

 

Os judeus ricos compram a sua entrada para Portugal. Aos outros é lhes só cobrado uma taxa de 8 cruzados. Aos que sabem trabalhar no fabrico de ferramentas como os ferreiros, é-lhes cobrado somente 4 cruzados porque Portugal estavam em fase de preparação para as invasões de África e os judeus faziam bons artesãos. Àqueles dispostos a juntarem-se à campanha africana, não lhes era cobrada qualquer montante para entrarem no país. Esta foi uma medida provisória, pois o rei D. João II estabeleceu um prazo de oito meses para a saída definitiva destes judeus de Portugal. Mas passaram-se os oitos meses sem que estes tenham saído. D. João II morre e D. Manuel I ascende ao trono português. Está nos planos do novo monarca contrair matrimónio com a filha dos reis católicos de Espanha, Isabel e Fernando.

 

Os reis católicos, que tinha expulso os judeus do seu reino em 1492, impuseram, como condição para a concretização do matrimónio do jovem monarca português com a infanta espanhola, a expulsão dos judeus de Portugal.

 

Recordemos que 1492 foi o ano em que Colombo navegou para o ocidente e descobriu, melhor dito, achou a América do Norte (não se pode dizer descobriu pois já existiam povos aqui e isto seria um insulto aos índios). Este foi um momento muito importante da nossa história.

 

Os judeus espanhóis foram, na sua maioria, encaminhados pelos muçulmanos para o Oriente, para a Turquia e o Império Otomano. Os muçulmanos, que hoje, como é do conhecimento geral, são os inimigos dos judeus, receberam e queriam os judeus entre eles. Além dos destinos atrás referidos, os judeus espanhóis também se dirigiram para a Tessalónica, Itália e Norte de África.

 

Então o que faz D. Manuel I? Em 1496 decreta que os judeus têm de sair de Portugal num prazo de 10 meses porque o monarca deseja casar com a filha dos Reis de Espanha, pensando vir a ser rei de Espanha e Portugal. Houve debate sobre esta questão, com alguns quadrantes a favor da expulsão, e outros contra. Mas depois de ter já emitido o decreto de expulsão, começa pensar que não poderá perder o seu tesoureiro, o seu médico, os professores universitários, os letrados, etc. Toma consciência que a saída destes imergiria o país numa grande crise. 

 

Decide fazer o quê?

 

No ano seguinte, em 1497, D. Manuel anuncia que haverão navios nos portos de Lisboa e Algarve destinados ao transporte dos judeus para fora do país. À última da hora resolve que só haverá barcos a sair de Lisboa. Consequentemente, aglomeram-se 20 mil judeus no Rossio, junto do Palácio da Inquisição, hoje o teatro D. Maria II. Não há qualquer navio. Do balcão o Bispo de Lisboa espalha água benta sobre os 20 mil judeus, decretando-os católicos, cristãos novos, new christians, marranos, anusim (palavra hebraica significando os forçados).

 

D. Manuel então retira as crianças aos judeus. As crianças de idade menor aos 14 anos são arrancadas dos seus pais e distribuídas por famílias católicas com o fim de destruir a religião judaica. Mandou ainda, por volta de 700 crianças para S. Tomé, onde acabaram por morrer por não poder sobreviver às condições selvagens e hostis daquela ilha.

 

Há muitos cristãos velhos que, talvez seguindo o que Jesus Cristo pregava, recolheram e ajudaram as crianças, escondendo-as. Histórias horríveis!

 

Antes de 1497, dos 200 mil judeus em Portugal, tinham saído por volta de 5 mil.

 

Assim, não havia qualquer problema em Portugal! Os judeus nunca foram expulsos de Portugal como de Espanha! Todos em Portugal agora eram cristãos!

 

Todavia, a distinção entre cristãos novos e cristãos velhos continuou até à época do Marquês de Pombal. Mais tarde já no séc. XVIII, em 1773, este governante vem a decretar a queima dos livros judaicos.

 

Mas este interregno não foi um período glorioso da história de Portugal. Com a Inquisição, embora alguns tenham optado por ficar, houve muita gente que saiu do país, cristãos novos, intelectuais, inclusive professores de Coimbra. Coimbra, grande universidade fundada em 1290, no mesmo ano que Oxford. Uma grande universidade torna-se, durante este período, um lugar de perseguição. Queimam os grandes professores da Faculdade de Letras nos anos 1600. O António José da Silva, um grande dramaturgo, comparado com o Moliere da França, é queimado em Lisboa. Existe uma peça teatral de Bernardo Santareno, já em vídeo, que se chama “O Judeu” sobre esta ilustre personagem, e que se pode adquirir no Museu Judeu de Nova Iorque, e Lisboa do ano 1730. Não me quero alongar muito sobre esta parte da história.

 

Voltando um pouco atrás, D. Manuel promete não abrir qualquer inquérito sobre os judeus convertidos durante 20 anos. “Não queremos saber o que fazem dentro de vossas casas.” Assim, os judeus puderam continuar a praticar a sua fé na privacidade dos seus lares.

 

Durante este período, muito embora a Inquisição estivesse activa na vizinha Espanha, só retoma a sua actividade em Portugal em 1557, havendo assim uma diferença de cerca de 20 anos entre a acção da Inquisição na Espanha e em Portugal.

 

Há muitos que dizem que o sucesso dos Descobrimento se deve ao envolvimento dos judeus. Em Portugal hoje, no Monumento aos Descobrimentos, não existe nada a dar crédito ao contributo dos judeus. O piloto Magalhães era Esteves, um judeu do Porto. As cartas astrónomas que Vasco da Gama utilizou eram da autoria de Abraão Zacuto, um judeu. O Infante D. Henrique recrutou os judeus para o seu projecto em Sagres, matemáticos, astrónomos. Eram as pessoas com mais estudos da Europa. Isto tem de ser reconhecido. Até à presente data, tal não sucedeu, muito embora o Dr. Mário Soares tenha sido o primeiro líder europeu a pedir desculpas pelo que Portugal fez aos judeus portugueses.

 

Mas agora quero falar um pouco sobre para onde os portugueses foram, para onde a diáspora foi e de como os portugueses chegaram ao Canadá.

 

Em certos períodos em Portugal, os reis decretavam que ora os judeus podiam sair, ora não podiam. Os judeus mais ricos fugiram, saíram porque controlavam o comércio marítimo. Possuíam navios. Eram também pessoas de negócios. Por conseguinte, estabeleceram-se grandes comunidades na Bélgica e na Holanda. As províncias dos Países Baixos, dos quais a Holanda fazia parte, tinham estado envolvidas numa guerra de 80 anos com a Espanha, a qual finalmente venceram, tornando-se independentes por volta de 1583 e onde houve liberdade religiosa. Logo que isto ocorreu, os judeus portugueses fogem, primeiro para Antuérpia e depois para a Holanda. (Hoje existe na Holanda uma lindíssima sinagoga portuguesa construída em 1670 que, se alguma vez visitarem a Holanda e Amesterdão, aconselho a ver.)

 

Amesterdão torna-se um centro intelectual português. O Baruch Espinoza, um dos maiores filósofos de todo os tempos, era filho de pais portugueses. Menasseh Ben Israel, nascido na Madeira como Manuel Dias Soeira. Quando os judeus saíam de Portugal tomavam nomes bíblicos com Abraão, Jacob, e assim chegou à Holanda o Menasseh Ben Israel, o homem que convenceu em 1683 o Cromwell da Inglaterra a aceitar os judeus, pois estes tinham sido expulsos de Inglaterra em 1290. Funda a sinagoga Bevis Marks. Assim, a primeira sinagoga da Inglaterra é de origem portuguesa, isto é, uma congregação luso-espanhola, enquanto a sinagoga de Amesterdão é portuguesa.

 

Os portugueses vão também para a cidade de Hamburgo na Alemanha, Dinamarca, Veneza, e Langhorn, fundando comunidades portuguesas que controlavam o comércio marítimo. De Amesterdão seguem para o Brasil porque entretanto a Holanda conquista Baía e mais tarde o Recife no norte do Brasil. Mas em 1653, Portugal retoma Recife e ordena a saída dos judeus. Cinco mil judeus portugueses tiveram de abandonar aquela terra em 16 barcos. Um destes foi instrumental na dispersão dos judeus pelas Caraíbas. Existem judeus em todas as ilhas das Caraíbas.

 

A sinagoga mais antiga da América do Norte, a do Curaçau, é portuguesa. Um dos barcos a que atrás me referia perde-se na viagem. É capturado por um barco espanhol. Já a caminho da Espanha, são salvos por um navio francês. Estes 23 judeus desembarcam em Nova Iorque em 1653, acabando por fundar uma sinagoga luso-espanhola nesta cidade, a mais antiga da América, e que ainda existe hoje. Mais tarde fundam uma outra sinagoga em Newport, Rhode Island, também esta ainda existente. O George Washington chegou a colaborar muito com esta última congregação. Muitos judeus portugueses foram pessoas ilustres, coronéis no exército, embaixadores, todos portugueses! Seixas, Mendes, Nunes, Peixoto, Henriques. Vemos esses nomes todos.

 

Vão para o interior e ingressam no comércio de peles com os índios. O ano de 1720 vê-los no Vale do Ohio. Judeus com Abraão de Leon e Henriques começam a negociar com os índios e, finalmente, chegam ao Canadá à Nova Scotia, Newfoundland e Montreal.

 

Dos judeus portugueses que não vieram para a América do Norte, diz-se que hoje, à volta de 30 milhões de brasileiros são de origem judaica. Diz-se que quase todos os portugueses têm uma costela judaica. Todos sabemos que os nomes de flores e plantas são de raiz judaica. Existe este mito. E até talvez seja verdade. Confesso que não sei.

 

Mas alguns judeus portugueses foram para as cidades de Baiona e Bordéus na França. Os que se dirigiram para Baiona, aí estabeleceram-se como comerciantes. Porque em 1550 a França, como outros países europeus como a Dinamarca, queriam os judeus portugueses porque eram bons comerciantes e tinham espírito aventureiro, tinham o espírito lusitano!

 

 Os judeus portugueses de Baiona começam a vir para a Nova França. Antes da existência do país Canadá tal como o conhecemos, havia a Nova França e as regiões controladas pelos ingleses. Antes da fundação do Canadá em 1867, havia guerra entre os franceses e os ingleses, tendo os ingleses derrotado os franceses em 1760 no Plains of Abraham. Lideraram os exércitos inglês e francês os Generais Wolfe e Montcalm, respectivamente.

 

O General Montcalm estava a ser fornecido pela família Gradis de Baiona, Lopes do Dubec, e os irmãos Raba de Bragança, que tinham armazéns no Quebeque e nas Caraíbas. O General Montcalm quase que morreu de fome porque o rei de França estava sem fundos. Era a família Gradis que tinha um contrato com o rei para fornecer  Montcalm e suas tropas. Tenho uma série de artigos interessantes de 1830 que falam sobre isto. A uma dada altura a família Gradis, que formara uma companhia, a Societé Canada, enviou 400 soldados e 23 navios com alimentos e armamento para apoiar as tropas do Montcalm. Foi essa vaga que trouxe os portugueses para Montreal em 1768. Passados dez anos, em 1778, estes fundam a sinagoga portuguesa de Montreal.

 

Temos aqui pessoas de Montreal. Antes de vir para Toronto, passei uns dias em Otava no Arquivo Nacional do Canadá a fazer alguma pesquisa. Quero agora ler um excerto de um artigo intitulado “Portuguese Congregation: To be submitted to members for final confirmation”. Este documento é datado de 1855 e tem como finalidade confirmar os estatutos da congregação fundada em 1778.

 

“Whereas by the act of the second session, second parliament it is enacted that persons of the Jewish faith calling themselves Portuguese Jews be inscribed and enacted in the manner…President, Treasurer, Secretary and three Trustees to remain in office and be known under the title of the Corporation of Portuguese Jews of Montreal…”

 

Precisam de mais provas that I am not a comedian!

 

This year is the anniversary of the Pedro da Silva, first letter carrier in Canada, in 1705, probably a Portuguese Jew. There is a Joseph da Silva mentioned in 1711 in Sach’s books on the History of the Portuguese Jews. The chief factor of the Hudson Bay Co. in 1739 is Fernando Jacob, employed at twelve pounds a year.

 

Este retorna à Inglaterra, à sinagoga Bevis Marks, que ainda existe hoje. Se alguma vez forem a Londres, podem visitá-la. É pequena. Entre os seus fundadores, encontram-se nomes como Mendes, Costa, Nunes, Henriques. É a sinagoga mais antiga da Inglaterra. Tive oportunidade de a conhecer pois vivi e estudei na Inglaterra.

 

Ainda no ano de 1760: “Was named chief factor for a period of five years at a salary of one hundred pounds.”

 

Existe muito material como este nos nossos arquivos. Espero que vos tenha elucidado um pouco e incentivado alguns de vós a interessarem-se por esta matéria, pois há ainda muito mais trabalho a fazer.

 

Na Segunda Guerra Mundial, também temos o nosso Schindler. Portugal tem o seu Schindler em Aristides Mendes Sousa, que o deputado António Cabral conhece, tendo falado de como a comunidade judaica está bem organizada na América, exercendo grande influência naquele país. Talvez nós possamos nos organizar assim, pois temos ainda aquela costela de judeu em nós!

 

Estas pessoas, perseguidas pela Inquisição, pais, filhos, queimados, torturados! Horrível. Mas quando saem do país, mantêm a língua portuguesa. O culto na sinagoga de Amesterdão manteve-se em português até 1850. A sinagoga de Montreal ensina o português até 1830. Em Nova Iorque cem anos, elaborando as suas actas e fazendo o seu culto em português. Eram patriotas. E se a nossa comunidade quer crescer e atrair os nossos jovens, temos que criar escolas portuguesas, bibliotecas portuguesas, não com a mão estendida a pedir apoios ao governo, mas apoiadas por nós próprios. Temos de dar mais importância à questão da educação. Temos de pedir apoios ao governo português. Estamos a ver o exemplo dos judeus portugueses que foram pessoas perseguidas que quiseram manter a sua identidade. O Dr. Elvino Sousa ontem afirmou que as pessoas devem se sentir bem com elas próprias. Devemos ter vergonha de ser português, como eu que vim para cá para o norte aos seis anos de idade? Não, devemos orgulhar-nos de sermos portugueses. Para isto, temos de conhecer a nossa literatura e a nossa história. Temos de ter centros culturais e o governo português tem de nos apoiar, se não a cultura morre.

 

Só quero agradecer a duas pessoas e terminar aqui o meu discurso. Uma delas está aqui presente e outra não, o meu pai, que não está presente, e a minha mãe, que está. Quero agradecer por, embora pobres, nunca me terem obrigado, ou ao meu irmão António que é advogado aqui em Toronto e à minha irmã Lina que é licenciada da York University, a desistir de ir à escola para pagar a casa. Obrigado.